"Aposto que você pensou que eu estava morto
Mas eu não estou morto, não estou morto
Mais forte, mais forte, eterno
Mais alto, mais rápido, sem travar
Aposto que você não achou que eu voltaria à vida
Mais forte"
— The Score
Rhiannon
As palavras da criatura pairavam no ar, impregnando o ambiente com um medo palpável. Mantive-me imóvel por alguns segundos. Tinha a impressão de que o simples ato de respirar pudesse desencadear uma serie de acontecimentos catastróficos, porque diante de nós, emergindo das sombras, estava a Scioventus.
Seus olhos eram um abismo, poços de escuridão que pareciam devorar qualquer luz. Sua pele era translúcida, esticada de forma assustadora sobre uma estrutura óssea fina e alongada, com protuberâncias que lembravam garras afiadas nas extremidades dos dedos. As sombras ao seu redor se moviam como se fossem parte de seu corpo, retorcidas, sempre em movimento, e seu rosto, ou o que deveria ser seu rosto, parecia uma máscara distorcida, com traços de um sorriso macabro que se formava nos lábios finos e sem cor. Um véu negro flutuava ao redor de seu corpo, embora não houvesse vento, apenas a presença gelada da morte.
A criatura se inclinou levemente para a frente, seu olhar fixo em nós enquanto sua voz gutural soou parecendo vir de todos os lugares ao mesmo tempo, reverberando no ambiente com um eco fantasmagórico que arrepiava cada centímetro da minha pele:
— O que os traz aqui? — sussurrou, mas o som da sua voz ecoava de forma sobrenatural. — Dizei-me, feéricos, em que posso ajudá-los?
Cedric, hesitante, deu um passo à frente. Mesmo que a presença da criatura fosse avassaladora, ele sabia que recuar agora seria inútil.
— Viemos em busca de informações... sobre um amuleto. — Ele tentou manter a voz firme, mas as palavras tremiam ligeiramente em seus lábios.
O sorriso da Scioventus se alargou, expondo uma fileira de dentes afiados e desiguais, algo entre o humano e o monstruoso.
— Isso eu já sei, criança... — sibilou ela, inclinando-se ainda mais. — Mas não foi esse meu inquirimento. — A voz ficou mais fria. — Questiono-os sobre o que fazem em Umbralia, não neste cemitério miserável. Encontram-se muito distantes de suas terras.
Um silêncio tenso caiu sobre o ambiente. Cedric olhou para mim, seus olhos implorando por algum tipo de resposta. Mas antes que ele pudesse abrir a boca novamente, eu tomei a frente.
— Não responda, Cedric. — Posicionei meu braço pouco a frente de seu corpo sinalizando para que ele se mantivesse calado. — Ela sabe o que estamos fazendo aqui, não precisa perguntar.
A criatura se aproximou, seus passos lentos e arrastados ecoando na escuridão ao redor. Quando ela falou de novo, a frieza em sua voz se misturava com uma curiosidade palpável.
— Nem tudo está ao meu alcance, pequena mestiça. — O tom era quase provocador, como se estivesse brincando com o fato de que eu sabia mais do que aparentava. — Eu vejo muito, sim, mas o mundo é vasto demais até para mim. Nem todas as respostas estão escritas nas sombras. Porém, você é perspicaz... talvez mais do que o necessário para alguém que ainda deseja viver.
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Caminhando Em Direção Às Sombras
FantasyEm um reino antigo, onde clãs competem por território e poder, Rhiannon, filha de líderes de clãs distintos, vê sua vida virar ruínas quando sua família é brutalmente assassinada durante uma guerra que visava exterminar povos considerados uma ameaça...