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                           DESESPERO

  Era quase aniversário da minha irmã, e estávamos preparando uma festa de 15 anos para ela, fomos em umas lojas atrás de decoração e lá estava ele. De início eu não cheguei perto, mas meus pais estranharam por eu ser apegada a ele e sempre pedia bença quando o via, mas lá estava eu, tentando miseravelmente me esconder atrás do meu pai. Em passos lentos cheguei perto e apenas disse "bença", ele respondeu "Deus te abençoe" com um sorriso de orelha a orelha.
Como prometido, em todo lugar que eu ia ele estava atrás, ele começou a ir mais vezes na minha casa, ate eu começar a ter medo de andar na rua e só sair quando meus pais estiverem juntos.
  Os meses foram passando, e ele se mudou, me deixando um pouco mais em paz, porém o medo me perseguia, era como se eu estivesse em um labirinto, perdida na minha própria mente e na minha vida, com ele atrás de mim, eu corria por esse labirinto, eu corria dele, mas na minha cabeça uma hora ele iria me achar e me machucar ou até algo pior

10 ANOS

  Um ano se passou e eu continuo na mesma, vivendo assustada e com medo, agora qualquer coisa me assusta, não sei, talvez seja medo de que ele volte e me machuque ou é só mais um dos traumas que ele me deu de presente (sentem a ironia). Uns meses atrás tive minha primeira menstruação, virei "mocinha", como algumas pessoas falam, mas se eu soubesse que viria com uma cólica do cão, eu iria preferir nascer homem.
Os desastres na minha vida começaram cedo, eu diria que tirei um sorte grande.

Eu era nova de mais, não sabia ao certo o que fazer, não entendia o que estava acontecendo comigo, aquela dor no peito que crescia a cada dia, começava a se fazer parte do meu dia a dia. Sempre que olhava para meus pais eu tentava formular uma frase, alguma coisa, mas era como se duas mãos segurasse meu pescoço e me impedia de falar, eu estava presa na minha própria consciência, o que estava acontecendo comigo meu Deus ? Eu comecei a ficar agressiva, batia nos colegas da escola, meu corpo mudou totalmente, ficando muito avantajado para uma criança, mas todos diziam ser fase de crescimento. Eu engordava e emagrecia, começando a ficar com estrias e celulites pelas partes de baixo.

As pessoas foram se afastando e eu mudando cada vez mais, deixando o espírito de criança, deixando de brincar e focando apenas nos estudos. Meus pais e nem ninguém nunca repararam nessa mudança, mas eu, não me reconhecia mais, não sabia mais quem eu era, e muito menos de onde vinha toda essa desgraça.

Estava na minha vó perpétua, comecei a ficar muito lá depois do que aconteceu, meu pai me chama pra ir embora, fui na frente e sentei no banco do passageiro, quando meu pai estava vindo pro carro, minha vó chamou ele pra olhar a tampa do vaso que tinha saído, e ele foi lá arrumar, como ele disse que n iria demorar eu esperei dentro do carro, mas logo senti uma sensação estranha, e o carro começou a descer, estava em uma descida, eu fiquei muito assustada e comecei a gritar, com medo de acontecer algo eu abri a porta do carro e pulei, mas o meu vestido ficou preso na porta e quase que a a roda passa por cima de mim, eu rolei várias vezes no asfalto, ficando toda machucada, o meu carro acertou duas motos e um carro, não foi grave, apenas uns raspados, nem amassou nenhum deles. Meu pai foi resolver com os donos dos veículos e eu entrei na casa da minha vó, ela me deu água com açúcar pra acalmar, pois estava tremendo de susto. Após resolver tudo com os donos fomos pra casa da minha vó Raquel e só lá meu pai viu meus machucados (alguns bem feios), perguntou se eu queria ir no hospital, mas como toda criança falei que não, então apenas lavamos e passamos uma pomada. Entrando na minha vó Raquel, meu pai começou a contar do ocorrido, e ficaram conversando, eu não me sentia a vontade ali, aquela casa, onde tudo aconteceu, eu não estava conseguindo mais ficar ali e pra piorar logo minha vó começou a falar do meu "tio", uma vontade absurda de vomitar me consumiu, então fui pra fora pra não ter que ficar escutando ela falar dele.

Os dias foram passando e eu continuava na mesma, cada vez mais com uma maturidade que não deveria ter para minha idade, nem se quer tinha feito 11 anos. Comecei a me concentrar apenas nos estudos, sendo a melhor da turma, tirando apenas 10 em todas as matérias, era o que estava me salvando, estudar, tentando dar orgulho aos meus pais...

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