Capítulo I - Luz, Câmera, Corra!

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۝ Mitsuo ۝

A primeira vez que vi Rafaela foi como uma chama se acendendo na lareira em dia frio de inverno, eu estava congelando, matando e esfriando pouco a pouco até... Que surge a luz dela, me aquecendo, me fazendo vivo.

Ela era tímida, eu também era um pouco, os nossos olhos se encontraram certa manhã e pude ver o mundo com outra visão, alguma coisa brilhou em mim... Meus olhos abrem e vejo Rafaela me encarar com curiosidade, a magia não acabou, mesmo quando desviei meu olhar.

Sentia que a cada momento minha alma me transformava, me deixava ansioso toda vez que a via, me enlouquecia como um belo e fofo brinquedo que uma criança anseia, e cada vez que ela vê a propaganda, ela quer ainda mais ele.

A forma vampiresca não me ajudava, era a que mais me prejudicava no final, pois, sem perceber, quando eu e Rafaela estávamos a sós na sala, me sentia ansiando chamar ela para sair, para namorar, para ser minha...

Deu medo isso, não é?

Era por isso que me controlava. Sabia que a moça poderia se assustar, e eu jamais quis a verdade, sempre a mentira, que era só um jovem apaixonado. Mas não, poderia muito bem acabar hipnotizando-a e fazendo algo que ela não queira...

Não. O amor deve ser mútuo.

Respirava fundo, conversava com ela, sem mencionar a minha vida, até porque alguns alunos nunca perguntavam coisas pessoais com pessoas que não conheciam. Rafaela é uma delas.

Queria a moça, mas tinha medo de não ser correspondido ou que tudo desse errado.

- E daí?! - Bati o pé. - Se ela não ligar para ti, então você pode escolher outra!

Acontece que não era tão fácil. Quando fui, na primeira vez, perguntar para ela, fiquei atrapalhado:

- Rafaela...

- Oi, Mitsuo?

- Eu... Eu... Queria saber como você está.

Plano fracassado.

Fiquei nervoso:

- Oi...

- Mitsuo? Como vai?

- Vou bem... Será que você... Ah! Esquece!

Novo fracasso.

Enfim, eu não sabia como lidar com aquela moça, pois amava-a tanto que nem sabia o que fazer se seu coração não me amasse.

Foi quando tudo acabou dando errado.

A Rafaela começou a faltar muito, fiquei até preocupado, achando que estava doente, só que eu nem sabia onde ela morava, e sabia que as amigas delas formavam um grupo de fofoca.

Minha única opção foi achar que Rafaela só estava viajando, que ela iria voltar, que eu deveria ter falado com a moça antes...

Eu era um idiota!

۝ Rafaela ۝

A casa da minha avó, que coisa boa, visitar os familiares, os tios, as tias, saber que você vai ser tirada de sua antiga casa para ter só para você alguma outra.

Sim, eu iria me mudar.

۝ Mitsuo ۝

Passei dias observando a carteira dela, não havia sinal da moça em lugar nenhum, me preocupei cada vez mais. Será que ela está bem? Doente?!

Pare com isso! Seja homem!

Me acalmei. A professora ainda explicou a matéria, mas eu me concentrava nela, cadê ela? Será que estava bem? Eu... Me esqueci até que era um vampiro.

Foi quando tudo aconteceu.

Eu me esqueci completamente disso. No dia da formatura, estávamos indo num baile, o meu primeiro pedido seria para Rafaela, só que, como ela não estava, tive que ir com a outra amiga dela, que me amava.

Dançamos e rimos, só que tudo acabou, um pouco antes da meia noite, eu vi tudo, meus dentes se tornam pontudos, meus olhos são vermelhos como sangue que anseio, fiquei olhando para a jovem, eu não queria atacar a amiga de Rafaela...

Fugi, tentando atacar alguém, mas acontece que todos estavam me perseguindo, acham que era fantasia, foi quando descobriram o corpo de um antigo assassino no porão.

Eu iria saciar minha sede, mas fugi, todos se olharam espantados, eles sabiam o que fiz e nunca iriam me perdoar, senti que era hora de ir embora. Sabia que precisava, afinal, a Rafaela não estava... Mas ela saberia, num futuro distante, quando voltasse para essa cidade.

- Onde está Mitsuo? - Ela perguntaria.

- Virou um vampiro e matou um homem! - O povo diria.

Rafaela gritaria e não me perdoaria jamais. Eu sofri com isso durante todo o percurso, o meu destino atual se chama Datshye, muito longe da minha antiga cidade, era isolada e não havia nenhuma notícia atual desde um ano entre 1536 até 1654.

Fiquei lá, pensando, refletindo, minha luz se apagando, minha insanidade tomando e me sugando, me devorando, fiquei triste, os meus olhos vermelhos me fizeram querer o sangue de pessoas.

Eu me tornei o que sempre fui, um vampiro que ama sangue e ama matar.

Fui começando a saciar-me em cidades não tão próximas, não sentia mais nada, estava louco, não sabia o que fazer, nem o que iria fazer em seguida, mas eu queria alimento, mesmo que não precisasse, isso iria tornar a minha pele mais humana e perfeita, me tornaria ideal para qualquer garota.

Mas eu sabia que, lá no fundo, eu só queria a Rafaela.

Começo a esconder corpos. A polícia nada suspeita. Eu odiava e amava aquela vida, é um negócio louco e uma antítese magnífica que achei para tentar parar de sofrer.

Eu me tornei gelo, me tornei maligno, meus olhos se tornaram cinzas avermelhados, se alguma garota olhava-os, se apaixonava na hora, sem ser vaidoso, era quase isso o que acontecia, eu atraía as pessoas. Era como o feitiço que possuía, um dos meus poderes.

Era um feitiço.

Era uma maldição.

Fiquei pensando, e se Rafaela voltasse a me ver? Se ela soubesse de tudo e me odiasse? O que eu faria?

Eu não queria hipnotizar a moça.

- Você quer isso! - A parte vampira pensou, eu compartilho a loucura em minha mente e corpo.

- Não! Eu não quero! - Gritei para o além.

Eu andava me enlouquecendo...

Cada dia mais...

Era como o Chapeleiro Maluco depois que a Alice o abandonara...

Ele continuava louco...

Mas, em algumas versões, ficou mais louco depois que Alice não voltou.

Eu era ele.

Lua De Sangue ( Livro 1 )Onde histórias criam vida. Descubra agora