Capítulo 2

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— O que você fez lá fora? — Jô perguntou e apenas dei de ombros quando guardei as chaves da moto e me recostei na mesa da recepção.

— Considero como parte do tratamento. Não sou fisioterapeuta ou psicóloga, mas sou motociclista e sabia muito bem o que ele estava sentindo.

— Você acha que ele vai voltar?

Virei meu corpo inteiro em sua direção, coloquei as mãos em cima da mesa e sorri como uma pessoa que sabia de tudo nessa vida.

— Pode apostar que fiz uma boa impressão.

Voltei para a sala de exercícios coletivos e fiquei auxiliando minhas colegas até que meu próximo paciente chegasse. Meu corpo ainda sentia o calor do seu toque e minha mente brilhava o seu sorriso. A sua última fala me impressionou, com certeza ele havia conseguido um atalho para o meu coração, mas, diferente de como eu me portava, não sabia de tudo e a chance de nunca mais o vê-lo me deixou triste.

Com pensamentos na lua o meu dia passou e nem vi. Quando meu turno acabou e fui recolher minhas coisas para trocar de roupa e ir para casa, vi na minha agenda o número de celular do meu paciente e as anotações que fiz sobre o seu caso.

Nesse momento, a dúvida me atingiu não por não ser capaz de dar o primeiro passo quando se referia a um homem, mas porque ele era meu paciente e havia uma ética envolvida.

Até que eu resolvesse o que fazer, anotei o seu número no meu celular, voltei a vestir minhas roupas de Destinada e segui pelas ruas acompanhada do brilho da lua e o cheiro de seu cabelo que ficou impregnado no meu capacete.

Seria uma tortura por ter ultrapassado algum limite?

Entrei no estacionamento da sede do Moto Clube, desmontei e segui para a porta da sala e cozinha, que era longe da entrada do bar e de todo o barulho que lá tinha.

Jhenny estava sentada no sofá, comendo pipoca e assistindo show musicais que tanto é viciada. Ela ainda iria casar com um roqueiro ou sertanejo, essa mulher era muito eclética.

— Boa noite irmã, como está? — cumprimentei ao sentar ao seu lado e começar a roubar pipoca do seu pote.

— Tudo em paz, na mesma. — Ela colocou a mão ao seu lado e me entregou um caderno. — Achei o diário do Velho Quin na minha arrumação semanal. Pelo visto, ele usava o meu quarto e tinha vários compartimentos secretos.

— Como assim? — perguntei sem esperar a resposta, minha atenção na capa daquele caderno e o que estava escondido nele. — Será que finalmente vamos descobrir o motivo dele nos entregar o Moto Clube sem mais nem menos?

— Acho que o verdadeiro mistério é... por que aceitamos sem mais nem menos, não é mesmo? — Ela sorriu para mim e voltou sua atenção para a televisão. — E como foi seu dia Daia?

— Eu recebi uma proposta de casamento. — Deixei o diário no meu colo e relembrei meu passeio de moto com Castiel.

— Como assim? — Ela engasgou com a pipoca e bati em suas costas rindo do seu espanto.

— Foi apenas força de expressão do meu paciente. Ele é bonito, motociclista e parecia ter perdido as esperanças na vida, mas eu fiz meu papel e inverti essa situação.

— Pretende fazer um convite para sair?

— Ou apenas perder minha credibilidade como instrutora de Pilates.

— Não exagere, é apenas um homem adulto se relacionando com uma mulher adulta. — Ela me olha e arregala os olhos. — Ele é de maior, certo?

— Apesar de estar acompanhado da mãe, sim, ele é de maior — respondi divertida e senti meu celular vibrar no bolso do meu colete.

Castiel>> Olá, tudo bem? Sou Castiel, o seu futuro marido. Gostaria de confirmar minha sessão amanhã.

Com a boca aberta em choque, mostrei a tela do celular para Jhenny, que também refletiu minha ação.

— E você com medo de ser antiética.

— E agora?

— Se joga! — Ela empurra meu ombro com o dela e se levanta do sofá. — Vou fazer um jantar light para nós, aceita?

— Light como hambúrguer e batatas fritas?

— Exatamente! — Ela piscou e saiu para a cozinha.

— Aceito, porque estou de regime! — brinquei e voltei minha atenção para o celular.

Daia>> Sessão confirmada para o primeiro horário amanhã. Espero que sua mãe não queira me matar ou processar pelo que fiz hoje.

Castiel>> Confesso que você perdeu alguns pontos com sua sogra, mas também ganhou outros. Ela disse que depois de hoje eu mudei...

Daia>> Meu Deus, você está falando sério mesmo sobre o casamento comigo?

Castiel>> Eu nunca falo nada da boca para fora. Mas fique despreocupada, eu sou um ótimo partido.

Ri alto, a ousadia desse homem nada se parecia com o retraído e rabugento de hoje de manhã.

Daia>> Realmente você mudou. Achei que teria que lidar com o mal-humorado de hoje mais cedo.

Castiel>> Nada que um passeio de moto não mude algumas perspectivas errôneas de vida. Estar sobre duas rodas é minha vida. A competição e adrenalina do motocross era o que dava sentido a minha vida. Sua Harley me fez mudar alguns conceitos...

Daia>> Só a Harley? Isso é fácil de resolver, só trocar de categoria.

Sorri diabólica, porque iria me fazer de difícil apenas por agora. Esse homem me atraiu de maneira singular, com seu jeito espontâneo e agora, pelo seu senso de humor.

Castiel>> O piloto faz toda a diferença. Nenhuma moto se igualará ao passeio com você me guiando. Mas meu objetivo mudou. Antes eu queria voltar a pilotar uma moto de motocross, agora eu só quero poder guiar com você na minha garupa. Um passo de cada vez...

Daia>> Que tal começar com um lanche ou um barzinho no final do dia?

Ele demorou para responder e enquanto isso, meu coração acelerou como um motor de moto.

— E aí, avanços? — Jhenny perguntou da cozinha e eu apenas levantei minha mão com o polegar para cima. — Quero ler tudo, inclusive se tiver nudes envolvidos.

— Jhenny! — reclamei enquanto olhava a tela do celular.

— Não custava nada perguntar. A janta está quase pronta.

Castiel>> Adoraria te ver em o âmbito profissional estar envolvido. Tem alguma sugestão?

Solto o ar com força e sorrio. Ótimo, ele topou, agora vamos para a próxima etapa.

Daia>> Conhece o Bar Destinados?

Castiel>> Não, mas será um enorme prazer ter minha primeira vez com você.

Daia>> Céus, você não perde a oportunidade para me cantar.

Castiel>> Pode ter certeza que também não perderei a oportunidade para te beijar. Boa noite Daia.

Eu queria dizer mais alguma coisa, expressar pelo menos 5% do que meu coração e minhas terminações estavam sentido ao ler essas promessas. Porém, mantive a compostura e apenas me despedi.

Daia>> Até amanhã, anjo Castiel. 

Para o Amor Não Há Limites - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora