Contos Domésticos de Poliamor

Parte 4: Tentativa

Isadora não sabia exatamente como se sentir. Quando Marcos a convidou para ir até a pista de Roller Skate com eles, ela imaginou que seria um encontro em grupo, com vários outros amigos dele. Porém, era somente ela e os três, além das pessoas desconhecidas que também usavam a pista.

Ela não queria ficar de vela. Talvez fosse melhor ir embora. Inventar uma desculpa qualquer e voltar para casa. Suas mãos começavam a suar de nervosismo. Talvez fosse melhor ir embora mesmo.

"Você está bem, Dorinha?" A voz de Marcos ajudou-a a voltar para a terra. Ele tinha acabado de amarrar os cadarços do patins alugado que Isadora calçava e a encarava com um olhar preocupado.

"Eu... sim. Acho que com um pouco de medo." Ela tentou sorrir, esfregando as mãos na calça de moletom que vestia, na tentativa de secá-las.

"Não se preocupe, vamos começar devagar, aqui fora mesmo." O homem ajudou-a a levantar, puxando sua mão com firmeza e guiando-a para um espaço vazio. "você vai deixar os pés sempre um pouco inclinados na diagonal, assim" enquanto explicava, Marcos realizava os gestos para que Isadora pudesse visualizar. "Mantenha os joelhos flexionados e então, empurre o corpo para frente, uma perna de cada vez".

Dora tentou imitá-lo, mas não sentia firmeza. A cada deslizada, sentia como se seu corpo fosse escorregar para trás e sabia que só não tinha passado essa vergonha ainda por ter alguém segurando sua mão.

"Você está indo bem, não precisa ter medo, eu não vou te deixar cair"

As palavras do mais alto fizeram os pensamentos de Dora voarem. Por que ele a estava ajudando? Ele poderia simplesmente ir para pista patinar sem preocupações, mas estava ali, preso a ela. Ela estava estragando a diversão.

Sem perceber, Isadora colocou mais força do que devia na passada e seu corpo foi para trás, mas ela não caiu. Marcos tinha uma mão em suas costas e rapidamente a colocou de pé outra vez.

"Opa! Essa foi por pouco." Ele sorriu, afastando a mão de si.

"Ei, faça seu trabalho direito." Ela viu Júlio deslizar da pista diretamente para onde eles estavam, com Lucas logo atrás de si.

"É um pouco difícil pegar o jeito no começo mesmo, Dora. Mas o Marcos ensina bem, logo você vai estar dando piruetas na pista com a gente."

Isadora assentiu, mas a única coisa que passava em sua cabeça, era que estava atrapalhando. Talvez fosse melhor ir embora. Mas ela não queria ir. Precisava tentar um pouco mais.

"Eu vou pegar uma água." Júlio deslizou graciosamente até o balcão de atendimento do outro lado da pista e Dora suspirou pesado, sabendo que nunca atingiria aquele nível.

"Posso ajudar vocês também?" Lucas perguntou, já se colocando do outro lado de Isadora e oferecendo a mão, que ela segurou sem nem pensar. Os três ficaram deslizando vagarosamente pelo espaço vazio do carpete por um bom tempo. Júlio retornou, com duas garrafas de água e se sentou num banco próximo.

"Sabe, o Júlio era péssimo em patinar, quando viemos aqui a primeira vez." O loiro começou a contar, recebendo um olhar de alerta do moreno. "Ei, não me olhe assim, não estou mentindo." Como, resposta, Júlio soprou a própria franja, que caía em sua testa já úmida de suor, e passou a beber sua água. Isadora voltou sua atenção a Lucas. "Você consegue imaginar alguém que patina tão bem agora, mal conseguindo se manter em pé?"

A garota negou com a cabeça.

"Foi bastante difícil. Eu consegui aprender na primeira vez, mas depois de vir aqui três vezes, Júlio permanecia na mesma. Até que conhecemos o Marcos. Foi ele quem ensinou o Júlio a patinar. Claro que não foi nada milagroso, fazendo acrobacias logo no primeiro dia, mas ao menos ele conseguia deslizar sem cair no final da primeira aula" Lucas sorriu, inclinando o rosto na direção de Isadora. "Onde eu quero chegar com isso, é que você não precisa se sentir pressionada a sair daqui patinando como uma profissional. Cada um tem o seu ritmo, não tem problema ir devagar."

Isadora viu Marcos concordar com o namorado.

"Desculpa por dar tanto trabalho" Ela murmurou, se encolhendo um pouco.

"Não é trabalho nenhum!" O maior rebateu.

"Na verdade, Marcos prefere ficar aqui fora ensinando os novatos, do que patinando na pista." Júlio concordou, se levantando do banco e chegando mais perto. "Ele só vai pra lá quando não tem mais ninguém pra ensinar."

"Eu sei que ele faz isso pra disfarçar que é o pior de todos" A provocação de Júlio fez Isadora ter vontade de rir. Marcos beliscou a bochecha do namorado, em retribuição ao insulto.

"Eu devia ter deixado você cair todas as vezes que te segurei, lá atrás"

Júlio beliscou a mão de Marcos e os dois começaram uma guerra de beliscões. Isadora se sentia um pouco mais leve, o nervosismo abandonando seu peito aos poucos enquanto se divertia com a implicância do casal.

"Assim é bem melhor" Lucas comentou ao seu lado, ainda segurando sua mão. "Um sorriso combina muito mais com você"

A garota sentiu suas bochechas esquentarem e inconscientemente o sorriso aumentar. Talvez não fosse tão ruim continuar tentando.

"Quer tentar soltar minha mão um pouco? Você já está com passos bem firmes. Eu não vou sair de perto, por segurança"

"Acho que dá pra tentar" Dizendo isso, ela soltou, se sentindo insegura com seus passos no começo com a perda do apoio, mas o encorajamento constante de Lucas lhe rendeu alguma confiança para dar algumas voltas.

"Lucas, você está tentando roubar meu emprego?!" O mais alto dos três encostou ao lado do loiro, dando um empurrão em seu ombro.

"Não mesmo" Lucas sorriu, empurrando de volta "Estava apenas fazendo uma substituição rápida"

"Vamos, voltem vocês dois pra pista, eu cuido daqui"

Isadora assistiu Júlio e Lucas concordarem, voltando a patinar com os demais.

"Certo, agora vamos para a lição mais importante!" Marcos emparelhou ao lado dela. "Quando você quiser ou precisar parar, incline os pés na diagonal, mas para dentro." Ele demonstrou como fazer, esperando Dora imitá-lo. "E, caso perca o equilíbrio, flexione bem os joelhos, devagar, como se fosse agachar. Assim, mesmo que você caia, não vai se machucar." Novamente ele mostrou, jogando o corpo para trás quando já estava quase sentado no chão. Não houve qualquer impacto.

Eles continuaram dando voltas no carpete e Dora testou o que tinha aprendido, para ter certeza de que se lembraria quando precisasse.

"Acha que já consegue encarar a pista agora?" O rapaz perguntou enquanto deslizava de frente para si.

"Sim... acho que sim" Talvez ela realmente conseguisse.

"A pista escorrega muito mais que o carpete, então vai ser um pouco difícil de acostumar no começo. Eu não vou soltar sua mão até você se sentir segura pra isso e você também pode se segurar na amurada."

"Está bem, obrigada" Ela sorriu em resposta. Não apenas sua confiança em patinar havia aumentado, mas se sentia mais relaxada na presença deles. Nenhum dos três a estava excluindo, muito pelo contrário, eles faziam questão de sua presença. Eles não deixaram de agir como namorados um com o outro, mas a forma que faziam isso era... sutil. Não era desconcertante ou desconfortável para si. Pela primeira vez em muito tempo, Dora se sentia parte de algo. Mesmo que fosse quase uma amizade relâmpago, começada de uma forma turbulenta.

Marcos a guiou até a pista, mantendo a promessa de segurar sua mão o tempo todo. Realmente, a textura do chão de madeira lisa e polida não se comparava com o carpete surrado do lado de fora e a mulher quase achou que ia cair ao dar o primeiro passo, mas Marcos a manteve firme. Sua mão livre voou para a mureta e eles passaram a dar várias voltas deste jeito, até que pudesse se acostumar e ganhar confiança outra vez.

Sem perceber, a maior parte do tempo de aluguel dos patins foi embora em um piscar de olhos, mas definitivamente Dora não queria parar.

***

Olá meus amores!! Como estão?!
Mais um capítulo nesta sexta-feira agitada~~
O que acharam? A Dorinha tem alguns problemas de auto estima, mas a forma que os meninos tratam ela é tão *-*

Espero que tenham gostado da leitura tanto quanto eu amei escrever!
Se gostou, não deixe de dar estrelinha, comentar e indicar a história pros seus amigos~~
Até o próximo capítulo!!