Estou totalmente atolada em matérias, é como se fosse um abismo e eu estivesse ainda depois dele. Uma loucura. Minha vida é uma doideira. Falando assim parece até que sou desorganizada, mas eu juro que não sou. A matéria de cálculo está me matando, e apesar de eu gostar de matemática no ensino fundamental, era apenas lá mesmo, porque agora isso me estressa. Pensei esses dias em trancar a faculdade, justamente pela única matéria que não gosto, mas acho que seria muito impulsivo de minha parte, é só por um tempo e eu preciso superar isso, afinal é apenas um tecnólogo de Administração Rural. Eu sinceramente queria ter alguém para fazer essa única matéria por mim, o quanto eu estou cansada disso não está escrito.
Meus pensamentos não param enquanto sigo em direção ao trabalho, e falando em trabalho, isso aqui as vezes me consome, mas por incrível que pareça eu faço o que gosto: lidar com pessoas! Amo falar sobre o meu trabalho, claro que não posso expor os problemas dos outros por serem muito pessoais, e como gerente de recursos humanos meu papel é ouvir, aconselhar e ajudar como puder, embora precise ser dura com alguns as vezes; poder ajudar as pessoas no ambiente em que trabalho é algo muito importante pra mim, poder ver o semblante de alívio deles me conforta, sei que muitos no meu trabalho têm a gerente do "RH" como último recurso, embora acredite que deveria ser o primeiro, pois evitaria muitos problemas futuros. As pessoas parecem ficar com medo quando digo quem sou e o que faço, pois são pessoas que se traumatizaram com a gerente anterior, então acabam acreditando que sou alguém igual e que não me importo com ninguém, mas estou fazendo o que posso para mudar isso, e desde que cheguei aqui até agora, já vi uma grande diferença no ambiente. Segundo eles, minha aparência não demonstra a idade que tenho, nem a posição em que ocupo no trabalho, não que isso me importe, mas apesar de tudo, é satisfatório o fato de poder ajudar alguém e ver a sua evolução pessoal e profissional.
Entro no prédio espelhado, segurando meu laptop e meu café, minha bolsa hoje é branca (sim, eu meio que tenho uma coleção de bolsas e sapatos), decidi que o meu look seria nude: uma saia de seda estilo sereia, com uma fenda ao lado, e a regata branca com uma renda brilhosa para combinar com a bolsa, por cima tenho um casaco bege alongado, pouco mais escuro que meu scarpin 12cm, pois bem, hoje é sexta-feira e não queria deixar a desejar no meu look. Meu cabelo deixei preso a um coque e algumas mechas caídas ao lado do rosto, minha maquiagem é leve e meu perfume doce. Gosto sempre de pensar no que estou vestindo, não sei bem o por que, mas virou um hábito muito bom, é como se me deixasse mais confiante.
"Bom dia!", diz Alice, que supervisiona a equipe de recrutamento e seleção,
"Oi, Alice, bom dia!", retribuo ela com um sorriso que demonstra minha alegria por ser sexta-feira,
"Vai aprontar hoje, né?", ela diz, me olhando de cima a baixo. Ela adora me provocar, e eu estaria mentindo se dissesse que não gosto de provocá-la também,
"Pode apostar que sim", digo e rimos alto.
Alice é alto astral como eu, adoro ter a companhia dela por aqui.
"Alguma entrevista para hoje?", pergunto a ela, querendo saber se essa sexta-feira será lotada como todas as outras. Normalmente, todos os que passam pela entrevista com Alice, em seguida, faz uma outra comigo, então eu converso com ela para saber o que achou, digo meu ponto de vista e a palavra final: sim ou não para a contratação.
"Biah, acredite se quiser, hoje tem apenas uma entrevista",
"Tá brincando?", falo sem acreditar,
"Essa noite vai ser boa então, acho que não vou estar tão cansada", dou uma indireta a ela para irmos ao nosso barzinho favorito, comer aquele hambúrguer e tomar a caipira de sempre.
"Aproveita e já toma uma tequila", ela diz sarcástica, porque sempre que vou, não largo minhas bebidas favoritas: suco de laranja, limonada, e é claro, caipirinha, Alice me zoa até não aguentar mais, mas sempre que cai bêbada, eu a levo pra minha casa, e ela dorme por lá mesmo.
"Você me provoca tanto, desconheço alguém assim", digo e sorrimos outra vez, enquanto organizo alguns papéis em minha mesa.
"A Melanie já fez café?", a nossa menina cafeteira, consegue amar café mais do que Alice e eu, ela também faz parte da equipe de recrutamento, mas ela é a que analisa os perfis antes de enviar a candidatura para Alice entrevistar, ela é ótima no que faz.
"Ainda não, ela está na controladoria resolvendo algumas coisas de uma moça que veio tirar uma dúvida com ela, eu falei que se ela viesse mais cedo hoje seria só para resolver problemas, e aí está", Alice diz,
"Fazer o que, mas o que ela precisar estarei aqui, e agora vou fazer o nosso cafézinho", afirmo enquanto coloco o pó do café na cafeteira.Enquanto organizo os papéis na minha mesa, Alice chega com algumas informações do candidato a ser entrevistado, e entrega para mim.
"Você vai gostar do perfil dele, um ótimo profissional", Alice diz tentando me convencer, ela sempre faz isso, adoro o jeito dela. Sorrio ao pensar isso,
"Obrigada, você sempre me surpreendendo", digo e começo a analisar os papéis.
"Jonas Rains... hmmm", olho os papéis e tento imaginá-lo no cargo, como sempre faço, normalmente dá certo, e quando não dá, dificilmente o candidato passa na entrevista, é como se fosse um sexto sentido.
Dessa vez não está funcionando, só conversando mesmo para saber.
Olho nos papéis e não encontro a descrição da vaga para ele,
"Alice, pode me dizer, por favor, qual vaga será a dele?", pergunto a ela.
"Claro, é para diretor aqui do nosso setor, tanto recursos humanos, como toda a parte de departamento pessoal, basicamente um psicólogo de tudo", ela afirma.
"Currículo legal, até que gostei", continuo, "A que horas ele vem?", acredito que Alice comentou comigo o horário ontem, mas por um instante esqueci de anotar, então pergunto a ela só para ter certeza.
"As 09h, Biah, pedi para ele aguardar na recepção", ela afirma,
"Muito obrigada, hoje pago uma bebida extra pra você", digo e Alice sorri agradecida.Me preparo para o bate papo que será daqui 20 minutos.
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Esse Seu Olhar...
FanfictionBiah Madson leva uma vida corrida em tentar conciliar tudo o que faz: sua faculdade, seu trabalho, sua família, seus momentos de lazer, um turbilhão de coisas para se preocupar e não deixar nada em falta. Até que algo em seu trabalho acontece, mudan...