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- Hunter?

Escuto alguém me chamar e meu cérebro começa a processar a vida real aos poucos. Meus braços doem e sinto frio, logo contextualizando que devo ter dormido sobre a mesa de novo.


- Levanta, garota.. Meu Deus – era Winter. Tento responder algo que deve ter soado como um murmuro desconexo. Ergo o corpo aos poucos, sentindo cada músculo, osso, articulação doer como se o tempo tivesse as endurecido. – Eu realmente não sei como você consegue fazer isso!

Droga, penso. Nem sei mais numerar quantas vezes já dormi na área médica, e todas as vezes eu sempre dizia a mim mesma quando estava quase em estado REM: não posso dormir aqui. E todas as vezes eu acordava com essas mesmas dores.


– Que horas são? – pergunto me esforçando para me espreguiçar. A cada noite passada aqui eu me convenço mais de que os caras estão certos, estou enferrujada demais.


– São cinco e meia. – estranhei ela estar aqui tão cedo. Geralmente eu é quem ia acorda-la no dormitório nesse horário  – Os caras da Task 141 estão oficialmente voltando e deixaram claro que estão com feridas.



– Todos eles? – não era comum que a força tarefa preferida voltasse com feridos das missões. Na verdade, era bem raro. Nós sequer os conhecíamos, eles nunca ficavam na base por muito tempo, e nunca chegavam perto da ala médica. Eram os indestrutíveis, como diziam os boatos.


– Eu não sei te dizer – Winter deu de ombros – Ouvi dizer que precisam de sutura..



Rolo os olhos. Winter sempre “ouvia dizer” diversas informações alheias pelos cantos da base, mas de quem ouvia era um mistério. Mal consigo me lembrar de todas as vezes em que ela misteriosamente “previu” algo acontecer devido a essa rede de informações sorrateira.



– Você ouve dizer tantas coisas...



  Me levanto da cadeira, que range no processo. Eu precisava urgentemente de uma pomada para as articulações e água quente. Fiz uma varredura da sala com o olhar, tudo em seu devido lugar. Me recordava de ter começado a sentir sono ontem enquanto arrumava tudo.



– Mas é sério! Eu ouvi que tomaram tiros pra caramba. Caíram numa emboscada e a coisa ficou séria – olhei para ela como se perguntasse como poderia saber disso tudo antes das seis da manhã.



– Ok, então vamos seguir a sua informação e deixar os kits de sutura já prontos pra uso.



Ela assente sorrindo e começa o trabalho enquanto começava a falar simultaneamente.



– Você nem adivinha quem foi promovida ontem?



– Quem? – pergunto tentando conter um bocejo. Levanto meus braços apenas para conferir se eles ainda eram usáveis. Essa noite realmente detonou meu corpo, meus ossos estalam alto.



– Quem mais? A otária da Susan! – Winter esbraveja empilhando uma caixa de sutura em cima da outra.



  Tento me recordar das últimas informações que recebi de Susan. Ela havia realizado missões com êxito nos últimos meses, com poucos ferimentos. Poderia contar nos dedos as vezes em que a vi aqui na sala médica. Nunca a tratei, apenas conversei com ela quando estava na recepção para cuidar da parte administrativa. Apesar de nunca ter feito algo para mim, diretamente, eu sabia que não devia dar mole com ela. Não apenas por ser sobrinha da famosa Laswell e da terrível possibilidade de nepotismo,  mas por conta de sua personalidade de “campo minado”.



– Promovida a quê? – pergunto tentando não parecer completamente desinteressada. Minha versão matinal se interessava apenas por café quente.


– A que? Tenente!



– Ah sim... – é tudo o que consigo responder nas atuais circunstâncias. Winter me olha incrédula.

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