6 | purgatório

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A madrugada quente deu inicio a uma manhã um tanto fria, arrepiando a pele negra do peão que outrora estremecera de prazer na cama do garçom e sócio do Naitandei

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A madrugada quente deu inicio a uma manhã um tanto fria, arrepiando a pele negra do peão que outrora estremecera de prazer na cama do garçom e sócio do Naitandei. Sorrateiramente, da mesma forma que entrou, Ramiro partiu. Deixando um vazio na cama de Kelvin e em seu próprio coração.  Assim que entrou na caminhonete úmida pelo sereno, todas as vozes que tinham se calado durante o momento mais incrivel de sua vida, retornaram, espancando a mente do peão de uma só vez. Sem saber ao certo o que estava acontecendo consigo mesmo, sem saber como lidar com o fato de que estava apaixonado por outro homem, sem saber o rumo que sua vida tomaria daquele dia em diante, Ramiro chorou. As lágrimas rolavam tão depressa que era dificil controlar a respiração devido a abundância de soluços. Sua alma estava em agônia. E o que mais lhe surpreendia e lhe atormentava é que não era por culpa que seu pranto caia, era por vontade de se entregar ainda mais. 

Um medo desenfreado castigava seu coração que rebatia com a vontade gritante de viver esse amor. Sentimentos tão conflitantes eram muito para aquela mente fechada de um homem que se criou no interior saber entender. Amar Kelvin parecia tão errado, ao mesmo tempo que, pensar em se afastar parecia ainda mais. 

Antes de dar partida, Ramiro se lembrou do sonho que foi o combustivel para que ele invadisse o quarto de Kelvin daquela forma. Nele, o peão estava amarrado a um poste de madeira no meio da mata onde trabalhava, com a boca também amarrada, observando alguns homens puxando Kelvin pelos braços, arrastando suas botas lindas e impecaveis naquele chão e o posicionando na frente do moreno assim que chegaram perto o bastante. Ramiro sentiu um nó em sua garganta ao ver o rosto sempre tão limpido, agora inchado, repleto de hematomas. E foi quando Antônio Laselva apareceu com uma tesoura de jardinagem, aproximando-se demais da boca do loiro, que Ramiro foi acordado por seu próprio grito de pânico. Ele despertou suado, com os olhos marejados e com uma vontade gritante de tomar seu pequeno nos braços e ama-lo como se fosse o último dia de vida dos dois. 

E foi isso que ele havia feito, só não esperava se martilizar tanto por ceder aos seus desejos. 

Com a caminhonete agora em movimento, o peão tentava se acalmar, tentava afastar as lembranças do beijo quente e macio, das peles roçando uma contra a outra, do tesão que ele nunca havia sentido por uma mulher, do cheiro doce e envolvente que ainda estava grudado em seu próprio corpo. Mas todas as tentativas foram em vão. Era gostoso lembrar de Kelvin nu, gemendo seu nome, pedindo por mais. E tão doloroso pensar no que essas novas sensações poderiam significar para os outros. Principalmente para seu patrão. 

Se sentindo sem rumo, travado e perdido. Ramiro continuou dirigindo até chegar na estrada onde trabalharia em breve. O local estava vazio, sem a agitação de seus colegas de trabalho, sem as perguntas constrangedoras que sempre faziam e que ele quase nunca sabia como responder sem usar a sua famigerada frase ("me respeita que eu sou macho"). Estava só ele e o nascer do sol, carregando uma singela esperança, quase ofuscada pelo temor que sobrecarregava suas costas. Choroso e sonolento, o peão tirou o sinto e se encolheu feito uma criança no banco, sem lutar contra a vontade de fechar seus olhos inchados. Longe dos lençois macios de Kelvin, Ramiro caiu em um sono agitado e confuso. Até ser acordado novamente pelas batidas incessantes na janela da caminhonete. 

AMOR DE INTERIOR | kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora