Reparos

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Héctor não conhecia Amália, e não podia dizer que tinha algum tipo de sentimento específico em relação aos Novos Mutantes, mas sempre tinha sido mais empático do que deveria, considerando como tinha se envolvido em todo o conflito atual. Para alguém que iniciou carreira nos Carrascos, ver Amália entregar a própria vida para que eles pudessem escapar foi como levar um tapa na cara, mais um lembrete de que ele tinha, de certa forma, ajudado a criar o presente que enfrentavam agora.

Sempre haveria sangue em suas mãos.

Ele tentou conter os soluços enquanto corria atrás dos demais, até alcançarem um avião pequeno parado em uma praça próxima. A agente da S.H.I.E.L.D. que estava com eles, Niko, abriu a rampa remotamente, e o grupo começou a entrar aos tropeções. Eram catorze pessoas se espremendo em um avião feito para levar a metade disso, todos se acotovelando para dentro enquanto o Novo Mutante que carregava o outro agente o colocava no banco do piloto.

— Fecha a rampa! — Theo ordenou, ao que Niko atendeu já se acomodando na cadeira de co-piloto. — Se segurem onde der, vamos decolar.

O aviso veio tão em cima da hora quanto poderia. Os mutantes mais cansados que tinham entrado em confronto direto se sentaram nas cadeiras, e Héctor acabou sendo um dos que ficou de pé, segurando nas alças ao lado das cadeiras. Logo o veículo subiu no ar com um tranco súbito, e bem a tempo de Héctor ver a névoa lá embaixo começar a se espalhar, avançando pela cidade e tentando alcançá-los também.

Amália certamente estaria morta agora.

— Estão todos bem? — Luke perguntou, também de pé no centro do avião, espremido entre Nath e Marlene. — Alguém precisa de atendimento médico?

Algumas mãos se ergueram no ar. Balu, já de pé, se aproximou do primeiro a fazer o gesto, Eras, e começou a tratar um corte muito feito no tronco dele.

— Theo precisa de atendimento — Damon comentou. — Eu acho que derrubei ele de alguma forma.

— Eu to bem — o piloto cortou, puxando o manche do avião.

A resposta foi seca de tal forma que Damon franziu a testa, decidindo ser melhor não insistir. Enquanto isso, ao lado de Eras, Lex estava sentado no chão do avião, vigiando o que Balu fazia para curar o garoto.

Era curioso ver Lex assim. Se lembrava dele ressentido, agressivo. Bravo com o mundo da mesma forma que o próprio Héctor costumava ser. Mas ali conseguia ver uma espécie de ternura quando o garoto olhava para Eras que não tinha imaginado que um dia fosse ver nos olhos dele.

Balu terminou com Eras e foi olhar Reese, ao lado. Eras olhava um tanto admirado para a pele agora inteira de seu tronco, apenas com uma cicatriz muito fina indicando que algo havia estado ali antes.

— Não tá doendo mesmo? — Lex perguntou, passando o dedo com suavidade sobre o local.

— Tá tudo bem Lex, sério. Eu to bem.

— Hm — o mutante respondeu, se levantando devagar, o olhar cruzando com o de Héctor ao fazê-lo. — Que foi?

Héctor abriu um sorriso pequeno, cruzando os braços, se recostando contra a parede do quinjet. Lex sequer tinha percebido, e provavelmente isso era uma boa coisa. Queria dizer que ele tinha simplesmente mudado, tão natural quanto poderia ser.

— Vocês ficam bem juntos.

Lex abriu a boca devagar, parecia estar formulando uma resposta, mas o que quer que fosse dizer morreu em sua garganta quando a voz de Theo se sobressaiu ao ruído abafado das conversas murmuradas no avião.

— Estamos nos aproximando do Zephyr — ele anunciou. — Vou atracar, nós vamos desembarcar e depois pensar no que fazer.

"Pensar no que fazer" era uma descrição muito precisa da situação atual, porque Héctor, ao menos, não fazia ideia de quantas opções tinham. Terrígeno tinha se espalhado por toda a cidade, tornando impossível para quase todos naquele avião que voltassem até lá para tentar resolver o problema. Com sorte, os herois humanos que tinham ficado por lá conseguiriam lidar com o caos de inumanos rompendo casulos com poderes inesperados e mutantes sufocando no ar enquanto lutavam para sobreviver, mas com eles ocupados fazendo isso, quem restava para ir atrás da origem do problema? Para encontrar o líder da I.M.A. e terminar com a situação toda de vez?

Irmandade de Mutantes: Guerra Terrígena (Marvel 717 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora