capítulo 1

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Hoje tudo tem que dar certo, nada pode dar errado, foi o que eu pensei quando acordei mas é claro que nada sai do jeito que eu planejava.

Visto a roupa mais secretária que eu timha no meu armário e me desloco para o edifício, era minha quinta entrevista de emprego e eu precisava passar, cruzo as portas enormes do prédio e vou direto pro elevador, andar 13, que merda, confesso que eu era um pouco supersticiosa, respiro fundo e aperto o botão.

- Segura aí. - diz um garoto correndo pra chegar no elevador, aperto rapidamente o botão de abrir portas e ele entra. - ai, obrigada, viu. - ele diz ofegante e faz um joinha.

- De nada, bom-dia. - cumprimento educada, e ele repete um, "bom dia" meio torto. - qual número?

- 13. - só podia ser brincadeira.

- Vamos pro mesmo lugar então. - tomara que ele não seja candidato pra vaga de emprego, encaro seu torso por um segundo, ele não se vestia apropriadamente, será que ele é meu futuro chefe? Chefes podem se vestir da forma que quiserem, e agora?

- Você trabalha aqui? - ele se apoia no corrimão do elevador e eu me viro para encara-lo.

- Quem me dera. - não dou muita conversa mas admito que ele era bonito. - você trabalha aqui? - pergunto curiosa.

- Minha empresária, sim e eu estou atrasado pra encontrar com ela. - pelo menos ele não era meu chefe, olho o visor do elevador, andar 7, essa porcaria era lenta demais, eu tinha horário, por que eles colocariam um elevador velho em um prédio tão moderno?

- Que demora. - bato o pé no chão com carpete.

- Se acostuma, essa coisa velha é lenta, tô supreso que ainda não quebrou. - ele diz e as luzes do elevador começam a piscar, me agarro no corrimão ao seu lado e o garoto parece apavorado.

- Você tinha que falar. - reclamo assustada.

- Não sabia que ele podia ouvir. - ele diz alto e de repente as luzes do elevador de apagam e ele para, o visor para de marcar e estamos completamente no escuro. - puta que me pariu.

- Mas que merda. - largo a bolsa que eu segurava no chão.

- Odeio lugares apertados. - ele diz em pânico.

- Preciso me acalmar.- respiro fundo três vezes.

- Minha empresária vai me matar. - o garoto se arrasta da parede até o chão e se senta com a mão na testa. - se eu sair daqui vão me comer vivo.

- 1... 2... 3... - termino minha contagem e aperto várias vezes o botão de emergência. - tem que ter algum manual ou número pra ligar. - ligo a lanterna do celular e procuro alguma espécie de papel pra chamar a emergência.

- Sinto que não consigo respirar. - ele diz e eu reviro os olhos.

- Cala boca. - xingo. - daqui a pouco ligam essa droga de novo, só aguenta aí. - acho um papel, "em caso de falha, esperar pacientemente por auxilio, obrigada por sua compreensão." - mas que merda de ajuda é essa? - bufo e aperto novamente o botão, desisto e me sento ao lado do garoto.

- Achou o número de emergência? - ele pergunta ao meu lado.

- Não tem número de emergência, em pleno século 21, temos que esperar. - desligo a lanterna do celular e abro a tela inicial, sem sinal.

- Não vai conseguir wifi aqui, o elevador tem bloqueio de sinal, é uma merda. - ele apoia a cabeça na parede de lata e suspira. - ninguém sabe que estamos aqui, vamos ficar aqui pra sempre.

- Para de ser pessimista. - desligo a tela do aparelho e ficamos no escuro, minha visão estava começando a se adaptar. - eles vão perceber um elevador quebrado e vão mandar ajuda, eu espero. - abraço minhas pernas. - só não sei quanto tempo vai demorar. - sinto o olhar do garoto sobre mim.

- Então... Vem sempre aqui? - ele pergunta descaradamente.

- Na verdade não, hoje parecia um bom dia pra ficar presa em um elevador. - digo brincando e tentando fazer essa situação parecer mais leve.

- Foi o que eu pensei também. - ele sorri, podia ver seu semblante com dificuldade.

- Sou Chris. - ele estica a mão.

- Devi. - eu pego e aperto em um cumprimento.

- Devi é apelido? - o garoto pergunta e noto ele mexer em seu boné.

- Nome mesmo, significa "divino" na Índia.

- Você é indiana? - nego com a cabeça pensando que ele podia ver.

- Não, mas minha família é. - não ia me abrir com um desconhecido, a qualquer hora podiam nos tirar daqui e ele voltaria a ser só um estranho, mas agora ele era o garoto que estava preso comigo. - Chris é apelido de... Christopher? Christiano?

- Christopher, sim. - ele sorri. - Christopher Owen Sturniolo.

- Americanos gostam de nomes compridos. - digo. - Devi Pamil.

- Nome bonito. - ele parece hesitar. - você também é bonita.

- Você não ta tentando flertar comigo no meio da situação que a gente se meteu, né? - digo rindo mas estava falando sério.

- Dizem que temos que tirar sempre o melhor da situação. - vejo ele dar de ombros.

- Você é bem atirado, quantos anos você tem? 16? - ele abre a boca incrédulo.

- Eu pareço 16? - confirmo com a cabeça. - eu tenho 20. - agora eu que estava em choque.

- Então somos dois. - apoio meus cotovelos em meus joelhos e meu rosto em minhas mãos. - pelo menos, não to presa num elevador com uma criança, isso seria estranho.

- Você parece mais velha. - fico em choque. - sem ofensas, acho que são as roupas.

- Normalmente eu não me visto assim. - olho pra a camisa social que eu estava usando. - hoje eu tinha uma entrevista de emprego, sabe? Mas acho que já posso aceitar que não vou conseguir a vaga. - suspiro e encosto a cabeça nos joelhos.

- Garanto que se você explicar eles entendem. - o garoto da tapinhas nas minhas costas. - eles devem saber que o elevador quebrou e não é sua culpa. - aquilo foi reconfortante.

- Obrigada, Chris. - digo sorrindo e encarando o garoto ao meu lado, ele sorri gentil, não estava incomodada de ficar presa com outra pessoa mas queria saber quanto tempo mais teria que ficar aqui dentro, estava começando a ficar quente.

escrevi toda a fanfic em uma tarde por puro pico de energia, espero que gostem!

Elevator • Chris SturnioloOnde histórias criam vida. Descubra agora