Prólogo

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Abril de 1792

Quando o navio finalmente atracou no porto de Londres, Maya foi tomada por sentimentos ambíguos. Por um lado, estava feliz em retornar à terra de seu pai, já que ela guardava as lembranças do seu tempo em Londres com muito carinho, mas o motivo dela estar ali não era nada feliz. Após a morte do seu avô Aryan, seu primo Vijay havia dado um golpe de estado no reino e tomado o trono. A ascensão de Vijay ao poder, veio com a exigência de um casamento entre ele e Maya. A família de Maya se negou e, temendo algum tipo de retaliação, decidiram fugir na calada da noite buscando refúgio na Companhia das Índias Orientais. Entretanto, a persistência de Vijay era maior do que o esperado, o que fez com que ele pagasse um oficial para tentar sequestrar Maya. Após a tentativa frustrada, temendo pela segurança da filha, o pai de Maya decidiu por retornar com a família para Inglaterra, buscando a maior distância possível de Vijay.

Maya estremeceu ao ser atingida por uma forte brisa outonal e fez uma breve prece a Durga, pedindo proteção e coragem diante do que estava por vir.

Priy (Querida), temos que ir. – a doce voz de sua mãe lhe tirou do transe. Olhou uma última vez para horizonte que sinalizava a vida que tinha deixado para trás e seguiu para os braços acolhedores da mãe – Sei que está chateada, mas tudo ficará bem.

– Não é justo! – Lamentou-se como uma criança mimada.

– Eu sei! Mas pense pelo lado bom, poderá rever Stephanie e seus outros amigos ingleses.

Sahee! (Certo) – Maya e sua mãe caminharam abraçadas em direção ao pai e ao irmão. Apesar de toda angústia, ela tinha sua família junto dela, e enquanto eles estivessem com ela, tudo ficaria bem.

Todos desembarcaram e imediatamente se tornaram o centro das atenções. Uma comitiva tão exuberante não tinha como passar despercebida. Maya ignorou os olhares curiosos e permaneceu junto a família, esperando as bagagens. Nesse meio tempo, seu pai despachou um dos servos rumo ao encontro de seu amigo mais confiável, e num curto espaço de tempo, eles foram agraciados com a presença do seu padrinho, Ernest Grayson, o marquês de Winchester. Embora fosse hinduísta, Maya havia tido um batismo cristão quando veio à Inglaterra pela primeira vez.

– Padrinho?!

– Ora, como vai minha afilhada favorita? – ele a abraçou, a levantando uns centímetros no ar. Embora fosse um homem nobre, Ernest Grayson costumava ser muito afetuoso com aqueles que amava.

– Até onde sei, sou sua única afilhada! – Retrucou, faceira.

– E a mais amada! – Ele completou a beijando suavemente na bochecha.

Ele se afastou, seguindo para cumprimentar o pai dela.

– Que surpresa, velho amigo! Pelo andar da carruagem, presumi que não o veria novamente nesta vida. – seu padrinho gracejou, estendendo a mão para o seu pai.

– A vida é cheia de surpresas e tem a terrível mania de alterar os nossos planos. – seu pai suspirou cansado, apertando a mão que lhe foi estendida.

– Mas nem tudo está perdido! Podemos tentar uma forma de intervir na situação. Não é benéfico para a Inglaterra uma guerra de sucessão... Mas conversaremos com mais calma em casa. – retrucou sabiamente seu padrinho.

– Agradeço pela hospitalidade.

– Não diga besteira. Você é meu melhor amigo, farei o possível para ajudá-lo no que for necessário.

Ernest abraçou seu pai e em seguida cumprimentou sua mãe de maneira calorosa e conheceu Sanjay, seu irmão mais novo.

Enquanto a família conversava e os criados arrumavam as bagagens nas carruagens, Maya foi atrás do que lhe interessava. O encontrou recolhido tranquilamente numa gaiola. Parecia sereno enquanto acariciava suas penas com o bico.

Uma Esposa Para o MarquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora