Capítulo 3

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Nervosa era apelido para o que estava sentindo nesse momento. Seguindo de moto para meu local de trabalho, apenas a expectativa de ver Castiel me fazia lembrar de nossa conversa à noite. Manter a compostura era a última coisa que tinha em mente, mas precisava focar e esquecer da minha atração. Acima de tudo, ele era meu cliente, paciente e dentro do meu local de trabalho, tudo deveria se manter distante.

Assim que parei minha moto na frente do estúdio, Jeremias estava parado na porta me observando e sorrindo. Corpulento e forte, ele o irmão de Jô e foi, por um tempo, um dos meus clientes para fortalecer os músculos do joelho, por conta de uma lesão.

— Como vai Jer! — falei já me lançando em um abraço reconfortante e ele, como sempre, me levantou como se não pesasse nada. — E esses joelhos, como estão?

— Estou ótimo e não preciso que você judie mais de mim. Só vim deixar minha irmã e resolvi te esperar para dar um oi antes de ir trabalhar.

— Tudo bem com você?

— Tudo sim. Bom trabalho!

Afastamo-nos, ele me deu um beijo no rosto em despedida e eu segui para o meu posto de trabalho. Troquei de roupa, respirei fundo e encontrei Castiel sentado nos bancos da recepção com uma muleta encostada ao seu lado. Seu cabelo estava bagunçado e seu olhando não encontrou o meu quando me aproximei.

— Olá, bom dia. — Meu coração parecia que ia sair pela boca. — Só veio você hoje?

— Sim — respondeu sucinto e pegou as muletas para se levantar. Fiz menção de ajudá-lo, mas ele visivelmente me ignorou quando se deslocou para o espaço onde faríamos os exercícios.

Olhei para Jô, que deu de ombros e observou Castiel se movimentar com dificuldade até o banco perto dos aparelhos.

Onde estava aquele paquerador de ontem à noite?

Com medo de ultrapassar algum limite, decidi bancar apenas a profissional e esquecer que existia uma enorme tensão entre nós. Ajudei-o a sentar na bola de pilates e comecei os exercícios fingindo que o toque da minha mão na sua pele não me deixava em chamas, ou quando os pelos do seu braço se arrepiava não satisfaziam.

Procurei seus olhos, ele não me deixou aproximar como eu queria e isso me deixou muito... chateada.

— Que bom que você está buscando usar as muletas ao invés de ficar apenas sentado na cadeira — falei quando estávamos no nosso último exercício. — Controle a respiração, pulmão primeiro, depois barriga.

— Não acho que valeu a pena. — Ele exalou com força, sem nenhum cuidado como eu expliquei e finalmente me encarou. — Desculpe se fui inconveniente ontem a noite nas mensagens. Só não acho que daremos certo.

Tirei minhas mãos do seu corpo, endireitei minha postura e coloquei minhas mãos na cintura, tentando decifrar o que esse homem estava querendo me dizer. Ele até voltou a fazer os exercícios, mas coloquei a mão no seu joelho e o observei da cabeça aos pés.

— Por que está me olhando assim? — perguntou desconfortável.

— Estou tentando ler nas entrelinhas. Silêncio. — Coloquei o indicador na minha boca e continuei reparando nas suas roupas, na sua postura corporal e no fundo dos seus olhos. Ele não desviou, parecia querer se desnudar para mim, porque não conseguia falar o que realmente queria.

Bem, iríamos resolver qualquer problema que ele tinha sobre duas rodas. Em silêncio, ajudei-o a concluir seus últimos exercícios e depois a seguir até a recepção.

— Jô, poderia remarcar meus pacientes de hoje? Estou em uma emergência.

— O que foi? — Tanto a secretária como Castiel perguntaram.

— Você, não saia daqui. — Apontei para ele. — E você, depois a gente conversa — falei piscando para Jô.

Segui para o banheiro dos funcionários para me trocar. Sim, iria levá-lo para um passeio comigo e sim duplamente, porque iria parar no bar Destinados e iríamos ter uma conversa séria, sobre nossa atração e nossas almas. De uma coisa eu tinha certeza, terminaríamos na cama ou cada um para um lado.

— Posso ser seu apoio por hoje? — perguntei quando o vi se levantar apoiado com a muleta.

— Ninguém deveria ser apoio de ninguém — ele falou amargurado e saiu andando sem me responder. Sabia que tinha algo mais profundo que o mexeu para recuar na sua paquera, mas não que fosse nesse nível dele ser menos que eu.

— Não por uma vida, concordo. — Dei passos até chegar na sua frente, removi uma muleta debaixo do seu braço e encostei na parede. Tentei passar toda a minha confiança e carinho para que ele pudesse se sentir bem comigo. — Mas em alguns momentos... é por saber que temos com quem contar e também nos sentir útil em ajudar.

Coloquei seu braço envolva do meu ombro, envolvi sua cintura e olhei por cima do meu ombro.

— Jô, guarda essas muletas para mim, mais tarde eu pego. — Virei meu rosto para ele, que fez o mesmo e quase compartilhamos nossas respirações. Ele era um pouco mais alto que eu e para beijar, a posição estava perfeita.

— Você é linda, não precisa de um fardo como meu para carregar e sim ser carregada.

Ah, como eu queria beijar sua boca, roubar seu fôlego e lhe dar algumas palmadas nessa bunda para ver se ele entrava na mesma sintonia que a minha.

— As coisas que pretendo fazer com você não necessariamente precisa que você me carregue — falei baixo, olhei para frente e segui em frente, tentando ignorar o calor que comecei a sentir ao tê-lo tão perto.

Chegamos na minha moto, guardei minha bolsa no alforje e o ajudei a montar.

— Será que sua mãe ainda quer me matar?

— Digamos que ela não sabe que estou onde estou — respondeu com o primeiro sorriso de hoje. Montei e senti seus braços me envolverem. — Caralho, como eu amo estar em cima de uma moto.

E eu ter você comigo, minha mente respondeu, mas logo balancei minha cabeça, dei partida e ganhei as ruas. Não dava para me entregar dessa forma sem antes colocar alguns pingos nos "is". Eu o queria, ele me queria, mas precisávamos melhorar nossa comunicação, principalmente quando ele encontrava esse lado obscuro da auto depreciação e não explicava o real motivo.

Não dei voltas, fui direto para a sede do Moto Clube, mas parei na frente do bar, que nesse horário estava fechado, porém, o dono sempre se mantinha enclausurado ali e não negaria que eu usasse o espaço para um pouco de... romance.

— Um bar? — ele perguntou assim que parei a moto e suspirei, buscando equilíbrio para não o atacar antes de conversar.

— Sou uma destinada e apesar do bar estar dentro da sede, não é nosso.

— E está aberto?

Saí da moto e o ajudei a ficar de pé e seguir caminhando até a porta lateral.

— Não, mas para mim o dono sempre faz uma exceção.

Ele ficou silencioso e olhei de canto de olho apenas para conferir sua feição um tanto desgostosa. Ah, Castiel, para estar comigo você teria que abrir mão do seu ego e também de algumas ideologias machistas enraizadas dentro de você.

Para o Amor Não Há Limites - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora