Fazia pouco mais de uma semana que havia me formado em Educação Física. Depois de quase oito anos na faculdade, rebolando com horários e trabalhos, consegui, finalmente, concluir minha graduação.
Nas aulas de Pilates que eu tanto gostava de ministrar, parecia outra pessoa, mais confiante e feliz. Não só por ter conquistado algo que era meu sonho, mas por ter uma família de verdade, os Destinados Moto Clube.
Jhenny e eu embarcamos de cabeça nessa loucura de manter o Moto Clube do Velho Quin, como gostava de ser chamado. Depois de uma semana nos mostrando o potencial do local e como sobreviver apenas estando à frente desse lugar, Velho Quin sumiu do mapa.
O Bar Destinados, um dos locais mais badalados dos finais de semana, era gerenciado por Henrique, que nos repassava um valor fixo por mês pelo aluguel do local, que era anexo a sede do Moto Clube.
Aprendi a pilotar uma moto, mudei meu jeito de vestir e minha residência para o galpão, que contava com mais de vinte quartos. Aos poucos, outras pessoas entraram nas nossas vidas e se tornaram membros e hoje, poderia dizer que tinha uma família, até mais sólida que a sanguínea.
Amava meus pais, mas suas insistências em querer ditar o que fazer da vida me desmotivava a manter contato.
São sete horas da manhã, paro minha moto Harley na frente do estúdio que trabalho e começo mais um dia. Hoje teria um paciente novo, um acidentado de moto há algumas semanas e hoje, está em fase de recuperação depois de sair do hospital.
— Bom dia Jô! — cumprimento a recepcionista e técnica de enfermagem que nos acompanha no local.
Sigo direto para o banheiro dos funcionários, troco minha calça jeans rasgada, blusa preta e colete por roupas confortáveis de ginástica. Meu corpo não era exuberante, mas pelas atividades que praticava, não deixava a desejar.
Quando volto para a sala de exercícios, encontro um homem e paraliso meus movimentos. Ele está em uma cadeira de rodas, carrancudo e acompanhando de uma senhora bem parecida com ele, provavelmente sua mãe. Era muito estranho como alguém de cabelos bagunçados, pele marcada de sol e ombros largos me deixaram estagnada.
Quem era ele?
— Daia, seu paciente chegou! — Jô me tira do transe estranho que estava e ambos olham para mim. Enquanto a senhora me encara com ternura, o homem me fita, com seus olhos castanhos, de forma acusatória.
O que eu fiz? Dessa vez, não foi culpa minha.
— Bom dia! — Dou meu maior sorriso, com a intenção de desmanchar a carranca do meu paciente, mas não vale de nada. — Vamos para minha sala, por favor.
Indico uma das salas que usamos para entrevista ou terapias particulares. A mulher ficou contagiada pela minha animação e mal entramos, ela começou a falar:
— Olá, Daia. Você foi muito recomendada por Tatiana, a fisioterapeuta do meu filho, Castiel. Ele sofreu um acidente na pista de corrida de moto, quebrou a perna em não sei quantos pedaços, precisou colocar aqueles ferros... — E assim ela contou tudo o que aconteceu e como, enquanto eu sentava na cadeira atrás da mesa e tentava acompanhar tudo. Às vezes, eu a interrompia e ela repetia.
Impossível não olhar de relance para Castiel, o anjo de semblante revoltoso sentado à minha frente. Pelo o que a mãe contou, ele tinha trinta anos, era independente e vivia a vida como sempre sonhou, mas um acidente mudou tudo, o fez depender de sua família e ficar refém de seu próprio corpo.
— Pronto para começar? — perguntei, assim que colhi todas as informações que precisava e olhei alguns exames que me trouxeram. A lesão foi grave, mas a cicatrização estava acontecendo conforme o desejado.
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Para o Amor Não Há Limites - Completo
ChickLitUma fisioterapeuta integrante do Destinados Moto Clube. Um homem amargurado por estar com os movimentos limitados por conta de um acidente. Um amor inusitado.