Enid só queria viver sua linda história de amor. Saiu de casa cedo, crente de que viveria a vida perfeita com seu namorado, agora esposo. O que ela não sabia era que a vida dela viraria um inferno. A violência doméstica, os abusos, os xingamentos. T...
Desde que voltamos de viagem, estamos seguindo uma rotina igualitária. Wednesday esta trabalhando muito então sai cedo e volta tarde. Eu fico o dia inteiro em casa cuidando de Bella.
Porém tem um diferencial, o morro está em guerra com a polícia. A PM está invadindo sempre e infelizmente ferindo e até matando pessoas. Na verdade desde que Wed matou o mandante da missão, a polícia está caçando ela a muito tempo.
Eu sempre fico angustiada quando Wednesday vai para a boca. Eu temo que em um desses dias ela não volte pra nossa casa. As vezes me pego chorando sentindo uma dor no peito pensando que tudo que esse povo está passando é por minha culpa. Eu estou aqui, segura e eles estão indo trabalhar e sendo baleados no caminho.
Wednesday sempre fala que não é culpa minha, mas eu sei que é. Se eu não estivesse aqui, nada disso tinha acontecido.
Nessa manhã não foi muito diferente, os rojões avisaram que a polícia estava invadindo novamente e Wednesday prontamente levantou da cama para trocar tiros com a polícia novamente.
Seguimos sempre o mesmo protocolo. Eu pegava Bella e me escondia no quartinho.
Era sempre o mesmo pânico, as pessoas tinham parado de andar pelas ruas. As áreas de lazer ficavam vazias por que o povo tinha medo de sair nas ruas, já que a policia poderia invadir a qualquer momento.
- Toma cuidado, por favor! - Pedi para Wed e ela afirmou com a cabeça, me dando um selinho.
- Fique no quartinho, valeu? Eu ja volto. - Falou com a voz cansada e saiu.
Fiquei no quartinho com Bella, Morticia e Larissa. Ambas ficaram prontamente de guarda.
Eu já estava ficando cansada daquilo. Todos passando sufoco por minha causa.
(...)
Ficamos lá no quartinho e dessa vez parece que demorou bem mais do que as outras vezes. Já faziam horas que estávamos lá sem notícia alguma de ninguém.
- Abre aqui, sou eu. - Era a voz de Xavier. Sua voz cansada me deixou preocupada.
- Xavier, cadê Wednesday? - Foi a primeira coisa que eu falei. Eu estava me corroendo de preocupação.
- Na UPA. - Meus olhos se arregalaram.
- O que? O que aconteceu? - Foi Morticia que perguntou porque eu estava paralisada, querendo chorar.
- Com Wednesday nada, mas Eugene foi baleado. - Ele explicou, eu senti um alívio apenas momentâneo. Mas quando ele falou sobre Eugene eu já quis chorar de novo.
- O que? Como assim? Ele é só um menino! - Falei já quase desesperada.
- Foi os tiras. Eugene tava saindo para a escola, assim como muitas outras crianças. Mas os caras não tem um pingo de dó. - Contou com raiva. - Eles já chegaram atirando e eugene acabou sendo baleado. - Explicou e eu já estava chorando. Eugene é um menino muito especial.
- Wednesday está lá com ele? - Perguntei e ele assentiu.
- Me leva pra lá, Xavier! - Pedi e ele assentiu. - Cuida da Bella pra mim, por favor. - Pedi para morticia que concordou.
As lágrimas caiam do meu rosto enquanto descia o morro na garupa de Xavier. O cenário era de pura guerra. Haviam pessoas mortas no chão, homens de Wednesday e até pessoas inocentes. Eu não conseguia tirar da cabeça que tudo isso era minha culpa.
Corri para dentro da UPA assim que Xavier parou a moto. Fui a procura de Wednesday e quando escutei uma gritaria, sabia que ela estava lá.
- Mas Wandinha, estamos com muitos baleados! - Escutei uma voz calma.
- NÃO INTERESSA CARALHO! É UMA CRIANÇA, VOCÊS TEM QUE DAR PRIORIDADE! - Wednesday gritou de volta e eu pude ver ela apontando uma arma para o medico, que estava assustado.
- Wednesday! - A chamei e ela virou para mim. Eu corri para abraçá-la fortemente. - O que está acontecendo? - Perguntei tirando aquela arma da mão dela, se não ela faria alguma besteira. Entreguei para Xavier.
- Não querem fazer cirurgia no Eugene! A porra da UPA tá cheia! - Falou furiosa e eu engoli o choro para ser forte por ela.
Pude ver as mães de Eugene chorando em um canto do hospital. Era de cortar o coração. Porém quando uma delas me viu, apontou para mim.
- É tudo culpa sua! - A mãe dele apontou chorando e eu fiquei sem reação. - Desde que você chegou a polícia não está dando paz pros moradores! É CULPA SUA! - Ela gritou e eu chorei.
- NÃO FALA ASSIM COM A MINHA MULHER, PORRA! - Wednesday gritou de volta e a mulher se assustou, querendo chorar.
Eu fiquei calada. Ela tinha razão. É realmente tudo culpa minha e eu me odeio por isso.
- É o seguinte, eu vou mandar Eugene pro particular mas eu não quero vocês falando um aí da minha mulher, tão ouvindo caralho? - Wednesday estava muito preocupada com Eugene e eu sabia disso. Ela estava sendo forte por ele.
- Muito obrigada, Wandinha! - A outra mãe dele falou.
- Enid, vai pra casa. - Wednesday falou. - Depois que eu resolver esse b.o eu volto. - Falou e eu neguei.
Eu percebi que ela estava segurando o choro, Eugene é a pessoa muito importante pra ela.
- Não, vou ficar com você. - Falei porque sabia que ela precisaria de mim.
- Enid... - Começou.
- Vem, vamos conversar rapidinho. - Peguei seu braço.
- Agiliza aí a ambulância porque o moleque vai pro copa d'or. - Ela falou apontando pro médico e ele assentiu com medo.
A levei até um lugar afastado e ela sentou em uma cadeira metálica, me puxando para sentar em seu colo.
- O que foi? - Perguntou e eu Segurei seu rosto.
- Você sabe que não tem problema chorar um pouco não é? - Falei séria, olhando em seus olhos.
- Enid...
- Eu sei o quanto Eugene é importante pra você, não precisa ser durona o tempo inteiro. - Falei calma e ele ficou em silêncio por alguns segundos.
E então eu ví uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Acariciei seus cabelos e ela enfiou a cabeça no meu peito, chorando. Eu a abracei, confortando ela.
‐ Chorar é coisa de boiola. - Ela fungou. - M-Mas isso é tão injusto, Eugene é só uma criança porra! Porque fazer isso? - Ela Indagou indignada e eu dei o espaço necessário pra ela desabafar.
- Chorar é coisa de ser humano, meu amor. - A corrigi e ela me abraçou mais apertado. - Mas Eugene vai sair dessa, eu tenho fé. - Falei dando um beijo em sua cabeça.
- Acertaram ele com cinco tiros! Cinco tiros em uma criança, Enid! Porra, eu juro que quando eu encontrar o filho da puta que fez isso, eu vou torturar até ele pedir pra morrer. - Sua voz ficou fria, mas ela ainda chorava.
- Não pense nisso agora, meu bem. Pense em mandar energias positivas para Eugene. - Falei e ela assentiu.
Ela ficou mais um tempinho comigo, até o médico vir falar que a ambulância chegou. Ele seria levado para um hospital em Copacabana.
Eu estava muito preocupada com o estado de saúde de Eugene e aquele sentimento de culpa me corrompeu novamente. É tudo culpa minha.
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