Arnaldo havia aceitado o convite imposto por Rubens, após um breve diálogo no qual foi detalhado a média salarial dos agentes, sair da vida de um faz tudo para ter um bolso cheio da grana lhe pareceu muito atraente, mesmo sendo informado dos riscos que estaria sujeito, mas fazer o que? Ele preferia se manter descrente em parte sobre o que havia passado. A SUV preta da corporação acelerava sobre a via Dutra, Linda dirigia com atenção sem perder o sorriso ou oportunidades de fazer alguns gracejos, já Rubens analisava alguns arquivos que pegou no porta-luvas se mantendo em completo silencio.
- Sabe Arnaldo, só malucos entram no carro de estranhos que lhe oferecem emprego de exterminador. – Dizia Linda olhando pelo retrovisor.
- Não somos exterminadores Linda – Retrucava Rubens, antes de qualquer fala de Arnaldo.
- Como não, algo ruim aparece, vamos lá e matamos ou damos um jeito de se livrar.– A mulher sorria ainda mais enquanto falava.
Rubens ficava quieto analisando aqueles arquivos e Linda sentia o prazer de ter razão por uma única vez, aquele silencio do velho homem era gratificante para ela que achava ter o deixado sem palavras.
- E naquela vez lá no Mato Grosso ? – Um sorriso debochado surgia no canto do rosto de Rubens.
- Não falamos sobre o Mato Grosso. – Linda se silenciava, ficando séria.
Arnaldo não entendia nada apenas olhava de um lado para o outro durante as falas.
- O que aconteceu no Mato Grosso? – Questionava Arnaldo.
- NADA. – Linda grita enquanto Rubens ri.
- Deixe esse assunto quieto rapaz. – Rubens diz em tom descontraído enquanto larga os papeis e se vira apoiado no banco, ficando cara a cara pra Arnaldo, fazendo uma careta em sinal que falaria algo para provocar Linda.
- Isso, deixa quieto. – Linda corava apertando com força o volante do carro, se curvando um pouco para frente.
O silencio constrangedor ficava no ar até ser rompido por Rubens que arqueava as sobrancelhas para Arnaldo e movimentava seus olhos para a direção de Linda.
- Só toma cuidado com boto ou sereias. – A típica risada de "tiozão" era dada pelo velho agente, enquanto Linda lhe dava um soquinho na perna.
- O golfinho que pega mulher casada existe. – Perguntava Arnaldo com vontade de rir.
- Existe e iss...– Rubens é interrompido por Linda que completamente sem jeito toma a fala para ela.
- TU TEVE SORTE EIN.... – Pelo retrovisor ela encarava Arnaldo. – Um Wendigo, ainda mais no Rio, isso é algo que não vemos todos os dias, esses capetas preferem agir em lugares mais frios, só que esse, esse aí tava direto no inferno.
- Não só isso, vamos aguardar a análise, afinal ele era relativamente fraco. – Rubens se ajeita no banco e observa a janela em seu lado. A paisagem passava e ele parecia pensar em algo.
- Você tem razão, se ele fosse como os lá do sul ou os que tem na Patagonia, não acho que nosso caçador teria se dado tão bem. – Linda diz voltando a olhar para a pista.
- Ou seja, eu só dei sorte, ceis tão querendo dizer isso ? – Arnaldo se escorava para frente ficando com sua cabeça entre os bancos.
- Exato. – Ambos respondiam em um coro.
Então ele volta a se encostar no banco, em sua mente os mais variados pensamentos corriam, não conseguia processar bem a velocidade que esse dia havia se desenrolado, assim julgava algumas perguntas mais importantes que outras. Arnaldo via Rubens se virar e olhar novamente para ele em completo silencio, algo bem desconfortável.
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Crônicas da Companhia Solis
Mystery / ThrillerE se o mundo que conhece for além daquilo que simplesmente consegue explicar. Se uma infinidade de seres e criaturas coabitassem entre nós, todos ofuscados pelo véu da noite e por organizações que buscam ocultar suas existências em nome de "um bem m...