03 - Questões com várias camadas

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O tempo parecia não passar. Eram muitas as dúvidas e os problemas só se acumulavam. Ainda não tinha notícias do irmão. A mãe continuava em sua rotina, na esperança do retorno do filho e a cada dia estava mais abatida. Havia mais de uma semana desde de que saíra com Peter. Se sentia aliviada, pois o que quer que o pequeno garoto fez, aparentemente serviu para assustar o outro rapaz. Mas Lily ainda não sabia dizer o que vira naquela noite. Em parte preferia acreditar que estava ficando maluca, mas a realidade a lembrava que nada era tão simples. De alguma forma o garoto conseguiu nocautear Peter, que acordou alguns minutos depois e foi embora sem tornar a aparecer.

Não conseguir focar nas aulas, já não era novidade, mas agora não tinha ideia alguma de como tirar esses pensamentos. Sentia que esquecia qualquer assunto que tivessem tratado em aula, imediatamente assim que saísse do curso. Se via constantemente pensando nos problemas, inclusive ao longo da aula. As horas no trabalho serviam para aliviar um pouco a mente do turbilhão de pensamentos. Trabalhar a distraia, pelo menos um pouco. Enquanto houvessem clientes e ordens para atender, sua mente se ocupava com algo diferente, afinal o serviço exigia alguma mínima atenção e isso foi o que a mantinha sã em meio a maluquice que fora tudo envolvendo o garoto-azulão, que era o centro de seus pensamentos. Não conseguia se esquecer do olhar do garoto, de sua transformação ou da cor evidente e inconfundível que vira. A sensação que sentiu ao vê-lo, estranha a princípio, pois não sabia se aquilo queria dizer algo claramente. Mas depois de tentar digerir aquela cena em sua cabeça várias vezes, podia dizer que de alguma forma aquela criança a protegeu, ou pelo menos se manifestou de alguma forma para se posicionar entre ela e Peter. Não sabia explicar aquela estranha sensação, mas sabia que era algum tipo de conexão, algum tipo de empatia ou algo instintivo talvez. Podia sentir no fundo algo que lhe dizia que confiava naquele garoto e que ele fez o que fez protegê-la.

E assim os dias continuaram a passar, um após o outro e a sensação de incerteza se tornava cada vez mais sufocante. Não sabia mais quanto tempo poderia aguentar sem respostas. Contudo, sabia que estava aguardando muito e sentia que precisava começar a agir de alguma maneira, senão as respostas não viriam.

Decidiu que o primeiro passo seria ir atrás de informações sobre seu irmão, afinal já estava tempo demais sem notícias do caçula. Visitou Gustavo e Pablo, mas ambos não tinham notícias de Marcos há mais de um mês, perguntou ainda se sabiam o que o irmão poderia estar fazendo e o único palpite era que tivesse com alguma garota, mas nenhum tinha certeza.

Isso agravou suas preocupações, pois o irmão poderia estar com alguma complicação mais séria e nem seus amigos sabiam com o que eles estavam envolvidos.

Passou também pelos lugares da cidade onde o irmão gostava de ir. No Colégio do Vale Verde, os alunos de sua turma não tinham informação alguma. Em seu trajeto passou em frente à loja da família Green, Peter avistou-a e logo se recolheu para dentro da loja, estranho, mas melhor assim. No Bar do Gomes, que era o favorito de Marcos, inclusive por algum motivo o irmão chamava o local de Copo Sujo, Lilian nunca perguntou o porquê. Nada, nenhum sinal do irmão. Em lugal algum.

Sentou pra descansar um pouco em um banco na Rua Professor Rafael Ramos, próxima da prefeitura, estava pensando em ir à polícia. Já deveria ter ido na verdade. Mas tentava reunir seus pensamentos para ter certeza se era uma boa ideia ou não. Como contar isso aos policiais? Já fazia quase um mês sem notícias do irmão. Apesar de suas escapadas, não era do feitio dele ficar tanto tempo desaparecido assim. O pior era não ter nenhuma pista sobre o que ele estaria fazendo. Se estivesse envolvido em algo que a polícia não deveria saber, seria ainda pior. Era um impasse.

Foi então que Lily percebeu no céu um pontinho azul. Aquele azulão mais uma vez estava próximo. E Lily poderia jurar que a estava encarando. Não sabia como isso era possível, mas se realmente um garoto pudesse se transformar assim como ela viu na noite do ocorrido com Peter, não havia dúvidas, por algum motivo esse garoto-azulão estaria a seguindo?

O legado de RhognarOnde histórias criam vida. Descubra agora