O cemitério de Edimburgo

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O ano era 1827, duas figuras andavam lado a lado na noite gélida, passando pelas ruas do cemitério de Edimburgo. Havia um anjo e um demônio ali.

Crowley admirava as estrelas um pouco cabisbaixo enquanto cambaleava, era um tanto vergonhoso para um demônio cometer boas ações à espreita num cemitério, afinal, o esperado é que demônios causem confusões na espreita de cemitérios! Não sair por aí dizendo para não tentar matar a si mesmo, e mesmo sendo vergonhoso para demônios, Crowley o fez e não se arrependia disso.

No fim das contas, não importava tanto assim. Ao menos, aquela jovem provavelmente terá uma vida boa, mesmo que tenha, por infelicidades, perdido a pessoa que amava. Por outro lado, havia também o confuso Aziraphale, que cedeu suas crenças em relação às "virtudes da pobreza" para cooperar com Crowley, o demônio. Isso deixou Crowley extremamente feliz, embora, ele tenha culpado o laudano por esses sentimentos extravagantes.

Às vezes Aziraphale para pra pensar como a vida pode ser engraçada. Toda crença se esvai como água e abre espaço para tantas coisas que você jamais poderia saber.

Infelizmente o laudano ainda parecia permanecer forte no corpo de Crowley, Aziraphale notou isso, visto que o demônio cambaleava tanto que se não fosse pela mão do anjo em sua cintura, Crowley teria perdido o equilíbrio e se esparramado no chão.

Aziraphale firma ainda mais seu aperto. E uma ternura inimaginável toma seu peito.

- Hmn, sabe - Começou o anjo, seus olhos carregavam um brilho meigo, e algum tipo de mensagem fervorosa que Crowley jamais poderia identificar sob o efeito de laudano - Foi muito legal o que você fez pela jovem antes.

O anjo que no passado guardou o Portão do Leste se sentiu culpado de nunca ter pensado corretamente na "virtude da pobreza". Era vergonhoso pensar na maneira que sempre tratou o assunto. Ainda bem que ele teve Crowley para abrir sua mente.

Se manter um relacionamento amigável com o demônio fosse, de fato, um problema, o todo-poderoso já teria feito algo a respeito das atitudes de Aziraphale há muito tempo. Portanto, se o todo-poderoso não é contra, não há com o que se preocupar, certo? Provavelmente, embora o Céu não pareça querer entender esses pontos. Seria uma algazarra se alguém descobrisse do relacionamento dos dois.

E ainda assim, mesmo se sentindo relativamente seguro, principalmente pelo Todo-Poderoso não ter se mostrado contra durante todos esses anos de cooperação, apenas uma coisa que perturbava o coração de Aziraphale.

Crowley é tão... doce.

O demônio semicerrou os olhos. Ah, claro que o anjo diria essas bobagens meigas e enjoativas.

- Ngk! Não foi legaaal não, cê tá me ouviiindo? - Crowley franziu exageradamente seu rosto e apontou o dedo para Aziraphale. - Se o pessoal lá de baixo fica sabendo de uma coisa dessas... Ah! Cê num tem nooooção do que me aguarda.

O anjo se sentiu um pouco desestabilizado, no fim Crowley tem razão. Contudo, seja céu ou inferno, ninguém impedirá que, nesta noite, Aziraphale cuide do demônio. Afinal, depois de tudo, isso é o mínimo que ele pode fazer para retribuir os comportamentos arriscados do outro. No decorrer das eras, conforme ele observou os humanos, acabou se perguntando: O que é a ternura? O que é o afeto? E no fim, ele sempre soube, desde o momento em que as estrelas estavam sendo criadas. Afinal, foi lá onde tudo começou.

Uma felicidade genuína, um sentimento forte e caloroso que foi causado por aquele que o cativou.

Crowley.

- Eu tenho uma ideia quanto a isso. - Crowley o olhou curioso, oh, Aziraphale se sentiu bobo. Um pequeno nervosismo se espalhou por sua garganta, atrapalhando um pouco sua fala - Talvez poderíamos, não sei, hmm, sabe, enganá-los de alguma forma?

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