Durante toda a sua infância, Jeon Jungkook foi considerado o prodígio da família.
Dotado de uma inteligência alguns níveis acima do comum, ele estava sempre entre os melhores da turma, e raramente saía do top 3. Por consequência, acostumou-se a estar em primeiro lugar, embora jamais utilizasse de sua posição para diminuir os outros colegas — pelo contrário, não se importava de ajudar aqueles que demonstravam ter mais dificuldade na aprendizagem de uma matéria ou outra.
Foi ensinado, desde o primeiro suspiro, a ter consciência e reconhecer o próprio valor, aprendeu desde criança a nunca deixar que o diminuíssem. Da mesma forma, foi instruído a fazê-lo sem precisar menosprezar ninguém.
"Você é um garoto incrível e pode alcançar o que quiser, meu filho, mas a caminhada só vale o triunfo se for feita com honestidade", sua mãe fazia questão de repetir.
Quando chegou o momento de aprender as palavras, Jungkook ficou fascinado. Adorava juntar sílabas, formar frases, soletrar os vocábulos repetidamente enquanto apreciava os sons que faziam a língua enrolar. Aos nove anos, adentrava o escritório do pai durante a madrugada para surrupiar um dos calhamaços com as lombadas expostas na estante lotada de títulos; podia nem saber do que se tratava, mas lia todos com os olhinhos brilhando ao encontrar termos que desconhecia (por tal razão, esporadicamente exclamava coisas como "omma, a senhora não está sendo complacente comigo!").
Ao completar doze anos, possuía um repertório vasto, ainda que desconhecesse o real significado da maioria das palavras — às vezes os inventava; em outras, passava os olhos por cima e seguia adiante, sem se incomodar.
Então, o tempo passou. Jungkook aprendeu a manusear palavras difíceis nos contextos certos. Em contrapartida, esqueceu-se do sentido original das mais básicas — algumas ganharam interpretações figuradas que não lhe eram acessíveis na época.
"Casa" costumava dizer respeito a uma arquitetura destinada à habitação. Era para onde retornava quando passava o dia fora, brincando no parque a alguns minutos de distância de onde morava. Parecia ser o natural.
Entretanto, após a morte de Choi Ha-yun, ele percebeu que, embora continuasse indo e voltando para o mesmo lugar, não se sentia mais em casa.
Tudo piorou quando, no auge dos quatorze anos, precisou assistir ao pai levar outra mulher para dentro do lugar que costumava compartilhar com sua mãe. Eles eram três; de repente, tornaram-se quatro, com uma integrante a menos e duas inéditas, e Jungkook não se via como parte do que estava sendo construído novamente. Yeji, que, na época, tinha sete anos, entrou de penetra, tomando o lugar de caçula da família para si.
Assim, o menino que outrora era protagonista de uma linda história de amor, tornou-se coadjuvante de um drama melancólico. Vivia pelos cantos, como um mero espectador da vida que se desenrolava diante de seus olhos, nunca convidado a participar. Com o tempo, percebeu que sequer nutria vontade de ser inserido. Não ali. Não sob o fantasma de sua mãe, que parecia remanescente apenas em sua memória.
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EXCÊNTRICO • jjk + pjm
Fanfic[EM ANDAMENTO] Em uma noite regada por música alta e luzes escarlates, Park Jimin encontrou Jeon Jungkook, e foi como fogo ateado em gasolina. Ambos sentiram muito, e Jimin sentiu muito mais quando lhe deu as costas e foi embora sem maiores explicaç...