Feel (2)

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Will não sabia que existia um estacionamento tão perto do prédio do consultório, muito menos um corredor coberto que levava até ele.

De mãos dadas com o perfilador, o médico o guiou até onde seu sedã estava parado, perto, pressionou o botão para destravar as portas, a abriu  a do passageiro e apontou em um gesto cortês para que o rapaz mais novo entrasse.

Graham olhou para a mão com as unhas perfeitamente manicuradas com o punho coberto pela camisa e a protuberância do relógio caro por baixo dela, olhou para o rosto com a barba aparada e cabelos um pouco bagunçados, lembrete dos momentos no andar superior.

"Evitar o perigo não é, a longo prazo, tão seguro quanto expor-se ao perigo. A vida é uma aventura ousada ou, então, não é nada."

Os olhos gentis do psiquiatra estavam voltados para o mais novo, sem oferecer perigo, aparentemente, o que não impediu que os instintos de Will ficassem em alerta.

Os olhos são o espelho da alma, e os castanhos de Hannibal escondia muito por baixo da expressão calma e inofensiva.

Os olhos de um caçador.

O rapaz entrou no carro, e a porta foi fechada.

Hannibal fechou a porta ao seu lado, apertou um dos botões do painel e colocou a chave na ignição, o carro ligou ao mesmo que o portão metros atrás, se abriu.

Há algo de fascinante sobre a chuva no meio da noite, quanto mais novo, Hannibal leu um livro mítico que contava a história de dois amantes que se encontram em meio uma tempestade e morreram no final em um tom shakespeariano, mas gostava da prosa usada, desde então, ficou pensativo, curioso sobre a chuva, pequeno, lembrava de sentir o cheiro da terra molhada na terra onde nasceu, uma lembrança reconfortante, embora jurasse nunca mais voltar lá.

Estava chovendo assim três semanas atrás quando seguiu o funcionário do seguro médico, sujeito grosso sem modos.

O jantar aquela noite foi um delicio fígado de gado com vinho tinto, com o proveniente encontro dois dias mais tarde com Will em seu consultório intrigado sobre mais uma morte causa pelo estripador Chesapeake e a forma que deixou o corpo, esculpido em uma árvore com lírios dentro de seu tronco aberto.

Um belíssimo trabalho manual, tinha que admitir.

Mas voltando ao contemplar da chuva, existia uma aura mística, algo tão nítido para ser contado e ao mesmo tempo escondido, uma profecia, os antigos acreditavam que a chuva era lágrimas de anjos, outros, benção dos deuses, cada mitologia com suas crenças.

E, para o psiquiatra, era quase um grito libertador.

Caçadas na chuva, a água caindo em cima de seu corpo como um manto, o rubro escarlate se misturando a água límpida, o cheiro do ferro com o de terra molhada, adorava esse cheiro.

Aí está algo sobre a chuva que é quase universal.

Não importa onde esteja, sempre terá o mesmo cheiro de terra molhada.

— Perdido em pensamentos?

Will resolve dizer, não é de puxar conversa, mas, não pode notar a forma que o homem ao seu lado pareceu viajar para um plano menos molhado.

— Apenas concentrado, não queremos sofrer um acidente. — Sutil, Hannibal respondeu olhando de sobre salto para o rapaz ao seu lado com seus magníficos olhos azuis.

O barulho da chuva contra a lataria e vidros do carro se tornou o único presente entre os dois transformado em trilha sonora para tensão no ar.

O mexer nervoso da perna de Will dizia muito sobre ele. Impaciente, ansioso e nervoso, tudo concentrado em mexer leve da perna do ômega, tudo concentrado em uma único ato, sutil, o centro da atenção do mais velho, sua pressa estava nervosa, e uma pressa inquieta era mais suscetível para o bote.

HURRICANE - HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora