(Contar do sonho dos fantasmas no hospital)
Depois de 5 anos de separação, fui passar uma semana na casa do meu pai. A casa dele tinha dois andares e era arquitetada em estilo japonês. E suas portas eram belas e as colunas vermelhas ligando paredes de papel davam o charme oriental.
Assim que entrei na casa, respirei um ar com cheiro de incenso e deixando as malas no canto da sala encontrei meu irmão mais novo sentado no chão mechendo em alguns gravetos.-Victor, cadê o nosso pai?
-Tá na cozinha. _ Ele respondeu sem nem olhar pra mim.
Passei pela sala de estar, que tinha uma TV na parede e um grande sofá marrom e fui entrando na casa. Quando vi o pai no balcão da cozinha tomando café com sua mulher, acenei e disse:
- Oi pai... quanto tempo.
- Oi filhona, que bom que você veio! _ Ele se aproximou me dando um abraço.
- Tudo bem com o senhor?
- Sim, e com você? Gostou da casa?
- Gostei... é bonita e grande.
- Era dos pais da Miwa.
- Oh, sim... da Miwa...
Miwa é minha madrasta, ela é de descendência japonesa e meu pai veio morar aqui no interior do Japão com ela. Meu pai sabe que eu não gosto dela, e sabe que eu odiei a traição dele. Mesmo assim, ainda tenta se fingir de pai pelo menos algumas vezes.
- Pai, onde eu vou dormir?
- Ah... deixa eu ver... você pode dormir no segundo andar! Você... você gosta de uma boa vista, né? A gente pode te deixar lá no quartinho. Só fazer uma limpeza é fica bom.
Miwa se aproximou por trás do meu pai, olhando feio pra mim e cochichou no ouvido dele. Vi a expressão dele mudar assim que Miwa disse aquilo, seja lá o que for, e ele está nervoso.
- hum... bem... Ester, por que não ajuda a sua madrasta a limpar o quarto?
Assim que ele diz isso, parecendo não ser o esperado pela madrasta, ela cruzou os braços e começou a cochichar outra vez pra ele. Que desgraça é essa? Eles parecem aquelas adolescentes ridículas que deixam os outros ansiosos com "segredinhos". Panacas! Não aguento mais enrolação.
- Não mesmo, pai. Prefiro arrumar sozinha do que... com certas companhias.
- Haha, tá vendo, Leo? Sua filha não quer minha presença. Que ela trabalhe sozinha limpando aquele quarto já que não quer minha ajuda. _ Fala a vagabunda, como se ela não quisesse isso.
- Miwa! - Ele se vira para falar com ela no canto.
Me cansei de papo ignorante com gente imbecil e subi para o quarto. Realmente não estava com uma cara boa. Aquele quarto parecia mais o "cafundó do Judas", não imaginava que passaria tanto tempo da minha vida limpando a imundice alheia.
Encontrei uma aranha grudada na janela do quarto e prendi ela numa caixa de papelão. Assim que tirei a teia, vi que a vista realmente não era tão ruim, tinha apenas mato e uma casa branca mais no fundo. Digo, não era tão ruim, porque na minha antiga cidade só tinha vista pra estrada e pra janela do vizinho, que por sinal tinha um terrível gosto musical.- Vontade de botar uma música pra limpar, mas não sei se minha madrastinha vai gostar...
Desci bem rápido lá em baixo, sem ser vista pela Miwa, que estava cozinhando e peguei uma caixa de som gigantesca da Tv dela e levei lá pra cima. Coloquei a caixa de som bem em cima da escrivaninha e coloquei no último volume.
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O Caderno dos Sonhos
EspiritualEste livro é a narração dos meus sonhos mais peculiares com sentidos e sentimentos nebulosos espalhados sem explicação. A narração é feita em primeira pessoa, onde eu descrevo as sensações e ações ao longo da experiência. A história é narrada d...