Capítulo Dois

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— Yoon — o chamei.

Ele resmungou como resposta, completamente sonolento, mas mesmo assim eu perguntei:

— Está acordado? — passei a mão pelas suas costas nuas.

— Estou, meu bem — se virou preguiçosamente, ficando de frente para mim. — O que foi, hum? Está sentindo alguma coisa?

Ele pousou a mão na minha barriga, e olhou em meus olhos.

— Não — neguei. — Não estou sentindo nada — assegurei. — Só queria conversar sobre algo.

— Hum — murmurou e coçou os olhos.

Eu estava sentada na cama, com as costas na cabeceira.

A televisão estava ligada — era a minha tentativa de distração enquanto eu sofria de insônia.
Uma distração dos meus pensamentos, mas eles não deram certo.

— Pode falar — também se sentou. — Estou ouvindo.

A sua mão deslizou pela minha barriga, acariciando a região.

— Quero que você faça uma promessa — pedi, encarando os seus lumes escuros.

— Qual é a promessa? — perguntou.

— Promete cuidar da nossa menininha se algo acontecer comigo? — perguntei, me controlando para não deixar sequer uma lágrima se derramar.

— Nada vai acontecer com você, Hyeon — falou como se ele tivesse certeza daquilo.

— Tem a possibilidade, você ouviu o médico ontem — respondi.

— Mas não vai acontecer — negou. — Eu sei que não vai.

— Mas eu quero que me prometa mesmo assim — pedi. — Por favor.

— Eu prometo.

— Vai amar ela? — mais uma promessa.

— Eu já amo — sorriu pequeno.

— Eu sei — afirmei. — Mas você vai amá-la mesmo que aconteça algo comigo? Não vai culpar ela?

— Hyeon — segurou o meu rosto. — Eu jamais culparia um serzinho indefeso. Eu juro que vou dar tudo de mim para ser o melhor pai para a nossa filha, e você vai assistir isso.

— Eu não quero que ela passe pelo o que eu passei — os meus olhos ficaram marejados.

— Ela não vai — negou. — Mesmo que aconteça algo com você. Eu vou amá-la incondicionalmente.

— Não entenda isso como se eu estivesse achando que você seria como o meu pai. Eu só tenho medo.

— E eu sei — assentiu. — Mas não precisa ter esse medo, ok? Vou ser um pai de verdade para ela.

— Obrigada — agradeci e sorri, sentindo as lágrimas caírem. — E desculpe.

— Não precisa se desculpar — me abraçou de lado. — Eu entendo você.

Ele beijou o meu ombro e voltou a se afastar, secando o meu rosto.

— E por favor — voltei a falar. — Se acontecer, nunca deixa ela se sentir culpada por isso. Sempre diga à ela que não foi culpa dela. Por favor, lembre-se disso.

— Eu vou lembrar — garantiu. — Não se preocupe.

Eu assenti, grata por ouvir as suas promessas — mesmo que eu já tenha pedido elas várias vezes.

— Está com insônia? — perguntou e eu concordei. — Vou te fazer companhia.

— Não precisa — eu neguei. — Você tem que trabalhar de manhã.

— Não tem problema — negou e voltou a se deitar. — Vem. Deita aqui — deu dois tapinhas no acolchoado, bem ao seu lado.

Eu deitei perto dele, sentindo os seus braços circularem o meu corpo.

— Não fica pensando no pior — pediu. — Vai dar tudo certo.

Eu assenti e ele beijou o topo da minha cabeça.

Eu já sabia que a gravidez era de risco. Tanto que eu fui afastada do trabalho a alguns meses atrás.

Mas na consulta do dia anterior, o médico nos informou que tinha um risco de eu não sobreviver ao parto.

Eu tenho Placenta prévia, e mesmo que eu esteja fazendo todo o acompanhamento, ainda tem o risco.

Assim como a minha mãe...

Eu não sei bem o que causou a morte dela. Talvez tenha perdido muito sangue, e uma das possibilidades seria ela ter placenta prévia.

Eu teria o mesmo destino que ela?

Não tenho ideia se ela chegou a me ver antes de morrer. Mas eu espero que isso não aconteça comigo, caso eu sofra de hemorragia pós-parto.
Quero ver o rostinho da minha filha ao menos uma vez.

Eu não deveria ficar pensando naquelas coisas.
Mas o parto estava próximo, e eu não conseguia tirar da cabeça.

É como se eu estivesse tendo um mal pressentimento quanto ao parto.

Mas se a nossa Jihye ficasse bem, para mim, ia estar tudo bem também. Mesmo que custasse a minha vida.

Eu sabia que o Yoongi seria um bom pai. Tinha certeza absoluta disso.

Mas não impedia daquele medo voltar a me rondar. Me doía só de imaginar a minha filha passando pelo o que eu passei.

A gestação já estava no final do oitavo mês. Logo chegaria o dia do parto.

O dia que o nosso bebezinho irá ir ao mundo. O dia que eu espero desde o momento em que descobri a gravidez.

A minha barriga estava gigante, parecia que ia explodir a qualquer momento. As únicas roupas que me serviam eram vestidos, ou as camisetas do Yoongi — que é o que eu usava em casa.

Eu já não conseguia dormir direito pelo desconforto. Mas além de ficar desconfortável, eu tinha insônia.
Passava a madrugada fazendo planos, ou pensando nos meus medos.

— Eu te amo — falei baixo, após alguns minutos em silêncio. Deslizei a minha mão pelo seu peito, acariciando.

Apenas o som da televisão soava pelo quarto.
Eu sabia que o meu marido estava morrendo de sono, estava cansado, mas ele continuava acordado. A sua mão continuava deslizando pelas minhas costas, fazendo carinho, me mostrava que ele não havia se entregado ao sono novamente.

— Eu te amo — falou e beijou o topo da minha cabeça mais uma vez. — Muito.

Ele se afastou e me olhou.

Uma de suas mãos subiu até o meu rosto, e ele grudou os nossos lábios, depositando um selar longo.

Os seus olhos brilhantes fitaram os meus.

— Eu não sei o que faria se perdesse você — falou baixo, começando a acariciar a minha bochecha.

— Se perder, você ainda vai ter um pedacinho de mim para sempre — sorri pequeno.

— Mas eu ainda vou ter você comigo por muitos anos — falou, e então também sorriu pequeno. — Você e o nosso pedacinho.

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