Capítulo - 03

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   A grama verde sob meus pés estava úmida e contornava um amontoado de terra onde Raysa se encontrava agora, cemitérios são lugares tristes, e mesmo com todas as belas flores e plantas pensar que embaixo daquela terra está repleto de cadáveres é aterrorizante, porém o mais aterrorizante de tudo é pensar que eu nunca mais verei a Raysa novamente, e que eu recebi todos os sinais para salvá-la e não fiz absolutamente nada.

   Em minha dor eu me ajoelhei próximo a terra fresca e coloquei minha mão entre os grãos de areia eu queria poder segurar a mão dela mais uma vez, como isso não seria possível esse seria o tipo de conexão mais próximo que eu conseguiria. Sentia que devia falar mais uma vez e não sei se ela me ouviria, mesmo assim falei baixinho:

   — É muito difícil te ver partir e saber que o nosso último momento junto foi terrível, se eu pudesse voltar aquela noite faria tudo diferente, espero que saiba que eu faria mesmo, você sempre foi especial para mim, e eu nunca te falei isso em vida, mas sempre soube que você sentia! — Com a dor em meu coração, apertei um punhado de terra em minhas mãos e falei. ­ — Eu te amo!

   A lagrimas que escorriam pelo meu rosto levavam as minhas palavras, a minha voz sumiu no ar deixando o silencio do cemitério ressoar, o vento soprava forte e mesmo assim em minha angustia me faltava ar, ofegante me levantei e segui por um caminho de flores azuis. Mesmo em meio ao silencio ouvia uma risada estremecedora, sentia que somente eu estava ouvindo quele som bizarro que soava cada vez mais alto fazendo minha cabeça zumbir e doer, causando uma pressão cada vez maior e entre as gargalhadas ouvi um chamado:

   — "Raysa!"

   Aquilo me deixou confuso, não sabia o porquê daquelas risadas me perseguirem, e com tamanha perturbação tudo o que eu sentia era medo até que eu não sentia mais nada.

   Acordei no hospital, desmaie entre as flores azuis e causei uma grande confusão no cemitério, pois ver um corpo caído por lá assustou todos os visitantes daquele lugar. Minha mãe estava ao meu lado quando abri os olhos ela pareceu extremamente feliz ao me ver bem, e com grande entusiasmo fui abraçado por Miguel, suas mãos pequenas me apertavam com força e me esquentavam do imenso frio que sentia.

   Não contei a ninguém o que realmente aconteceu e o médico disse a minha mão que eu estava com meu emocional abalado devido à grande perda e que após o luto tudo ficaria bem. Assim recebi alta do hospital no mesmo dia e voltamos para casa de uber, por todo o caminho minha visão parecia enxergar tudo num cinza como se a felicidade de viver estivesse acabado e a estranheza com que agia preocupava a minha mãe, notava que ela estava sempre a me observar pelo canto de olho, nem mesmo as brincadeiras de Miguel eram capazes de me arrancar um sorriso.

   Desci do carro e assim que adentrei em casa fui direto ao meu quarto e cobri o meu rosto com o lençol, apesar do calor que sentia não tinha vontade de retirá-lo e passei toda a tarde assim. Ao anoitecer minha mãe veio me acordar para o jantar e mesmo sentido fome fui capaz de recusar, mas a preocupação dela não a permitia desistir tão fácil assim e ela ficou por muito tempo insistindo para que eu me levantasse e fosse comer, até que eu cedi.

   Meus passos arrastados minha cabeça parecia girar e a dor latejante me deixava desligado de todo em volta, sentei a mesa e senti o saboroso aroma da sopa de carne e legumes que minha mãe fazia sempre que um de nós estávamos doentes. Servi uma tigela e demorei horas para consumir, minha mãe tensa perguntou:

   — Você não gostou da sopa?

   — Está muito boa! ­ — Respondi sem entusiasmo algum, não sabia o porquê não conseguia me alimentar mesmo com minha barriga a roncar de fome.

   Miguel encolhido do meu lado parecia triste com a minha situação, ele nem mesmo falou nada durante o jantar apenas observou tudo com os olhos visivelmente tristes. Ainda com a tigela de sopa pela metade me levantei da mesa e fui direto para o meu quarto, era como se meu corpo estivesse exausto e só quisesse ficar em eterno repouso.

   Mergulhado entre os lençóis senti meus olhos lentamente se fecharem como se eu estivesse sendo sugado pela escuridão caindo num imenso buraco de tristeza e saudade. 

Os gritos silenciosamente te chamamOnde histórias criam vida. Descubra agora