Por mais que tenhamos o desejo de achar respostas para o inexplicável, sempre iremos sucumbir para a razão.
Seu brilho singelo se ofuscava conforme o dançar das nuvens a sua frente, havia junto de si uma brisa frigida que sempre a acompanhava, trazendo a todos aquela amarga sensação de solidão. Por fim quanto mais o tempo se passava, maior era sua exposição a vista de seus amantes, estes que todas as noites olham para o céus matando o desejo de pôr mais uma única vez, serem capazes de ver seu reluzir prateado, assim a lua se revelava de maneira tímida sobre a noite paulistana.
Passos secos não conseguiam ecoar bem por causa do carpete sobre o chão, uma silhueta ganhava contorno no corredor do segundo andar da mansão graças ao brilho da Lua, Tadeu parecia ter pressa em sua caminhada envolta na quase completa escuridão, andava com certeza pelos corredores já que os conhecia como a palma de sua mão. Repentinamente o silencio se instaura, dando lugar a um respirar pesado vindo do velho mordomo que estendia sua mão segurando a maçaneta da porta a sua frente, entrando rapidamente no quarto de Simon.
- Jovem mestre? – Um cochicho vinha de Tadeu, parecia não querer incomodar os demais na mansão.
- Sim? - Simon, sentado em sua cama observava o lado de fora da mansão entre as cortinas um fino fio de luz Iluminava o quarto, revelando pouquíssimas formas do ambiente. O garoto com um olhar vazio, encarava a Lua junto da melancolia nítida em seu rosto e seus olhos levemente marejados, compunham o atual retrato do garoto.
O espaço amplo do quarto deixava dúvidas aos mais curiosos, dada a baixa luz presente ali, fora o carpete de tom marinho e uma vasta cama de colchões grossos nada era visível com nitidez. Aquela noite era particularmente fria para uma estação de verão.
- Por que Tadeu? Dentre tantas escolhas obvias, meu avô escolheu logo a mim. – Simon questionava o velho com a voz fraca.
- Não sei rapaz. – Tadeu diz enquanto se aproxima do garoto. – Mas ele te escolheu.
Com a aproximação do mordomo, Simon ergue sua cabeça em direção a ele vendo seu velho olhar cansado cair sobre si, ele parecia querer falar algo para o rapaz, pois já sabia que daquele dia em diante as escolhas que faria teriam um peso gigantesco sobre toda a família.
- Mestre Victor pediu para que o encontre na capela – Sua voz fala num tom mais altivo que o anterior a firmeza com a qual falava quebrava a melancolia de sua parte, dando as costas para Simon que o observava, caminhar até o batente da porta parando ali por um minuto. – Foi difícil ver meu sobrinho neto, crescer rejeitado assim como eu fui rapaz, porém eles lhe deram essa chance única, não somos iguais a eles e você sabe disso. Tenha fé e trilhe o caminho de nossa família.
Tadeu se perdia em meio a escuridão do corredor ao sair do quarto, Simon que ali ficou respirava fundo em um longo suspiro que ao seu fim, fazia-o levantar-se da cama e arrumar a cadeira que havia deixado deixada ao lado da janela.
A capela, mais perguntas vinham na mente de Simon, qual o motivo das coisas irem para aquele lugar, lá não somente um retiro religioso era tido por seus familiares, mas também é o ponto do descanso final daqueles de nome Monte Belo no Brasil. Sua família sempre foi extremamente rígida com as decisões de sucessões sanguíneas, tendo na maior parte das vezes casamentos arranjados e pactos de vida estabelecidos, tudo isso pelo simples fato de carregarem a sina dos caçadores. Mesmo que não estivesse pronto, Simon se levantava e ia andando até a porta que foi deixada entre aberta por Tadeu, seus poucos passos até ali pareciam uma eternidade, seus pés eram calçados por seu par de sapatos os quais estavam ao lado do batente da porta, logo se colocava em pé novamente, abrindo a porta via a escuridão a sua frente. Olhava para os lados, a sua esquerda no fim do corretor estava o escritório de Victor regido pela imponente figura de São Jorge, já ao lado direito via muito ao longe as escadas que o levariam para o andar inferior e sabia também que ao final do corredor cheio de portas em ambos os lados, naquela direção encontraria a entrada do segundo andar da biblioteca de sua família.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas da Companhia Solis
Mystery / ThrillerE se o mundo que conhece for além daquilo que simplesmente consegue explicar. Se uma infinidade de seres e criaturas coabitassem entre nós, todos ofuscados pelo véu da noite e por organizações que buscam ocultar suas existências em nome de "um bem m...