Capítulo Três

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A Hyeon olhava minuciosamente aquele bolsa pela milésima vez, checando se não tinha esquecido nada.

Ela colocou todas as coisas necessárias — e até alguns exageros — dentro daquela bolsa lilás de bebê.

Eu sabia, ela estava ansiosa, e essa era uma forma de acalmar a sua ansiedade. Mexer nas coisas da nossa Jihye sempre nos fazia parar de ficar tão ansiosos para a chegada dela.

Tudo já estava pronto. O quarto todo mobiliado e decorado. As bolsas da maternidade — tanto a da bebê, quanto a da Hyeon — estavam prontas.
Tudo estava pronto, apenas aguardando a chegada Jihye.

Nós tínhamos que aguardar a bolsa estourar, mas sabendo que teria uma grande possibilidade de ser necessário fazer uma cesariana.

A placenta prévia que a Hyeon tem, infelizmente é a mais grave. E todo o cuidado é pouco.

Desde o início da gravidez ela se manteve de repouso. Foi afastada do trabalho, e vive reclamando que não tem nada para fazer em casa — entendiada.
Mas depois que descobrimos que era mais sério do que imaginávamos, eu redobrei o cuidado com ela. E agora sim, ela fica no tédio, por que eu evito de ela fazer tudo.

Ela está aflita com a chegada do parto, eu posso ver isso.

A Hyeon me pede para fazer promessas para caso aconteça algo com ela depois do parto. Ela sente medo.

E eu não vou mentir, também estou morrendo de medo. Mas eu tento não transparecer.
Sempre tento fazê-la pensar positivo quando fala sobre isso.

Vai dar tudo certo, tem que dar.

Fiquei horrorizado quando o sangramento surgiu à um tempo atrás. Foi o sintoma que nos fez descobrir a placenta prévia.

Naquele dia eu dirigi tentando transparecer calma até o hospital, dando à ela a força que ela precisava, pois já estava se torturando, achando que algo havia dado errado. Mas por dentro eu estava em um surto.

Ficamos aliviados ao saber que nada havia acontecido. Mas também tivemos a notícia do que estava acontecendo e do que poderia acontecer.

Mas ela fez todo o acompanhamento para que o bebê não nascesse prematuro por conta desse problema. E agora, estando a menos de uma semana para dar nove meses, a bebê ainda estava no lugar em que deveria estar, na barriga da mãezinha dela.

A maior preocupação da Hyeon era como a bebê ficaria se acontecesse algo com ela. Como eu lidaria com isso.

Eu não me ofendia com as suas falas, óbvio que não.
Eu entendia os seus medos, pelos seus traumas. Ela só queria ter a certeza de que eu cuidaria da nossa pequena, independente do que acontecesse, e com todo o amor que eu pudesse dar à ela.

As inúmeras promessas sobre isso foram feitas. Eu jamais faria o que o pai dela fez. Mas se ela precisava me ouvir prometer, eu continuaria fazendo.

Eu podia ver a Hyeon extremamente feliz que o dia da nossa filha nascer estava se aproximando, mas também podia vê-la triste pensando na tal possibilidade, que eu nem gostava de pensar.

Era necessário ser realista e pensar nessa possibilidade. E eu pensava.
Mas não queria ficar o tempo todo martelando isso, e não aproveitar.

Eu precisava distraí-la e fazê-la pensar nas coisas boas que estavam acontecendo — mesmo que isso pesasse muito.


— Yoon — chamou-me — Eu quero batatas fritas — formou umbico nos seus lábios, e automaticamente eu sorri.

— Quer que eu faça ou que eu compre pronto? — perguntei me aproximando dela.

— Quero que você faça — falou e eu concordei, deixando um beijo nos seus lábios.

— Essa menininha vai ter que gostar de batata frita quando for maior — passei a mão na sua barriga. — O tanto que você comeu batata frita durante a gravidez. Impossível ela não gostar.

— Vai ter que gostar, puxar pela mãe dela — brincou e sorriu.

— Vem — segurei a sua mão. — Vou fritar as batatas.

— Não precisa ser agora — negou. — Pode ser depois.

— Se você pediu, é por que está com vontade de comer agora — falei começando a andar, levando-a comigo. — Não tem problema, eu faço agora.

Nós seguimos até a cozinha, e eu comecei a arrumar tudo para fritar as batatas.

Depois de colocar as batatas no óleo quente, eu me virei, encarando a mulher sentada em um dos bancos da bancada.

As suas mãos estavam espalmadas na sua barriga, e era para esse local que o seu olhar estava direcionado.

Os seus olhos brilhavam, e um sorriso de lado estava em seus lábios.
Seus dedos acariciavam lentamente a sua barriga.

Provavelmente a bebê estava chutando. A sua reação sempre era assim. Apesar de que ela sempre ficava boba com qualquer coisa relacionada à filha.

No dia que ela descobriu a gravidez e me contou, eu descobri o meu novo sonho: ver a Hyeon segurando a nossa filha.

Desde aquele dia eu sempre imagino as duas juntas. Imagino a nossa pequena Jihye nos braços da mãe dela.

Eu sempre quis ser pai, mas depois que descobrimos a gravidez, eu percebi que aquele era mais um dos meus sonhos — mais um que estava se realizando.

Eu não queria atrapalhar o momento dela. Ela estava tão absorta nos seus pensamentos, enquanto acariciava a sua barriga, que por mais que eu quisesse me aproximar e sentir também a bebê chutar, fiquei perto da pia — apenas assistindo.

Mas logo ela olhou para mim e chamou-me para chegar mais perto.

Me aproximei dela e toquei na sua barriga, já podendo sentir os chutes da nossa filha.

— Está agitada — falei em meio à um sorriso bobo.

Eu também sempre ficava bobo com qualquer coisa relacionada à ela.

Quando olhei para o rosto da Hyeon, vi que ela já estava me fitando.
Seus olhos brilhantes agora me fitavam, e estava com um sorriso bonito no rosto.

Ela ergueu uma das suas mãos até os meus cabelos, e começou a mexer neles.
A Hyeon sempre falou o quanto ela gostava de quando os meus fios eram pintados de ruivo. Mas aquele meu corte de cabelo parecia superar a sua paixão pelo ruivo.

Mesmo depois de meses, eu continuo tentando deixar mais cumprido. Daquele jeito que ela tanto elogiava.

Eu me perdi encarando os seus olhos. Quando percebi os nossos lábios já estavam colados.

E nós ficamos tanto tempo naqueles beijos e carinhos, que eu quase deixei as batatas queimarem...


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