Correndo Da Realidade

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SUFOCO

Por que aquilo estava acontecendo comigo? Essa era a pergunta que eu fazia sempre que sentia aquela pontada no peito, que me lembrava do meu pesadelo.
Meus pais são cristãos, eu sou cristã, nascida e criada em berço evangélico,meu avô paterno sendo pastor e meu pai uma pessoa importante, respeitada e bem vista na igreja, a minha infância foi na igreja, mas, eu não entendia por que Deus permitiu que meu tio fizesse aquilo comigo, eu perguntava, mas nunca obtinha resposta, era angustiante, principalmente para uma criança de 11 anos.

Passado alguns meses, eu já tinha um certo entendimento sobre o que de fato aconteceu comigo, era agoniante o bolo que se formava em minha garganta todas as vezes que fechava os olhos e flashes daquele dia consumia minha mente ou até mesmo de escutar o nome dele, sempre alguém o bajulando pelo "homem" que ele era. Acho incrível a forma que as pessoas bajulam umas as outras sem as reconhecer de fato, mas era isso que eu vivenciava em minha família.

Esgotada de toda aquela situação, enquanto voltava da casa da minha vó aonde tudo aconteceu, eu chamei meus pais para conversar, meu pai chegou primeiro, sentada no sofá com ele em pé ao meu lado perguntando o que aconteceu pelo meu desespero, nenhuma palavra saía, toda aquela coragem esvaiu no momento em que olhei nos olhos do meu pai, como eu iria falar pra ele que o irmão dele tentou estrupar sua filha ? Como? Era como se alguém estivesse me enforcando, me impedindo de falar, com a voz falha e muita baixa eu falei "o Elias", foi a única coisa que saiu de meus lábios. Meu pai arregalou os olhos, como se só aquilo fosse necessário para ele saber o que houve, então ele fez a pergunta que eu mais temia, "ele tentou algo com você?", com minhas vistas embaçadas por conta das lágrimas que caiam livremente pelo meu rosto, apenas balancei a cabeça em concordância e logo em seguida ele fez a pergunta chave, "Ana Paula, ele tocou em você?", da mesma forma que dá primeira vez eu concordei, com a diferença de um "sim", baixo, mas o suficiente para ele escutar.

Foi com aquele susurro em forma de súplica que minha vida desmoronou...