"Bom, sou formado em Engenharia Mecânica, Engenharia de Automação e Administração, gosto de pesquisar sobre psicologia, também fiz curso técnico de Recursos Humanos, e pra ser sincero, acabei gostando mais dessa área, é muito abrangente, apesar de muitos acreditarem que não, mas envolve muitos fatores, não apenas folha de pagamento, admissão e demissão de pessoas, como a maioria pensa", ele continua, "eu mesmo, era um dos que pensava assim". Interessante essa visão dele.
"O que te fez mudar de ideia?", pergunto.
"A forma com que via as pessoas sendo tratadas, eu mesmo, já fui um dos que sofri com isso, então decidi fazer o técnico de Recursos Humanos e a pesquisar mais sobre psicologia, para entender melhor as pessoas", neste momento o olhar dele é um pouco triste, "trabalhei numa empresa onde sofria muita pressão e abuso psicológico do meu chefe, precisei de alguém do RH para me ajudar, bem no fim, descobri que estavam todos do lado de quem cometia os abusos, e eu não era o único a sofrer com a situação".
"Entendo perfeitamente. Essa foi a forma que você encontrou de fazer a diferença, e olha, nem sempre conseguimos ser forte, ninguém merece passar por abuso psicológico", concordo.
"Isso, as pessoas acham que o homem é de aço, ou não tem coração, ou é muito frio, eu sinceramente não sou uma pessoa ruim, mas tudo tem um limite, e embora você não se importe com algumas coisas, uma hora, elas começam a pesar, e foi o que aconteceu, então achei melhor sair de lá, e em seguida, comecei o curso técnico, para que quando trabalhasse em algum ambiente que tivesse esse tipo de situação, eu soubesse como agir", ele diz com muita convicção, e eu aceno que sim com a cebeça.
"Você falou algo curioso, e esse assunto é pouco comentado, realmente quase todos acham que os homens são muito frios, mas esquecem que acima de tudo são seres humanos, e merecem o devido respeito, e no seu caso, você merecia um tratamento especial, ser ouvido, ser ajudado", eu digo e ele me olha com a cara de quem pensa "ela me entende".
"Sim, foi ruim aquilo tudo, mas eu superei, e aprendi quais os momentos em que devo ser rude, frio, compreensivo ou acolhedor. o RH é feito de extremos", ele diz,
"claro, e caso nós optemos por te escolher, teremos uma conversa sobre muita coisa daqui e como precisamos que algumas outras coisas sejam", digo e ele pergunta
"Nós? Como assim? Não seria você quem escolheria?", curioso, gostei.
"Isso, nós. Embora eu seja a gerente de Recursos Humanos, eu não faço nada sem comunicar a minha equipe, porque somos uma equipe, então precisamos agir como uma", afirmo, olhando séria no fundo de seus olhos.
Ele me observa e morde os lábios.
Ele sorri.
"Você realmente sabe o que é trabalho em equipe", ele diz, me olhando fundo e minha pulsação de repente acelera.
"Claro, mas caso você fique com a gente, vai saber de muita coisa por aqui", digo procurando palavras para responder, devido a pulsação acelerada, e sorrio.
"Você é a única que eu quero ficar", ele diz baixo, mas me olhando profundo, eu sem pensar, respondo:
"Como é?",
"Será um prazer fazer parte da equipe de vocês", ele conserta,
"Ah, sim, é claro", digo e em seguida faço outra pergunta.
"Qual a sua idade?",
"Tenho 42 anos",
"Qual a experiência mais marcante da sua vida?",
"Quando minha filha nasceu", ele diz com um sorriso maravilhoso. É lindo.
"Você parece ser um homem muito centrado, alguém fácil de lidar", digo a ele.
"Acredite, o que estou contando aqui é apenas para você, o único que soube disso antes de você, é o meu terapêuta", ele diz com um olhar sereno,
"E por que me disse isso tudo?",
"Você me passa confiança, não vejo isso em alguém há muito tempo, e você é do RH, lida com informações confidenciais o tempo todo. Não tem como não ser confiável", ele olha para minha boca, que mordo.
"Vou levar isso como um elogio, então, obrigada!", agradeço.
"Mas você ainda vai conhecer um outro lado meu, que a maioria que conhece, odeia, só que isso não muda o fato de que você me passa muita confiança", ele me desperta uma curiosidade.
"Que lado seu é esse?", pergunto.
"Você descobrirá em breve".
Maduro e misterioso.
Ele é excelente.
Tudo o que eu preciso.
Quer dizer, tudo o que a empresa precisa."Certo. Agora, farei algumas perguntas profissionais e quero saber o seu posicionamento, ou seja, como você agiria em determinadas situações na empresa, e o por que disso, tudo bem?", pergunto e ele assente.
"Ok, tudo bem".Vai ser maneiro fazer essas perguntas de "bate volta" com ele, como faço com todos que entrevisto, mas admito que será um pouco mais divertido agora.
"Se alguém chegasse em sua sala lhe pedindo demissão, qual seria a sua primeira reação mediante a isso?", jogo.
"Endagaria o por que tal pedido", ele me responde com certeza.
"Certo...", continuo, "Como você ajudaria alguém no ambiente de trabalho que está passando por um momento pessoal difícil?",
"Primeiramente eu tentaria entender a situação, para depois aconselhar, e quem sabe, até encaminhar para um especialista", interessante.
"Como você faria isso? Deixaria a pessoa pagar pelo especialista ou deixaria por conta da empresa?",
"Por conta da empresa... embora sejam problemas pessoais, estaria afetando a produtividade no trabalho, então nada melhor do que a empresa ajudar nesse momento", muito bom.
"Ótimo, e quando se trata do seu setor de trabalho, você prefere trabalhar em equipe ou sozinho?", é a pergunta mais comum que faço por aqui.
"Em equipe, na maioria das vezes", me responde.
"Na maioria?", vamos ver o que ele pensa,
"É, porque quando preciso ouvir alguém em particular, obviamente será apenas eu e a pessoa", claro.
"Faz total sentido", eu continuo, "Empatia, cuidado e respeito, qual a palavra mais importante pra você?",
"Empatia", ele diz, e eu o pergunto: "Por que?",
"Porque empatia é você se colocar no lugar do outro, e quando você faz isso, já está tendo cuidado e respeito automaticamente, não tem como ser empático sem ser respeitador e cuidadoso, só quem sabe ser isso, consegue ser empático", vendo por esse lado, até que faz sentido. Ele é muito bom! É o primeiro, de todas as entrevistas que já fiz, que consegue responder com clareza e objetividade tudo o que pergunto.
"Ok, e o que você não admite num ambiente de trabalho?",
"Mentira", seco e frio, isso prova a certeza de sua resposta.
"Por que?",
"Quando alguém chega atrasado, por exemplo, e você pergunta o motivo, a maioria mente: o cachorro comeu a roupa, o chuveiro não funcionou, o carro ficou sem combustível... eu entendo que imprevistos acontecem, mas tem coisas que são desculpas, e infelizmente, ou sempre acabamos descobrindo depois, ou vemos na cara do indivíduo que ele está mentindo", ele para um pouco, e continua: "Agora, é muito melhor falar a verdade, do que inventar desculpas, chegou atrasado porque dormiu demais? Simples, é só falar a verdade pra mim, e eu não deixo nem descontar as horas, porque o importante é você ser verdadeiro comigo, isso demonstra lealdade, verdade e confiança", ele encerra. Penso o mesmo e concordo com o ponto de vista dele.
"Bom saber que pensa assim, eu concordo com isso", digo a ele.
"Obrigado", agradece.
"Jonas, para encerrarmos, o que você valoriza na sua equipe? E o que você valoriza num colaborador da empresa?",
"Na minha equipe e num colaborador da empresa, eu valorizo a mesma coisa, valorizo o fato de poder contar com cada um, independente do que estiver acontecendo, o fato de poder contar com alguém, pra mim, é muito importante, quer dizer união", perfeito.
"Ótimo, então é isso", digo para finalizar nossa entrevista, "Você tem alguma dúvida?",
"Aliás, posso te perguntar algo?", ele diz. O que será?
"Claro, fique a vontade",
"Você é solteira?" que? HAHAHA não é possível! O olhar dele parece diferente, como se um pingo de interesse estivesse ali.
"Sou", respondo apenas isso, e um silêncio paira no ar enquanto ele me observa.
"Bom, então acredito que seja isso. Nós retornaremos para você, sendo a resposta positiva ou negativa, tudo bem? Muito obrigada por comparecer!", digo a ele, estendendo a mão para cumprimentá-lo, meio sem saber o que dizer, na verdade.
"Eu quem agradeço, foi um prazer enorme estar com vo-cê", ele friza bem o "você", e aperta a minha mão com força, me olhando sem piscar."Muito obrigada", digo enquanto ele vai se dirigindo a porta.
Espero ele sair e vou correndo até a recepção para falar com Elisa.
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Esse Seu Olhar...
FanficBiah Madson leva uma vida corrida em tentar conciliar tudo o que faz: sua faculdade, seu trabalho, sua família, seus momentos de lazer, um turbilhão de coisas para se preocupar e não deixar nada em falta. Até que algo em seu trabalho acontece, mudan...