Contrariando todas as estatísticas, vim morar num sitio, digo contrariando tudo, pelo fato de eu ser bem festeira e gostar da vida bem agitada que eu levava.
Não sei ao certo quando foi que eu decidi parar, mas parei. No começo foi estranho, hoje não me vejo mais tão empolgada assim com festa e eventos, tão poucos com coisas novas. Grande evento aqui, são boas colheitas e boas vendas.
Levo uma vida simples, mas tenho meus luxos, sendo eu, a boa aquariana que sou, não abro mão de tecnologias e nem conforto. Com exceção das roupas, onde o luxo passa longe, fui totalmente tomada por moletons e conforto total.
A paisagem tem mudado por aqui, terrenos próximos são comprados por pessoas com bastante dinheiro que querem fingir ter uma vida simples, ou que apenas querem respirar ar puro. Uma compra em particular, chamou minha atenção, já que posso ver ao longe a construção de uma bela propriedade, algo como um castelo antigo com ares moderno. Não sei nada sobre quem comprou, ninguém sabe. O que todos sabem, ou desconfiam, é que foi alguém com muito poder aquisitivo, já que tal construção não poderia ser feita sem um investimento imenso. Alguns acham que se trata de um hotel luxuoso, eu desacredito, pois se fosse, algo me diz que já saberíamos. Acredito mesmo que alguém decidiu ter um pedacinho no paraíso com um conforto absurdo.
Conheço o terreno em questão, muito verde, muitas árvores, nascente de águas puras e um belíssimo rio fazem parte do seu contexto, assim como algumas pequenas montanhas, afinal aqui já é o topo de um morro. Vejo que também foi construído um estabulo e já fazem parte da paisagem, cavalos de um porte impecável, desses que só vemos em filmes.
Minha imaginação sempre me questiona sobre quem irá morar ou passear em um lugar tão bem estruturado como esse.
Meus dias são tranquilos, apesar de haver bastante trabalho por aqui. As manhãs começam cedo, cedo demais para o meu gosto, esse é um ponto, ao qual, acho que nunca irei me acostumar.
Levanto antes mesmo do sol nascer completamente, pego minha xícara de café, vou até a varanda, sento e olho a paisagem, até meu olhos pararem na construção da futura mansão. Sim, tenho vista da construção quando estou na minha varanda, minha casa é construída um pouco acima do terreno o que me garante um vista belíssima. Enquanto tomo meu café, sigo imaginando o que tanto eles constroem do outro lado da rodovia. De repente meus devaneios são interrompidos, uma voz familiar tenta me tirar do quase transe que me encontro.
- Emma Swan, acho que pela hora você já deveria estar mais desperta. Esbraveja Ruby, enquanto leva as mãos na cintura, com cara de poucos amigos.
-Ruby Lucas, você sabe mais do que ninguém, que me recuso a começar o dia sem antes tomar ao menos duas xícaras de café.
A risada de Ruby me diz que ela já relaxou e que provavelmente me escapei de sua bronca matinal.
Ruby Lucas, é uma morena de olhos verdes, mais alta que eu e dona de um temperamento um tanto rebelde, é minha amiga, confidente, e ainda me ajuda nas tarefas do sítio, que, por mais que não pareça, é bastante puxado. Apesar de linda nunca tive por ela sentimentos além da amizade. Além dela, a Mary Margaret também me auxilia, Mary tem minha altura, morena de pele bem branca e uma paciência que nunca vi na vida, além de calma e de um coração imenso, sempre disposto a ajudar, também é dona de um abraço casa, sabe aqueles que te aconchegam não importa a situação? Ela é basicamente minha governanta, mas acho esse título muito brega, então secretária do lar talvez soe melhor. No quesito casa, amo organização, mas odeio organizar, o mesmo vale pra limpeza, logo Mary é indispensável por aqui, ela é quem mantem tudo limpo, organizado, faz comida, me faz comer nas horas certas e me dá broncas assim como Ruby, porém as broncas de Mary sempre são calmas, mas me fazem parar e ouvir, ela é quase uma mãe pra mim.
Ambas moram em casas próximas, mas próximo aqui significam alguns quilômetros de distância. Então normalmente as duas acabam chegando juntas aqui no sítio.
-Anda sobe logo Ruby, ainda vou demorar para terminar aqui. Grito, fazendo Ruby subir em negação. Mary já está no barracão pegando a comida dos peixes, ela sempre alimenta eles primeiro, já sabe que eu demoro a acordar, mesmo levantando cedo, esse pensamento me faz rir, ao mesmo tempo em que Ruby atinge o último degrau da escada.
-Você não tem jeito Emma, quando será o dia em que chegaremos aqui com você pronta?
Faço cara de quem está pensando e respondo
- Talvez dia 30... 30 de fevereiro. Faço a piada e ela não ri. –Vamos lá Ruby bronca agora não, só mais um café e estarei pronta, prometo.
-“Se não pode vence-los, junte-se a eles”. Exclama Ruby indo pegar um café.
Mary junta-se a nós, falando que minha preguiça pode ser contagiante e isso não é bom.
-O que será que tanto constroem ai na frente? Mary faz a mesma indagação que fiz a minutos atrás.
-Acho que teremos que esperar ficar pronto para descobrir. Dou de ombros, fingindo não ter tanta curiosidade.
Após minhas 2 xícaras de café estou pronta para descer, mas não sem ouvir as reclamações de Mary por não ter comido nada.
No sítio temos algumas frutas e verduras sem agrotóxicos, morangos se tornaram nossa especialidade, mas temos amoras, couve, brócolis, alface e mais algumas coisas. Temos um galpão, super organizado, graças a Mary, é claro, que usamos como loja. Parece estranho pensar que pessoas param no topo de um morro para comprar algo, mas o fato é que elas param, finais de semana tem mais movimento, porém não é raro parar compradores ao longo dos dias da semana. Além do que tenho aqui, ofereço também produtos de alguns vizinhos que não se encontram tão bem localizados. Não sei se mencionei, mas a localidade do meu sítio é próxima a rodovia, o que acaba gerando um movimento maior de vendas. Então possuo geleias, feijão, frutas frescas e congeladas, todos naturais, sem veneno, o que para minha surpresa é procurado por uma gama bem grande de pessoas.
Meus dias não mudam muito de um para o outro, acordar, abrir estufa, colher, limpar e tratar a terra. Às vezes vou as compras na cidade vizinha, às vezes recebo agrônomos e seus estudantes, sempre recebo os clientes, faço as compras necessárias e por vezes fecho alguma venda grande. As manhãs por aqui são silenciosas, as noites também, só o som de alguns caminhões ou automóveis passando na rodovia, faz com que não seja tão quieto assim.
Como disse não sei bem ao certo como vim parar aqui, talvez a perda dos meus pais adotivos, seguido de uma desilusão amorosa, tenha me atraído pra cá. Costumo dizer que tenho 24 anos e alma de velho, amo ler e ouvir músicas, mas não tenho necessidade alguma de interagir com pessoas, não sinto falta das muitas festas que já estive, nem das muitas pessoas que já passaram pela minha vida e pela minha cama. A única falta que sinto é de algo que nunca superei, o roubo de um pedaço meu, aos 18 anos. Eu explico, fui mãe de uma linda menina, nunca tive a chance de dar a ela o nome escolhido, Carolina, meus pais adotivos nunca se perdoaram por essa perda. Eles estavam viajando quando entrei em trabalho de parto, acabei sozinha no hospital para ter a bebe, já que o pai da mesma não estava nem ai para nenhuma de nós duas, tive uma complicação no parto que me levou a ficar desacordada por dias, e por um erro do hospital a menina acabou sendo liberada para uma pessoa desconhecida por nós, quando acordei vi a tristeza nos olhos da minha mãe que não sabia como me contar tal coisa, naquele dia uma parte minha havia morrido, pois o vazio daquela perda nunca foi superado. Foram anos tentando qualquer pista que nos levasse ao paradeiro dela, e todos os esforços foram em vão, quem quer que a tenha levado, sabia como fazer isso muito bem, nem tive a chance de ver ou segurar minha pequena, apesar de ás vezes, em sonho, ver seu rosto e achar que isso possa ser uma memória. Meus pais nunca desistiram de procurar, gastaram com detetives, com advogados, a cada possível chance de encontrá-la eles partiam sem medo em viagens para vários lugares, em uma dessas viagens um acidente os levou para sempre, a morte deles já tem 5 anos, mesmo tempo que decidi largar tudo na cidade e me esconder aqui no campo, tentando achar um pouco de paz.
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Sítio Imperial
FanfictionUm lugar cercado de árvores, verde e natureza, até onde sabiam calmo e tranquilo. Um lugar para onde iam os corações cansados que queriam paz. Tinha tudo para ser um refúgio, mas seus arredores escondia um segredo macabro, um crime, ou vários, porém...