"Vê se vai, sem voltar. Não olha pra trás, tem gente que começa só depois do fim. "
EVA
Sorrio ao me olhar no espelho, soltando meus cabelos para trás, sentindo os fios macios tocarem na minha pele, até a cintura. A luz do sol refletia nele, mostrando o quão brilhoso estava a maciez e não contendo o tamanho do sorriso que se formou em meus lábios. Aliso lentamente com as palmas das mãos o vestido azul bebê, com alguns detalhes floridos branco com azul mais escuro, calço a rasteirinha também com detalhes floridos sorrindo. Meus dedos tocam no potinho de remédio, levando dois a boca, os engolindo com auxílio da água que fica na minha cômoda já para isso mesmo.
O cheiro de bolo de chocolate tomou conta de todo o ar, o sorriso que já estava sob meu rosto, se alargou ainda mais em uma ansiedade batendo no meu peito, com o coração palpitando vindo instantaneamente na minha cabeça a imagem da caldinha de chocolate, com granulado por cima que minha avó sempre faz... eu amo tanto, gosto tanto que sempre que sinto o cheiro parece que agita cinco crianças dentro de mim...
- Eva, minha filha.. desce aqui. - brada, calmamente, jogo o cabelo para trás novamente saindo quase que correndo para a cozinha. - Tem um homem te procurando, quem é em Eva? - semicerra os olhos para mim, com a boca em uma linha fina, a colher com calda de chocolate permanece apontada pra mim.
Ergo as sobrancelhas em confusão, olhando para a minha avó que mantém os olhos semicerrados pra mim.
- Não sei vovó. - levo a mão ao rosto, alisando minha própria bochecha com o polegar. - Queria o que? - pergunto, olhando para o bolo quase pronto na mesa, o cheiro tão gostoso, dando a plena vontade de comer ele diretamente.. assim, sem cortar.
- Deixou a sacola pra você. - mantém os olhos semicerrados pra mim, voltando a confeitar o bolo da forma que ela sabe que eu gosto.
Amo meus avós e não viveria sem, o carinho, afeto. Colo. Tudo, a criação maravilhosa que eles me deram me fizeram eu me tornar quem sou hoje em dia e mesmo com esse diagnóstico não fez mudar nada.
Ainda amo o carinho deles, os abraços.
Sorrio pra ela toda séria, vendo a sacola branca exposta na bancada com um papelzinho torto grudado, a letra de longe estava dando para perceber que é um garrancho, a escrita totalmente torta e descendo cada vez mais. Estico as mãos, puxando a sacola pela alça, a subindo mediamente aos meus olhos, não enxergando nada suspeito, a ponho novamente sob a bancada abrindo as sacolas duplas. Não contendo o sorriso imenso que se formou ao meu rosto e lábios, quando meu olhar bateu certeiramente no pote de sorvete sabor algodão doce, escrito grandemente a cor rosa de canetão preto e ao lado da embalagem um outro bilhete com a seguinte frase: " pote pequeno, pistache "
Olho pra minha avó que já não estava na cozinha, dando pulinhos de alegria na cozinha mesmo, os levando para o congelador. Puxo novamente, desta vez o bilhetinho torto e mal cortado preso na sacola, o subindo para meus olhos.
" Sei pra que não, mais é pra tu, pequena Eva. "
Dou risada, passando a mão no rosto, enquanto releio o papelzinho novamente, a letra estava me incomodando mas foi fofo. Até porque nunca imaginei um gesto fofo dele... se bem que com o presente, será que agora somos amigos?
Viro o papelzinho, vendo um pequena letrinha ali.
" aceito ser teu amigo. " escrito de forma errada, mas sorri de orelha a orelha, não conseguindo esperar a hora de vê-lo novamente.
MATARAZZO.
- Tu mandou sorvete pra Eva? - Dominó murmura, alto, com o celular virado pro meu rosto, com um sorriso de canto a canto. - Tá, tá zoando Mata?
- Uhum. - passo a língua nos lábios, semicerrando os olhos pra ele, o maior fofoqueiro. A parada é que só contei pra ele porque o maluco era o único disponível e eu mermo estava precisando contar, Baronesa não pisa aqui na favela desde o dia da sorveteria então era só caô pro meu lado.
- Caralho, essa é nova. - se levanta, rindo pra caralho. - Ta gostando da problematiquinha lá da boleira, porra. - ri de novo. - Esqueceu a vagabunda da Ali. - para de falar, assim que encaro seu rosto sério, com a glock apontada pro seu rosto em um gesto só. - Foi mal, tô feliz por você.
- Amizade. - falo grosso, cortando o assunto.
Falar da Alina é mexer com a pior parte que tem dentro de mim, na moral. A morte dela ainda não entrou na minha cabeça e nem vai, por culpa minha. Estar deixando a pequena Eva entrar está sendo traição com a Alina é ruim pra ela.
- A garota está aí na porta, procurando por você. - a voz da baronesa ecoa, com o dominó saindo da sala e ela com a cara séria. - Já sei porque está grudado nela, porque ela lembra a Alina, mas eu te digo uma coisa, se acha que vai ficar com ela pra preencher o vazio que sente por ter matado a minha irmã, isso não vai rolar, está ouvido Matarazzo? - aponta o dedo no meu rosto, mantenho o rosto sem expressão, deixando fixo no seu olhar. - Ela é parecida mais nunca será ela, nunca! Quer você queira ou não, o certo era você ter ido no lugar dela e não ela. Você destrói tudo que toca, e vai destruir essa garota, mais uma família que vai chorar com o culpado sendo você! Mas dessa vez, quem dará fim nela sou eu, escuta o que estou te falando, agora sai daqui, vai embora.
Sua voz de choro com os olhos cheios de lágrimas não me comovem, apenas movimento meus passos saindo da sala com a fala dela ecoando na minha mente, como se fosse um buraco vazio aonde somente existe seu rosto e as falas repetidas sem nenhum pudor.
" assassino. "
" ela nunca será ela. "
" ela morreu por tua causa "
" você vai destruir ela, destruir mais uma família. "Passo ela porta segurando a glock com força, passando pela Eva, ouvindo somente um barulho que não me dei o trabalho de nem me virar pra ver.
" Mais uma família vai chorar sendo que o culpado é você. "
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Baile da Colômbia
FanficTu foi feita pra mim, meu fruto, minha perdição, eu não queria ninguém, até tu chegar com esses olhinhos que transmitem pureza, me fazendo afogar em tu, toda vez que seus dedos me tocam, Eva.