Turning - Novel BL (Parte 2)

Capítulo 268

Antes de acordar seus companheiros para a partida, Ejain observou em silêncio por um tempo a figura de Kishiar em retirada, que havia colocado o boné de volta e estava enviando o pássaro mensageiro. Ele havia pensado várias vezes se deveria ou não descartar o elástico de cabelo que segurava na mão, mas no final não conseguiu. Foi porque as palavras de Kishiar continuaram ecoando em sua mente.

"Você não pode continuar descartando coisas para viver."

Parecia uma frase que perfurou toda a vida de Ejain, como se o tivesse observado desde o seu nascimento. Para sobreviver em um ambiente cheio de inimigos, ele jogava fora incansavelmente tudo o que possuía, se necessário. Mas ninguém jamais disse tal coisa a Ejain.

Aos olhos dos outros, Ejain era um príncipe magnífico que serviu seu povo apesar de inúmeras dificuldades, e se tornaria o Rei de Nelarn, um ser que salvaria o mundo. Tal entidade não poderia ser influenciada pelas emoções humanas. Ele acreditava que não deveria se apegar a nada, visto que nasceu como príncipe, enquanto ainda havia pessoas carentes em todos os lugares que possuíam muito menos do que ele. O carinho de sua família, seus servos que eram como amigos, as lembranças de sua mãe, nada disso era mais precioso que sua vida e o futuro de Nelarn. Eles não poderiam estar.

Mas hoje, pela primeira vez, ele ouviu um contra-argumento de que poderia seguir em frente sem descartar coisas preciosas. Foi uma declaração verdadeiramente estranha.

Kishiar La Orr era um ser que não tinha congruência com nenhuma informação que Ejain conhecia originalmente. De acordo com os dados que reuniu antes de vir para o Império, ele ouviu dizer que Kishiar era um corpo fraco, apaixonado por prazeres e um símbolo do Império em declínio, mas o homem diante de seus olhos era completamente diferente.

Apesar de uma aparência aparentemente mimada, como se tivesse vivido uma vida luxuosa, ele sentou-se no chão sujo da maneira mais casual, descansou o corpo e guardou o ambiente com mais vigilância do que qualquer um. O julgamento calmo visto por trás de sua atitude aparentemente brincalhona sugeria que ele tinha controle preciso sobre a razão e a emoção.

Um autocontrole que às vezes parecia cruel. Mas o que ele deveria concluir sobre se sentir muito humano em alguns aspectos?

'Essa fé inexplicável que o homem demonstrou vem daí?'

O olhar de Ejain mudou para a bainha da espada que se projetava ligeiramente na parte de trás da capa de Kishiar. Ele ainda se lembrava vividamente do choque quando desembainhou a espada pela primeira vez e destruiu um canto da floresta. Os magos, que sabiam pouco sobre espadas, podem ter sido enganados por sua exibição de esgrima como um poder do Despertador, mas Ejain, que havia agarrado ferozmente a espada para proteger seu corpo por um longo tempo, não caiu nessa.

Ejain não sabia exatamente quais poderes Kishiar La Orr possuía como um Despertador, mas sem dúvida não estava relacionado à esgrima. A esgrima que ele demonstrou até agora não foi uma habilidade adquirida em um momento, mas o resultado de um treinamento constante durante um longo período.

Fraco e estúpido? Quem disse isso?

Até enfrentar Kishiar diretamente, Ejain pensava que as mudanças ocorridas no Império se deviam inteiramente à intenção do Imperador Keilusa. Ele não teria decidido visitar o Império pessoalmente se não tivesse sentido a onda positiva no estagnado Império Orr devido aos rumores que se espalharam por todo o continente relacionados à Cavalaria. Caso contrário, Ejain teria procurado outros lugares.

Contudo, depois de conhecer Kishiar e observá-lo, ele sentiu a necessidade de revisar significativamente seu pensamento. As mudanças ocorridas dentro do Império não foram obra apenas do Imperador Keilusa. O belo cavalheiro diante de seus olhos era, na verdade, o verdadeiro braço direito do Imperador, sua espada e, além disso, alguém que compartilhava de sua mente.