Até a Próxima Primavera - Uma chance em mil

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A pandemia havia começado já fazia alguns meses e todo o mundo estava de quarentena, hoje é dia 02 de setembro, e eu estava decidida de que contaria logo para meu pai um fato que se tornou segredo. Desde que a pandemia começou, comecei cada vez mais a fazer amizades virtualmente, e quanto mais gente conhecia, percebia que o sentimento de dúvida era medo, eu me sentia atraída por meninas também, e não tinha nada de errado nisso.

No começo de tudo, em janeiro, os dias se passaram e decidi que conversaria com minha mãe sobre isso, então enquanto estava sentada no sofá cinza do meu apartamento, peguei meu celular e escrevi um texto sobre o que sentia, reescrevi o texto inúmeras vezes e enviei, na esperança de que minha mãe conseguisse ser amigável. Helena Moretti é minha mãe, uma mulher italiana que se mudou para São Paulo quando era apenas uma criança, mas desde que entendo minha família, minha mãe me culpa por todos os erros de sua vida, principalmente sua carreira mal sucedida, isso desde que ela recebeu uma proposta em outro país, agora ela estava no Canadá e me mandava mensagens uma vez na semana.

Inacreditavelmente, ela perguntou qual era minha sexualidade e se eu poderia explicar melhor, depois de uma longa conversa sobre bissexualidade, ela me apoiou e disse que independente de qualquer "novidade" ela me amaria, não vou mentir, achei estranho, esperava decepção e uma discussão, seria o mais fácil entre nós duas, eu estava espantada até chegar a próxima mensagem, curta, grossa, e que não me deixaria dormir direito pelos próximos meses.
"Mas não conte para seu pai, ele não vai te entender e pode se irritar."

Eu surtei, eu tinha apenas 13 anos, me descobri cedo, cometi o erro estupido de contar para a minha mãe, e agora eu teria que mentir para o meu pai? Eu me acostumei a ideia, mas os meses se passaram, e voltando aos dias de hoje...estava decidida em contar, não esconderia isso, mesmo que ficasse com raiva, eu precisava ser sincera com ele.

Minha rotina era muito monótona, eu entrava na aula online durante a manhã, almoçava com meu pai, e o resto do dia era livre, meu pai estava cozinhando e eu estava no "intervalo" da aula, fui até a cozinha para pegar uma fruta, mas sinceramente quanto mais tempo eu ficava sem contar, mais eu pensava que ele havia descoberto.

Quando abri a porta da cozinha me deparei com uma pia cheia e bagunçada e meu pai cantando alguma música em espanhol a qual eu desconhecia, quando ele percebeu minha presença, riu e se aproximou.

_ Dance comigo mi hija! - E então ele segurou meus braços, me mexendo, a alegria dele me contagiava, não pude ficar parada e começamos a dançar. Meu pai, Carlos Hérnandez era descendente de argentinos mas amava a cultura com todo seu ser, como se tivesse sido criado lá.

_ Mi padre! Preciso voltar para a aula! - Disse enquanto tentava me soltar e dava risada, será que um dia isso acabaria? As brincadeiras, risadas e carinho, será que tudo acabaria depois que eu contasse?

Peguei uma maçã e voltei a ficar de frente para o computador, a professora falava e falava, até que, 3 notificações no meu celular, no whatsapp.
Uma amizade virtual que fiz rescentemente, Ana era de outro estado, uma menina com a pele muito clara e curtos cabelos pretos, assim como eu ela era apaixonada em livros e apreciava a vida, era uma garota animada que estava sempre sorrindo.

mensagens.

Não vou negar que a Ana sempre tinha ideias malucas, mas esse jeito dela era especial, e a forma como ela enxergava a vida também era fascinante..."Por que passar vontade de algo na nossa única chance de vida?", ela sempre me dizia isso, e eu concordava, muito pouco tempo para muitas oportunidades, então não tive outra resposta para sua ideia.

Pode ser divertido, o que pode acontecer demais?

Eu só não sabia o quanto minha vida mudaria depois disso.