Como mencionei os dias são iguais por aqui, menos o que está começando, dia 15 de julho, hoje estaria comemorando o sexto ano da minha filha, provavelmente ao lado dos meus pais adotivos, seria um dia festivo, cheio de alegria, mas não é. Ruby e Mary sabem bem que hoje é o dia da minha solidão, hoje as porteiras do sítio não abrem, porque apesar de já se passarem seis anos a ferida nunca fechou. Faz frio por aqui, saio da cama em direção a sacada, aquele vazio imenso no peito me faz companhia.
-minha pequena, não faço ideia de onde estejas, mas torço para que estejas bem, se o universo me permitir, gostaria muito de encontrá-la, feliz aniversário minha menina. Após essas palavras abro uma garrafa de vinho, hoje não tem café, tem álcool para tentar suportar a dor.
Meu dia é regado com álcool e chuva, que cai com certa intensidade no período da tarde, penso em comer algo, já que Mary provavelmente vai querer me matar amanhã caso perceba minha negação à comida. Mesmo com a música ouço sons de sirene na rodovia, não são raros os acidentes por aqui, a serra é bem alta e cheia de curvas e os carros e caminhões insistem em trafegar correndo mais do que seria seguro. A noite vem, meu cansaço junto com a dor, me fazem querer ir cedo pra cama.
É madrugada? não tenho certeza, mas acordo de sobre salto com um barulho que não consigo identificar. Olho no relógio 23:00, aqui é quase como se fosse madrugada.
-Mas o que diabos é isso? Grito, como se alguém pudesse ouvir.
Saio na sacada e vejo luzes piscando na minha frente, um helicóptero? Estou incrédula, meu novo vizinho está realmente chegando em um helicóptero. Nem conheço e já tenho ranço por quem quer que esteja vindo para o pequeno castelo, construído do outro lado da rodovia. Esbravejo, xingo e tendo voltar a dormir depois de ser sido despertada de forma abrupta, pelo meio de transporte inusitado. Não consigo dormir, estou enjoada, com certeza pela quantidade de álcool que consumi. Então decido tomar um banho, comer algo e engolir um remédio. Como fiz tudo na velocidade da lesma, a hora voou, decido ir para a sacada e esperar que o dia amanheça, logo minhas companhias darão as caras por aqui. Adormeço no sofá da varanda. Acabo despertando, as 09:00, com cheiro do café, Ruby e Mary já chegaram, não me acordaram, mas optaram por preparar um belo café da manhã, como essa já não á a primeira vez que passo esse dia assim, elas meio que sabem como agir, não perguntam nada, não comentam nada, apenas tentam me trazer um pouco de conforto.
-Não sei como você não congelou dormindo aqui a fora. Diz Ruby ao se lançar no sofá que estou e me dar um abraço bem apertado.
-acho que nem senti frio. Retruco.
Ruby me lança aquele olhar de quem vai me dar bronca, mas acaba optando pelo silêncio.
-Bom dia srta. Emma. Diz Mary ao chegar na varanda. –temos uma bela mesa de café da manhã lhe aguardando e fiz o ovos do jeito que você ama.
-Vem comer e não se preocupe que já fizemos as primeiras coisas que precisam ser feitas no sitio antes de subirmos. Diz Ruby, me tranquilizando quanto a hora.
Apesar de ontem, o café da manhã se mostra animado. Consigo comer e enterrar novamente as memórias, sem esquecer é claro.
No meio da conversa comento sobre o inesperado acontecimento da quase madrugada.
-Como assim chegou em um helicóptero? E o mais importante quem chegou? Ruby pergunta como se eu soubesse responder.
Dou de ombros. –Sei lá quem chegou Ruby, ou você acha que eu fui até lá dar oi?
Ouço as risadas da minha amiga se espalhar pela casa.
-Emma, dando oi pra um estranho que a fez despertar, provavelmente PUTA da cara, deixa eu pensar...
E mais risadas são ouvidas.
Como disse elas me entendem, era tudo o que eu precisava, um papo, risadas, café e um novo começo de dia.
Me pego ao longo do dia pensando em quem foi que chegou naquela máquina, que me despertou na noite anterior, mas sempre acabo me distraio com os afazeres.
Ao fim do dia me despeço das meninas. Início da noite sento na sacada vendo luzes no imóvel a minha frente, mas não vejo grandes movimentações, o cansaço começa a tomar conta de mim devido a péssima noite que tive e decido dormir.
Acordo bem cedo, depois de preparar o café vou a sacada, sim é meu local favorito, dessa vez consigo observar pessoas na nova construção, mas lógico estou longe não consigo saber como ou quem são, me pego imaginando um velho rico, desses bem esnobe, que não faço questão alguma de conhecer. Acho graça do quanto me pego olhando para lá, nunca fui fofoqueira, não sei o que está acontecendo comigo, me sinto atraída a olhar para lá, vai entender.
As horas passam, as meninas chegam, fico aliviada ao perceber que Ruby também olha para a pequena mansão, com curiosidade. Ao menos sei que não sou só eu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sítio Imperial
Fiksi PenggemarUm lugar cercado de árvores, verde e natureza, até onde sabiam calmo e tranquilo. Um lugar para onde iam os corações cansados que queriam paz. Tinha tudo para ser um refúgio, mas seus arredores escondia um segredo macabro, um crime, ou vários, porém...