A princesa

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Delila podia escutar seus próprios passos ecoarem de encontro ao chão de mármore bem lustrado. Os corredores do castelo eram frios e agourentos e pareciam nunca ter fim e ela sempre podia sentir presenças ao seu redor — ou talvez fossem as dezenas de quadros espalhados pelas paredes ao longo dos corredores. Sentia que os olhos das pinturas dos antigos reis e rainhas a acompanhassem a cada passo que dava e a acusavam silenciosamente. Delila sempre sentiu-se uma impostora ali.

Suspirou ao encarar seu reflexo em um espelho emoldurado em detalhes dourados que ficava posicionado sobre uma pequena mesinha de madeira entalhada com arabescos e decorada com detalhes também dourados. Sobre a mesa repousava uma escultura banhada em ouro do busto da Rainha Carlota que reinou a pouco mais de trezentos e cinquenta anos atrás, sendo a primeira mulher a reinar como rainha regente sem um rei, depois dela apenas mais duas mulheres foram coroada como regente — Delila seria a quarta, se e que podia contar a rainha Deodora que reinou por apenas quinze dias antes de desaparecer.

Analisou seu reflexo à procura de algo que pudesse estar fora do lugar. A maquiagem perfeita e o penteado haviam lhe custado algumas horas naquela manhã, mas ainda não se sentia confortável com sua aparência — quase nunca se sentia. Ajeitou um fio loiro de seus cabelos que insistiam em escapar do grampo e bufou irritada quando na tentativa de arrumar acabou soltando mais alguns fios. Retirou um grampo e o colocou entre os lábios enquanto enrolava novamente a mecha rebelde.

Uma porta sendo aberta soou distante e logo foi fechada, saltos altos contra o piso ecoaram indicando a aproximação de alguém. O coração de Delila saltou ansioso com a aproximação familiar enquanto ela empenhava-se mais ainda em ajeitar seu cabelo. Conhecia bem aquele caminhar e sabia quem estava se aproximando, não podia estar com os cabelos bagunçados quando ela chegasse.

— Está atrasada Delila. — A voz fria de sua mãe chegou aos seus ouvidos. — Atrasada e desgrenhada... não sei por que ainda confio em você.

A mulher aproximou-se da filha e a puxou pelos ombros a fazendo ficar de costas. Agilmente ela ajeitou os cabelos rebeldes de Delila e os prendeu novamente com o grampo que a mais jovem lhe entregou.

— Estamos esperando você há algum tempo já. — Comentou com um tom de voz calmo, mas Delila sabia que ela estava furiosa. — Você não é mais uma garotinha Delila, precisa crescer, ter responsabilidade com o seu propósito. Eu já estou cansada de tentar lhe ensinar as coisas.

— Desculpa mãe. — A mais jovem soltou em um murmúrio exaurido de confiança.

Rainha Portia como gostava de ser chamada virou a filha para poder encará-la, seus olhos a analisaram minuciosamente dos pés a cabeça e ela maneou a cabeça em negação.

— Da próxima vez peça para a sua dama prestar mais atenção em sua maquiagem, está com um rosto cansado. — Disse já se afastando. — Ninguém quer ver sua futura rainha com olheiras e uma aparência de funeral.

Os ombros de Delila caíram quando as palavras da mãe lhe acertaram certeiras. Já devia estar acostumada com aquele tipo de comentário, sempre os recebia, mas nunca conseguia evitar o desapontamento por nunca estar à altura das exigências de Portia.

— Claro mãe. — Respondeu por fim em um sussurro.

— Vem, vamos, o conselho e o seu pai estão lhe esperando.

Portia puxou a filha em direção a porta pelo qual havia passado a minutos atrás. Assim que as duas mulheres adentraram no recinto os homens que ali estavam, exceto o seu pai, o rei, se levantaram e curvaram se em uma reverência à rainha consorte e a princesa herdeira.

— Perdoe minha filha pelo atraso dela senhores, vocês sabem como é, Delila é sempre muito dedicada aos seus estudos e não vê a hora passar. — Portia disse enquanto sorria com doçura sentando-se ao lado do marido próximo a ponta da mesa.

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