Esse Seu Olhar...

Em meio aos pensamentos

Sigo arrumando minha papelada para revisar logo que terminar a entrevista, embora eu goste de conversar bastante com quem estou entrevistando para saber se realmente é qualificado para o cargo, desta vez não vou conseguir, estou cheia de tarefas. Infelizmente, precisei ficar com as funções da gerente anterior, e mais as minhas, eles estavam tentando encontrar alguém para o cargo que estou há 5 meses, para que a outra gerente pudesse ficar apenas como diretora de recursos humanos, mas a bendita resolveu sair, então cá estou eu, conciliando isso e fazendo a missão impossível de encontrar um diretor qualificado, que execute seu trabalho com excelência. 
O telefone encima da minha mesa toca, atendo prontamente,
"Oi, bom dia!", digo,
"Bom dia, senhora", é Elisa da recepção, ela continua,
"Chegou uma pessoa para entrevista, posso liberar?", ela me pergunta,
"É Biah, pelo amor de Deus, Elisa, senhora não, né? Tá de brincadeira...", eu continuo, "Só para confirmar, é Jonas Rains, sim?", pergunto para me certificar,
"Isso mesmo, está agendado para as 09h. Você quer que peça para ele te aguardar na sala de entrevistas ou aqui na recepção?",
"Por favor, pede para ele aguardar aí na recepção, como ele chegou um pouquinho adiantado, te envio uma mensagem quando estiver na sala de entrevistas, para que você o libere para entrar, tudo bem?", digo enquanto procuro meu bloco de anotações para levar,
"Certo, Biah, muito obrigada", Elisa diz, gentil, eu agradeço também e desligo o telefone.
Pego meu bloco de notas, o currículo do candidato e uma caneta para levar comigo até a sala,
"Alice, nosso candidato chegou, vamos torcer para que seja o certo...", arrumo minha saia, respiro e continuo, "estou indo à sala de entrevistas, qualquer coisa liga para a Elisa", digo a ela, caso aconteça alguma coisa, já que Melanie não está aqui na sala ainda.

Chego à sala de entrevistas e logo já envio uma mensagem para Elisa, avisando que pode liberar o candidato até aqui. Ela me responde com um "Ok" e aguardo por ele.
Analiso mais uma vez o currículo dele, e olhando de relance pelo vidro meio fosco da sala, consigo ver um homem de terno azul escuro aproximando-se.
Ele é alto. Moreno. Posso não ser boa na matéria de cálculos, mas não erro um palpite de altura, e chuto que ele tem 1,86. Seus passos largos fazem com que ele chegue logo até a sala. Paralisei. Ele fita os olhos em mim imediatamente quando entra e eu paro de respirar por um instante. Me recompondo, o cumprimento,
"Bom dia, Senhor Rains", eu respiro e vou até ele, "me chamo Biah, é um prazer te receber", e põe prazer nisso, o cara é lindo.
"Bom dia, Biah, por favor me chame de Jonas", ele aperta minha mão com força, enquanto me olha profundamente. Ele tem uma barba que o deixa elegante, aquela barba "por fazer", seus olhos são castanho esverdeado, seu nariz o faz ficar com um perfil perfeito, cabelo muito bem cortado, a mão que aperta a minha é macia e ao mesmo tempo tão forte, não dá vontade de soltar, mas preciso. Eu respiro, sorrio e solto sua mão, 
"Por favor, sente-se, fique à vontade", digo mostrando a cadeira para ele, "Gostaria de uma água, café ou suco?", ele me olha com dúvida, 
"Aceito uma água, por favor", me diz, parecendo incerto. Talvez nos outros lugares que foi não lhe ofereceram nem uma água.
Vou até o filtro e busco um copo de água para ele, e outro para mim. Deixo sobre a mesa, e logo em seguida, ele já começa a beber.
"Muito bem, Senhor...", eu respiro, "hmmm, Jonas", eu sorrio. Estou nervosa. Pela primeira vez estou nervosa. Cacete.
"Vou começar com algumas perguntas pessoais, que não estão no seu currículo, tudo bem pra você?", pergunto e ele assente, "Claro, sem problemas".
"Ótimo!", continuo, "Você tem filhos?", ele não demonstrou nenhuma expressão,
"Sim, uma filha", ele diz. Deve ser casado. 
"Legal, e quantos anos ela tem?", pergunto simpática,
"Ela tem 18, já é independente", que chique. Eu com 18 estava pensando ainda o que queria pra minha vida, frustrada com meus relacionamentos.
"Interessante, muito bom", digo, e vou para a próxima pergunta,
"Você é casado? Solteiro? União estável?", pergunto já certa da resposta,
"Solteiro", ele sorri de lado. O que? Eu ouvi certo? Isso está ficando bom.
"Que ótimo!", eu digo sem pensar, mas me corigo, sorrindo, "Quer dizer, ótimo pelas respostas, não pela situação em si", ele sorri e diz "Tudo bem, está tranquilo".
"Bom, eu não vou te perguntar o por que você quer trabalhar aqui, o que pretende, qual o seu objetivo, não quero que seja algo cansativo e não faço entrevistas como as outras empresas fazem, gosto de algo mais descontraído, para se tornar confortável", eu abro meu bloco de notas, "então me diz, quando você imaginou que estaria numa entrevista para diretor de recursos humanos? Porque eu li o seu currículo, e sinceramente adorei, mas você nunca atuou como diretor, apenas de supervisor, sim?", digo e ele sorri.
Seu sorriso é perfeito, seus dentes são retos, sua boca num desenho fino, mas carnuda, faz com que eu não consiga prestar atenção em outro detalhe. Seu olhar me fixou e não desviou um segundo se quer.
"Sinceramente? Eu já imaginei alguma vez, você atrai aquilo que pensa, aquilo que deseja, eu pensei e desejei, então aqui estou. Sou uma pessoa muito otimista e insistente naquilo que quero, se eu desejo algo, não demora muito para acontecer. Mas admito que não imaginava que seria numa empresa desse porte.", ele diz, e eu estou agora pensando no que aconteceria se ele me desejasse, "Enviei meu currículo para outras empresas para concorrer ao cargo de supervisor e gerente, confesso, mas aqui...", ele respira e continua, "é o único lugar que eu pensei, por um instante, que talvez não desse, embora seja otimista, mas valeu muito a tentativa", ele finaliza sorrindo, toma um pouco da água do copo, e eu estou fascinada pelo sorriso dele.
"Quero muito saber sobre as suas formações, quais são, apesar de estarem no currículo, mas quero saber a que você mais gosta, e por que", digo e ele assente, já começando a me responder.

Sei que ele tem muita coisa a dizer.