A livraria e o demônio embriagado

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A livraria estava um pouco bagunçada, alguns livros fora de lugar, pilhas e pilhas a serem organizadas em um sistema pensado para não atrair a atenção de um possível leitor. Afinal, é óbvio que Aziraphale jamais venderá um maldito livro, a menos, é claro, que seja muito necessário.

O demônio foi guiado a contragosto para uma pequena cômoda aveludada no canto. Ele murmurava sombriamente algo para o nada, se sentindo traído por Aziraphale ao ter se desvencilhado do abraço para colocá-lo ali.

O anjo, por sua vez, foi preparar um chá. O que na verdade, não passava de uma desculpa para pensar no que fazer em relação a Crowley, ele não podia deixar o amigo desse estado! E ele também não tem ideia do que fazer para ajudar.

Talvez cuidar? Perguntar como o demônio se sente? Ele deveria pedir se Crowley precisa de algo?
O anjo, por um momento, se sentiu de mãos atadas; E então, um brilho surgiu em sua mente. E se o anjo colocasse Crowley para dormir? Isso seria bom, não seria? Crowley gosta de dormir! É um dos poucos prazeres humanos que Aziraphale tem certeza que Crowley pratica.

Enquanto o anjo se perdia em meio a devaneios ao longe, Crowley estava sentado naquela pequena poltrona macia. A brisa noturna carregava algo doce no ar, Crowley suspirou com uma alegria repentina, se perguntando onde estava seu querido anjo. Sua mente repetia sem cessar: "Aziraphale."

Claro que outras coisas também ocupavam a cabeça do demônio, mas nada tão importante quanto o anjo. Apenas, bom, por que tudo parece tão girante? Tonteante?

Ah, é verdade, haha. O láudano. Crowley começou a rir, pensando o quão idiota as coisas são, e em meio a sua incapacidade de tomar atos lúcidos, ele teve de fazer um esforço para não cair do pequeno sofá, o que obviamente não funcionou, sua força para se manter ali parecia ter desencadeado algo. Tudo ficou gigante, ou talvez, ele tenha encolhido (de novo).

Crowley então percebeu. Por Satan, ele havia virado uma serpente. Crowley sibilou algo num linguajar serpentino.

— Crowley, meu bem, como você... —- Aziraphale disse adentrando aquela parte da livraria com seu chá — Pelos céus, querido!

Ele colocou o chá de lado.

— Sssss!  A serpente sibilou irritada, parecia que ainda estava incomodada de ter se afastado do abraço acolhedor do anjo.

Ela saiu rastejando rapidamente pela livraria, parando entre alguma abertura dentre as várias frestas por entre os livros. Aziraphale suspirou e a seguiu rapidamente.

— Crowley! Volta aqui! — Aziraphale se enfiou num canto específico de uma estante, ele tinha certeza que aquela belíssima serpente se escondia ali. E assim como esperava, lá estava ela, olhando com seus olhos brilhantes e dourados. Aziraphale sentiu como se estivesse sendo julgado -— Oh, Crowley. O que, em nome de Deus, deu em você?

— Ssss! — Sibilou a serpente.

— Oh, querido venha cá. Tudo bem, abraço-te de novo, hm?

A serpente o olhou.

— Oras vamos! — Aziraphale riu — Deixe de teimosia. Venha aqui, minha querida.

— Sssssss — Crowley tentou dizer algo a respeito, não conseguiu, já que serpentes não falam. Mas Aziraphale é um anjo, ele que se vire para entender! — ssssss, ssss!

— Oh, meu bem... minha querida...meu amor — Os olhos de Aziraphale se suavizaram — Você é tão bonita.

A serpente estremeceu, uma ternura tomou conta de seu ser.

O anjo sentiu que estava quase conseguindo, Crowley estava prestes a ceder. O anjo adoçou ainda mais o tom de sua voz, como se deixasse todo seu afeto transparecer em sua fala.

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⏰ Última atualização: Nov 04, 2023 ⏰

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