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Às oito horas em ponto da manhã, Harry foi despertado bruscamente pela intensa luminosidade do sol. Os raios invadiram impiedosamente o quarto através das cortinas entreabertas, acariciando seu rosto corado. Contrariado consigo mesmo por ter esquecido de fechar as persianas na noite anterior, o ômega resmungou baixinho, lamentando o despertar precoce em pleno sábado. Com um suspiro cansado, ele se ergueu na cama, esfregando os olhos inchados pelo sono profundo, e se esticou preguiçosamente, tentando afastar o cansaço da noite mal dormida.

Um sorriso radiante iluminou o rosto do ômega enquanto risadinhas melodiosas e pequenos passos foram ouvidos pelo corredor. E então, suaves batidas ritmadas na porta ecoaram pelo cômodo.

— Mamãe? Você acordou? — O ômega identificou ser a voz de Matteo.

— Se ele estiver dormindo, não vai responder. Sua mula. — Esbravejou Henri, retrucando o irmão de maneira implicante.

Desconsiderando completamente Henri e sua presença irritante, Matteo bufou exasperado e, com um gesto firme, bateu na porta uma vez mais.

— Mamãe, eu sei que acordou. Podemos entrar?

Harry revirou os olhos, achando adorável e mal conseguindo conter uma risadinha diante do comportamento matinal travesso de seus filhotes. O cacheado se desvencilhou dos lençóis de seda, sentindo o toque suave do tecido deslizando pelos seus pés até tocarem o chão frio. Com um bocejo, ele deslizou seus pés para dentro das pantufas felpudas e dirigiu-se com passos sonolentos até a poltrona no canto do quarto, onde seu robe estava elegantemente pendurado. Cuidadosamente, deslizou o tecido suave sobre a pele, apreciando a sensação reconfortante que o envolveu. Em seguida, o ômega se direcionou até a porta, pronto para abri-la e dar bom dia aos seus filhotes arteiros.

Quando o cacheado abriu a porta, um rangido suave ecoou pelo corredor, e seus olhos verdes se iluminaram ao se deparar com a cena encantadora à sua frente. Dois pares de olhos azuis, como safiras cintilantes, brilhavam com uma animação contagiante, fixos nele.

— Bom dia, mamãe. — Disseram os pequenos alfas, em uníssono. Ambos sorrindo para o mais alto.

Deus. Harry adorava a ideia de ser mãe solo, apesar de todas as dificuldades que enfrentou durante a gestação. Afinal, o ômega engravidou inesperadamente em uma festa enquanto ainda cursava administração na faculdade. O alfa com quem passou a noite não era realmente seu namorado. Na verdade, Styles mal o conhecia. Ele o tinha visto ocasionalmente pelos corredores da faculdade, mas nunca haviam trocado uma palavra sequer até aquela noite inesperada em que compartilharam momentos juntos. A sua jornada como mãe começou inesperadamente, mas estava determinado a enfrentar todos os desafios que o esperavam com coragem e amor incondicional.

Dois meses após a bendita festa, o ômega começou a sentir enjoos e tonturas persistentes, além disso, qualquer alimento ingerido era rejeitado por seu estômago, enquanto cheiros intensos o deixavam nauseado. Inicialmente, não deu muita importância, presumindo ser apenas os primeiros sinais de seu próximo cio ou talvez algum tipo de virose passageira. Afinal, ele e o alfa haviam usado proteção, no entanto, à medida que os dias passavam, seus sintomas persistiam, desencadeando uma inquietação na mente do ômega.

E se?

Numa noite tediosa, o ômega sentiu a inquietação o dominar por completo, e então, decidiu caminhar até a farmácia mais próxima, onde comprou um teste de gravidez. Ao retornar para casa, impulsionado apenas pelo desejo de aliviar sua consciência, realizou o teste, sem grandes expectativas, até que o resultado surpreendente se revelou diante de seus olhos:

Positivo.

Sua primeira reação foi entrar em desespero, o ômega era sozinho e não havia para quem contar. Harry era filho único e seus pais haviam morrido há alguns anos em um acidente de carro, além disso, ele também não tinha amigos próximos. Ao contar a notícia para o pai do filhote, o alfa demonstrou uma postura rude e descrente, rejeitando qualquer responsabilidade e deixando claro que não desejava ter um filhote. Essa atitude machucou profundamente o cacheado, que se viu sem qualquer orientação. Ele ficou chateado, é claro, não tinha a mínima ideia do que fazer em diante, mas não podia deixar isso o afetar. Afinal, ele tinha um filhotinho em seu ventre que precisava dele, e ele ia ser a melhor mamãe de todos os tempos. Com ou sem um alfa idiota.

Passou-se algum tempo até que, durante uma consulta com o obstetra, Harry recebeu a surpreendente notícia de que não esperava apenas um, mas sim dois bebês. Embora o medo de enfrentar a responsabilidade de cuidar deles sozinho fosse palpável, a felicidade transbordava em seu coração. Ele seria mamãe de dois filhotes. Dois bebezinhos cresciam dentro dele. Dois bebezinhos para amar e cuidar. A cada batida de seu coração, ele sabia que teria o dobro do amor para dar, o dobro das risadas e das alegrias que a maternidade traz consigo. Céus, o ômega estava nas nuvens. O impacto dessa descoberta foi como uma tempestade que virou sua vida de cabeça para baixo. Aquele dia com certeza foi o melhor de toda a sua vida, e lá estava ele, mamãe de pequenos alfinhas que há pouco tempo haviam completado 6 anos e dono de duas empresas que seus pais haviam deixado para ele quando faleceram.

— Bom dia, pulguinhas da mamãe. Estão fazendo o que acordados à essa hora? — disse Harry, sorrindo enquanto se agachava para alcançar a altura dos filhotes. Com carinho, ele depositou um demorado beijo na testa de cada um deles, sentindo o calor reconfortante de suas peles macias.

Matteo, um dos filhotes, deixou escapar um suspiro e, com um leve gesto, passou a mãozinha pela barriguinha, destacando ainda mais sua fala:

— Tô' com fome!

Foi a vez de Henri manifestar-se, projetando um biquinho falso nos lábios rechonchudos.

— É! eu quero torrada, mamãe. Por favor, minha barriga está com um buraco enooorme!

— Tudo bem, vão indo para a cozinha. Vou me vestir e escovar os dentes, já desço. — Disse o ômega, sorrindo de forma acolhedora para os filhotes dramáticos a sua frente antes de retornar ao quarto.

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Os filhotes estavam sentados à mesa de mármore onde a luz suave da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, criando um ambiente acolhedor enquanto ambos, com suas pequenas mãos sujas de xarope, seguravam garfinhos ao que saboreavam as panquecas deliciosas que, segundo eles, só a mamãe sabia fazer. Harry, com um leve sorriso no rosto, estava apoiado no balcão da ampla cozinha, observando a cena a sua frente com uma mistura de orgulho e ternura, encantado com a beleza de seus filhotes.

Os pequenos eram gêmeos praticamente idênticos, ambos com cabelos loiros e olhos azuis em um tom cintilante. No entanto, além da grande semelhança física, destacava-se a marcante diferença de personalidade entre eles. Matteo, com sua natureza introvertida, mantinha-se mais reservado e expressava-se com poucas palavras, somente quando considerava crucial. Já Henri, o oposto do irmão em diversos aspectos, era um pequeno alfa energético, falante e propenso à travessuras, uma verdadeira tempestade em forma humana. A dinâmica entre os dois era fascinante; juntos, formavam um equilíbrio único, mesmo sendo tão distintos. No entanto, ainda que tivessem personalidades diferentes, a energia e as traquinagens dos dois alfas frequentemente deixavam o ômega com os cabelos em pé.

Matteo saboreava suas panquecas no café da manhã com uma expressão de pura alegria, seus olhinhos  brilhando intensamente a cada mordida satisfatória. O nariz sujo de xarope de bordo, formando pequenas gotas brilhantes, era uma evidência vívida de sua paixão pela refeição. Seu pé esquerdo, descalço e um pouco sujo, balançava ritmadamente de forma despreocupada, enquanto o pequeno mexia a cabeça de um lado para outro no ritmo de uma música de algum filme infantil que Harry não fez questão de reconhecer. Já Henri não estava muito diferente, também descalço, calçando apenas uma meia azul desbotada que deixava grande parte de teu tornozelo esquerdo desnudo, alguns fios loirinhos acumulavam-se em seus olhos e gotas de xarope de bordo respingavam em suas bochechas.

Harry, observando tudo isso, revirou os olhos internamente diante da descontração daquele momento, ainda que secretamente achasse aquela cena adorável.

Os fofas ondinhas nos cabelos dos filhotes dançavam desordenadamente para todos os lados ao redor de suas cabeças, pequenos resquícios de sono ainda marcavam o canto de seus olhos e as blusas de ambos exibiam manchas de xarope. Seus rostos, embora um pouco sujinhos, irradiavam inocência e doçura. Mesmo diante de tudo isso, os filhotes estavam mais lindos do que nunca, cativando com um amor incondicional o coração da mamãe que os amava tanto.

Com um misto de amor e emoção, foi com esses profundos sentimentos que o ômega finalmente encontrou coragem para compartilhar com os alfinhas o segredo que há algum tempo guardava consigo.

— Ei bebês, eu estava pensando e... O que vocês acham de passarmos nossas férias na Espanha?

E nem meio segundo depois de sua fala, a cozinha vibrou com os gritos animados vindo dos gêmeos, ecoando pela casa e enchendo o ambiente com um clima de felicidade contagiante.

Find Love In Barcelona ➳ aboOnde histórias criam vida. Descubra agora