A noite parece imensa quando não se consegue dormir, mesmo exausto meu cérebro não colaborava e passou grande parte da noite pensando sobre a voz estranha que tinha escutado enquanto deixava Raysa em sua casa. Me virando de um lado para o outro da cama, parei de frente para a janela e já conseguia enxergar um pequeno clarão entrar pela brecha, estava quase amanhecendo e eu ainda não tinha dormido absolutamente nada. Depois de alguns minutos encarando a luz senti meus olhos pesarem e levante se fechar, finalmente o sono chegou.
Os flashes de luz corriam rápido e deixam escapar um pouco do ambiente mesmo com a dilatação máxima da minha pupila era praticamente impossível enxergar onde eu estava em meio a escuridão, caminhando as cegas tropecei e cai num chão áspero e logo uma luz forte como a de um farol se acendeu me deixando exposto e como se o ambiente saísse do modo mudo vozes desesperadas gritavam "Raysa" seguidas vezem num infinito ensurdecedor. Meus ouvidos doíam a ponto de sangrar e no contorno iluminado pelo clarão surgiu duas sombras em cada extremidade e vinham na minha a direção e ao encostarem em meu corpo comecei a sentir falta de ar, as sombras me sufocavam elas tiravam a minha vida, o último folego saiu de meus pulmões fechando meus olhos e trazendo a morte.
Senti que estava caindo quando subitamente meus olhos se abriram despertando do sono, enquanto ofegava intensamente via a imagem de minha mãe entrar quatro adentro, com uma expressão de espanto ela perguntou:
— O que foi?
— O que? — Não entendi o porquê no questionamento.
— Você estava gritando.
— Gritando? — Acho que tive um pesadelo. — Não contarei a história da noite anterior para que ela não fique preocupada.
— Com o que?
— Eu não me lembro! — Não disse mesmo lembrando perfeitamente de cada detalhe do pesadelo como se tivesse sido real.
— Ta bom, vamos tomar café juntos?
Sacudi a cabeça com um sorriso fraco, levantei eu fui direto ao banheiro enquanto escovava os dentes o pesadelo não saia da minha mente eu tentava encontrar ligações com o fato que ocorreu enquanto voltava da escola. Abaixei para enxaguar a boca e quando levantei um vulto rápido passou pelo espelho me causando um arrepio, olho por todo o banheiro e não vi mais nada de diferente por lá.
"Estou ficando louco?"
Essa hipótese começou a passar pela minha cabeça visto que não havia explicação para os fatos que vinham ocorrendo somente comigo e mais ninguém conseguia percebê-los.
Minha mãe tomava uma xicara de café e sobre a mesa havia dois copos com nescau, meu irmão mais novo entrou na cozinha e me deu um abraço por trás, me virei e retribui dando um aperto bem forte que ele resmungou, quando o soltei puxei suas bochechas macias deixando seu rosto bem esticado, ele tirou minhas mãos das bochechas e antes que ele se afastasse eu baguncei o cabelo dele que era um pouco comprido e formava cachos castanhos claros. Resmungando para a nossa mãe ele fez um bico por estar bravo, sendo acolhido, ela com suas longas unhas começou a arrumar o cabelo dele enquanto fazia cafune, dei um gole no achocolatado e em seguida debochei:
— Para de ser chorão Miguel!
Com o cabelo arrumado meu irmão sentou-se à mesa e pegou sua xicara, depois de um golo ele arregalou os olhos e disse:
— É nescau, eu queria toddy.
— Para de ser Nutella, nescau é muito melhor que aquele açúcar marrom. — Disse rindo.
— É não! — Miguel inflou as bochechas ao terminar.
— Parem de brigar, eu tenho que te levar para a casa da vovó antes do trabalho, se você demorar eu vou chegar atrasada. — Minha mãe acabou a guerra nescau vs toddy.
Arrumados antes das 9 h, minha mãe segurava na mão de Miguel e o puxava até a porta, eu os segui e estendi o punho na direção do meu irmão que me cumprimentou com um toque.
— Falou maninho!
— Falou manão!
— Tchau mãe. — Enquanto caminhava ela acenou para mim.
Retornando para o dentro de casa, me jogue no sofá peguei o controle remoto e liguei a tevê e comecei a minha maratona matinal de desenhos animados, fiquei assistindo por horas até que o relógio marcasse as 12: 00 horas, com o final no programa de desenhos me levantei e tomei banho, vesti meu uniforme e arrumei meu cabelo de jeito especial e coloquei o perfume caríssimo da minha mãe, tinha que estar o melhor possível para encontrar Raysa.
Arrumado, fiquei na frente de casa esperando por ela, o tempo corria e nada dela aparecer, pegue meu celular o visto por último dela estava desativado então eu mandei uma mensagem com os dois risquinhos ativos por alguns minutos mostrando que ela não recebeu a mensagem permanecei esperando mais um pouco e sem resposta tinha que ir logo caso contrário chegaria muito tarde e o portão da escola se fecharia.
Um dia atípico, sentia falta da companhia de Raysa na inda até a escola e com a falta de notícia temia que ela pudesse estar me ignorando devido a situação na noite passada.
"Será que ela pensa que eu estou louco."
Continuei caminhando e ao chegar na escola todos os alunos já haviam entrado e faltava apenas 5 minutos para o portão se fechar, me apressei e corri para a minha sala que para a minha surpresa estava vazia não havia ninguém fato esse que me deixou extremamente confuso, olhando todo o envolta em busca de resposta vi um manto preto em uma das carteiras especificamente no lugar em que Raysa costuma sentar, entrei na sala com cautela e caminhei até lá e segurei o pano e senti a maciez com o esfregar dos dedos.
Caminhei até a saída e na frente da porta encontrei Lucão sua expressão pálida bem diferente do seu jeito extrovertido de ser, revelando que algo sério havia acontecido. Ele aproximou-se e me abraçou apertado, nesse momento meu coração acelerou e fui tomado por uma apreensão sem tamanho, ele respirava ofegante e falou próximo do meu ouvido:
— Eu sinto muito.
Meus olhos saltaram e a confusão que estava em minha cabeça se embolou ainda mais num emaranhado gigantesco a síndrome do pensamento acelerado me fez pensar em coisas inimagináveis, saindo do meu súbito devaneio eu o questionei:
— Pelo que?
Lucas se afastou e me encarou, segurando em meu ombro ele questionou:
— Você ainda não soube?
— Do que? Me conta logo estou em aflição.
— A Raysa! — Como se tivesse travado por alguns segundos, Lucão fez uma longa pausa e com a voz embargada ele finalmente falou. — Ela morreu!
Eu não acreditava, minha respiração se intensificou meus olhos foram preenchidos por lagrimas que escorria pelo meu rosto me banhando de dor e sofrimento, como? Como? Como? Me perguntava isso tantas vezes que em minha mente que não cabia mais nada. Voltando a respirar normalmente falei com a voz quase falhando:
— Como?
— Eu não sei dizer bem. — Balançando a cabeça como se não acreditasse nas suas próprias palavras, Lucão contou. — Falaram que ela parou de respirar enquanto dormia, mas não sei direito o que foi.
Parou de respirar, essa frase logo me remeteu aos acontecidos da noite passada em que fomos embora juntos e ao estranho sonho onde eu fui sufocado pelas sombras, eu não entendia, em minha cabeça havia uma confusão sem tamanho e no meu peito uma dor dilacerante e em meio a tudo isso uma coisa maior ainda me consumia a culpa. Sentia que os estranhos fatos ocorridos eram avisos para que eu evitasse que essa tragedia acontecesse e mesmo assim fui incapaz de fazer algo a respeito, não estava suportado a grande carga de sentimentos me encostei na parede da sala e chorei, derramei toda a tristeza que em mim habitava.
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Os gritos silenciosamente te chamam
ParanormalUma voz me chamou, e eu respondi. Ela ecoava em cores sombrias que traziam o medo, nos ouvidos ela mostrava-se transparente revelando as dores das perdas. Os que caíram, me derrubaram junto trincando o meu coração e elevando a voz sobre a minha cab...