Juliet

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Uma noite q!Roier chegou em casa. Uma noite, ele tirou a peruca antes de entrar no castelo. Uma noite como todas. Uma noite ele usava um sobretudo. Uma noite diferente. Uma noite q!Cellbit não conseguiu dormir. Uma noite sem q!Roier saber.

Uma noite que ele não tinha tirado a maquiagem.

“Guapito?”

Puta madre.

Hola, Gatinho!”

“Ei, o que 'cê tá fazendo de maquiagem? Ficou ótimo! Tem algo nela...” ele não completou.

Na verdade, ele pareceu incerto. q!Roier se odiou.

Gracias, Gatinho, pero debe ser apenas una impresión suya.” Desviou como pode do assunto. “Que estás fazendo acordado?”

“Não, não é impressão minha.” Ao ver o marido com as sobrancelhas arqueadas, soube que não haveria escapatória. “Posso te fazer a mesma pergunta, afinal acordei quase agora e você não estava na cama e nem em lugar algum do castelo. Guapito, você sabe que não precisa me esconder nada, então por que não me conta a verdade?”

Ele suspirou se sentando na cama. Sentia-se nervoso. Como contaria algo tão grande assim?

q!Cellbit o abraçou e o puxou para perto, então o mexicano recostou sobre o ombro do esposo. Ah, é claro, é assim que contaria.

Pendejo, como conseguia duvidar de que dentre todas as pessoas na ilha, o brasileiro o julgaria por isso.

“Eu me sinto estranho às vezes. É como se eu deixasse de ser essa pessoa que eu sou agora. Ou melhor, a que eu não sou agora. É... raro, mas acontece. Algumas vezes demora pra passar, outras não. Já me senti diferente assim por semanas em algumas ocasiões e em outras durou algumas horas.”

Se lembrou da única outra vez que contou disso para "alguém". Tilin, sua sobrinhe. Nem mesmo elu soube lhe ajudar, então apenas fugiu dos problemas como pode.

“Então eu criei ela. A Melissa, minha prima, não é realmente minha prima. Eu sei, eu sei, não me olha com essa cara.” Riu da surpresa estampada no rosto do outro, claro que ele já havia entendido, mas também não falaria nada até que terminasse de desabafar “Ela sou eu, quando isso acontece, eu uso as noites para fugir e me vestir assim, talvez a idéia de literalmente não "ser eu" me ajude a lidar com essas crises de identidade, porque funciona e eu não me sinto desconfortável no meu próprio corpo”

Ficaram dois minutos em silêncio até que q!Cellbit se pronunciou.

“Não acho que isso seja uma crise de identidade, na verdade acho que esse tipo de crise tem um outro nome.” Começou, fazendo-o olhar estranho “Fala com seu irmão amanhã, ele vai saber te explicar melhor, vamos dormir agora.”

Estranhou, mas concordou. Deitou-se de sobretudo mesmo.

Estava quase dormindo quando o esposo cantou em seu ouvido “I look at you and think: Shit, she’s so pretty.”

Borboletas invadiram seu estômago e algo nisso o fez se sentir incrivelmente feliz.
















notas

eu tentei descrever a disforia do q!Roier o melhor possível, mas foi meio complicado explicar o gênero fluindo, desculpa se tiver algo errado e me avisem para que eu possa corrigir!!

Guapoduo hcsOnde histórias criam vida. Descubra agora