Capítulo Quatro

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Acordei com o som estridente do choro da Jihye.

No mesmo instante eu pulei na cama e me sentei, indo para mais perto do berço.

— Oh, pequena — falei ao pegá-la em meus braços. — Papai já está com você.

Segurei a mamadeira — que já estava pronta em cima da cômoda —, e dei o mama para ela.

Eu me encostei na cabeceira, e fiquei fitando o seu rostinho, enquanto ela tomava o leite.

A Jihye lembra tanto a mãe dela...

Desviei o meu olhar para a cômoda, onde tinha dois novos porta retrato. Em um deles tinha uma foto da Hyeon, sorridente, com as mãos sobre a barriga de cinco meses, e na outra, era uma foto de nós três no hospital — a única foto que temos juntos.

E continuaria sendo a única.

Suspirei e voltei a olhar para a minha filha.

— Ela faz falta, não faz? — sussurrei. — Você ficou nove meses na barriga, e alguns minutos no colinho dela. Já sabe o que é sentir falta da sua mãe, não é?

Uma semana sem ela...

Mordi o meu lábio, tentando não chorar.

Olhei para o lado vazio na cama, onde era o seu lugar.

Eu já havia trocado os lençóis, mas mesmo assim o seu cheiro estava impregnado ali. E isso me confortava. Fazia eu entrar em uma ilusão de que ela ainda estava ali.

Continuei lutando para não chorar enquanto a bebê estava no meu colo.

Depois que ela terminou de tomar a mamadeira, eu lhe entreguei o bico novamente, e fiz ela voltar a dormir.

Depositei um selar na sua bochecha, sorrindo ao ver o seu rostinho lindo enquanto dormia.

— Eu te amo — sussurrei antes de colocá-la no berço novamente.

Ela ainda era tão novinha. Iria demorar muito tempo para que ela começasse a entender o significado daquelas três palavras. Muito tempo mesmo.
Mas eu sempre dizia. Como se eu estivesse dizendo à ela o quanto a amo, e que sempre continuaria ali com ela. Sempre.

Quando voltei a me deitar, deixei as lágrimas aparecerem e rolarem pelo meu rosto.

É tão doloroso.

Eu me senti radiante com a minha filha. Eu finalmente podia pegá-la em meus braços, ver o seu rostinho.

Mas ao mesmo tempo eu me sentia incompleto.

Ganhei o amor da minha vida, mas perdi o outro.

Estava feliz, mas também estava sentindo o meu coração sendo esmagado a cada batida.

A Hyeon teve tanto medo, e me pediu para fazer tantas promessas. Que no fim eu realmente as cumpri.

Óbvio, eu não amo a minha filha só por que prometi a minha esposa. Eu a amo por ser ela. Amo por ser a minha filha, um pedacinho meu e da Hyeon.

Mas as promessas automaticamente começarem a ser cumpridas.

No dia que a nossa filha nasceu, a Hyeon partiu.

Após o parto, ela teve muita hemorragia, e mesmo com as transfusões de sangue, ela não resistiu.

Mas eu ainda pude ver ela com a nossa filha. Ainda pude ver a Hyeon segurando o nosso bebê. Ver os seus olhos tão brilhantes e a sua expressão tão feliz.

Logo depois do parto, os médicos acharam que haviam conseguido resolver tudo. Ela parecia estar bem.

Mas uma hora depois, os lençóis da cama do hospital começaram a ficar vermelhos.
Levaram ela para uma cirurgia de emergência, mas ela não resistiu.

Parecia que ela apenas precisava de um tempo para ver a filha, e me ver junto com ela. Parecia que ela precisava daquilo antes de nos deixar.

Eu tentava ser forte todos os dias. Eu precisa ser.

Apesar de estar sofrendo, eu ainda tinha a minha filha, e ela precisava do seu pai 100%.

A cada dia que passava, parecia que a perda dela doía ainda mais.

Eu gostava de pensar que no dia seguinte seria mais fácil, que iria doer menos. Mas quando o dia seguinte chegava, a dor parecia ficar ainda maior.

Durante a noite, a minha filha acordou mais uma vez. E dessa vez eu a deixei na cama comigo.

Não dormi direito por que a bebê estava ao meu lado. Eu tinha medo de dormir e acabar deitando por cima dela.

Mas eu não conseguia dormir direito de qualquer forma.

Eu ainda não tinha me acostumado a dormir sem a Hyeon. E eu não conseguia dormir pensando em como seria se ela estivesse ali comigo e com a Jihye.

As minhas noites mal dormidas não eram somente por ter uma bebê recém nascida.

Mas a Jihye estava sendo a minha força. O meu ponto de paz era a minha filha.

Se não fosse pela minha filha, eu provavelmente estaria no fundo do poço.

Era para ela que os meus sorrisos sinceros estavam destinados nos últimos dias.

Ela fazia o meu coração quase explodir por qualquer movimento que eu julgava fofo — no caso, quase todos.

Com o nascimento da minha filha, descobri o amor incondicional que sempre ouvi falar.

Eu já a amava antes do seu nascimento, mas não se compara com o amor que eu sinto agora.

O amor durante a gravidez é diferente do que da mãe. Eu podia pensar que já conhecia o amor incondicional por um filho, enquanto a Hyeon ainda estava grávida, mas não foi bem assim. O amor incondicional veio no instante em que eu a vi.

Os seus olhos puxados do mesmo formato que os olhos da Hyeon. Sua boca levemente inchada, seu nariz redondinho igual ao meu.
Ela era mesmo uma mistura minha e da Hyeon.

Eu me apeguei muito ao que a Hyeon falava nos dias antes da gravidez. Que se algo acontecesse, ela ainda deixaria um pedacinho dela comigo.

Toda vez que eu olhava para a bebê, lembrava da fala da mãe dela. E isso me confortava.

A Hyeon continuaria fazendo falta para sempre.
Mas eu também sempre teria o seu pedacinho comigo.

A Jihye cresceria vendo fotos e ouvindo tudo sobre a mãe dela. Eu manteria ela viva para a filha, pelas lembranças.

Se com apenas uma semana eu já conto histórias à ela sobre a mãe, tentando acalmá-la — e que realmente funciona —, quem dirá daqui alguns anos?

Para todo o sempre presente no meu coração.

PromessaOnde histórias criam vida. Descubra agora