Onde o ar aquece em meio a friagem

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notas do autor: Ola querides, eu voltei, depois de alguns meses (vários) com essa aqui que ficou juntando poeira, mas consegui terminar. Enfim, espero que não tenha perdido a fé em mim.

espero que gostem.

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Nas noites de sexta feira os morados de um diminuto vilarejo na ilha de Inisheer a sudeste de Inishmaan, se reúnem em um pub muito conhecido e se esbaldam da melhor cerveja que o velho Barton, um homem robusto, de cabelos louros e expressão simpática, tem a oferecer; eles se sentam nas cadeiras e até mesmo no chão apenas para se sentirem aquecidos e ouvirem histórias mirabolantes que ocorreram há muito tempo e muito longe da fria Irlanda; geralmente essas história são contadas por Clint, ou por um de seus amigos que o visitam regularmente.

Vez ou outras, nas noites de sexta feira, uma mulher de madeixas negras adentrava o pub, acompanhada de um rapaz de pele escura, e os dois se sentavam em uma das mesas ao fundo, ouviam o relato com atenção e depois se juntavam a festa, bebiam e dançavam o resto da noite. Ao raiar do sol, o rapaz apanhava a mulher em seus braços e a levava para casa, o caminho era repleto de gargalhadas, os dois dormiam assim que chegavam na residência. E talvez na próxima sexta, ou na outra, repetissem; tudo isso sob o olhar atento de Clint, ele achava adorável a relação dos dois amigos, ainda que estivessem com seus quase trintas anos, eles agiam como adolescentes e esqueciam suas responsabilidades nas noites de sexta.

Entretanto, os dois não houveram de aparecer nas noites de sexta e depois de um tempo, apenas a moça era vista sentada, com um grande copo de cerveja em mãos e um semblante melancólico, digno de pena. Seu amigo, parceiro de vida e de bebedeira nas noites de sexta, fora mandado para uma guerra sem sentido, assim como as outras; ele estava tão longe quanto poderia, ainda que estivesse apenas do outro lado do rio, a distância parecia maior.

O velho Barton nada pôde fazer para consolar a mulher, os treinos de arco e flecha e até mesmo os passeios com seu cão, Lucky, não a estavam animando como fazia antigamente.

Não era uma noite de sexta, era quarta feira e eram duas horas da tarde, a mulher estava com o rosto enterrado entre os braços no balcão do pub, tão bêbada que mal podia manter os olhos aberto, mas ela conseguia falar, e deus como essa mulher falava. Ainda que sua dicção a atrapalhasse na mínima sentença, ela tagarelava, sobre a guerra, sobre o vilarejo, ou sobre qualquer assunto que lhe ocupasse a mente. Foi na tarde de uma quarta feira, que a porta do pub foi aberta com tanta agressividade que tornou o ar quente do interior aconchegante, em uma brisa gélida; conduzindo uma mulher de baixa estatura, cabelos loiros, mandíbula firme e rígidos olhos caramelo.

"Vodka, por favor." A mulher pediu carrancuda, Clint assentiu e tratou de arranjar uma bela garrafa de vodka nos fundos, essa não era uma bebida muito requisitada.

"Você é russa?" a morena perguntou, sua voz era arrastada e ela não ousou levantar o rosto do balcão. Não houve respostas, então ela prosseguiu. "Russos tomam vo-vodka, não é? É como águaaa." A loira mordeu o interior da bochecha. Ela era russa e gostava de vodka, um estereotipo ambulante ela pensou.

"Não sou russa, apenas gosto de uma boa bebida." Deu de ombros agarrando o copo de álcool assim que lhe foi entregue. O fervor desceu pela sua garganta e sobreaqueceu todo seu corpo, ela rugiu.

"Você é vermelha?" tornou a mulher morena, dessa vez encarando a de olhos castanhos, que percebeu a diferença visível de altura. "Vejo vermelho nos seus olhos." A loira refletiu sobre a afirmação. Era tão visível todo o sangue que ela carregava em seu passado?

Breves Contos De KatelenaOnde histórias criam vida. Descubra agora