Panic

41 6 2
                                    



A cirurgia de Gaz acabou por durar bem mais do que eu esperava. Eu e Pray conduzimos o processo e Winter ficou encarregada dos cuidados posteriores. Não posso negar que fiquei um pouco agoniada quando ele deu a ordem que ela o retirasse da ala cirúrgica, mas confio cegamente em Pray e tento não me ater tanto a isso. Saio do centro cirúrgico para o vestiário feminino, me livrando das roupas descartáveis ensopadas de sangue. Me sento em um banco, esfregando o rosto. Todas as cirurgias são complicadas, de fato. Mesmo aquelas que não representam perigo para o paciente, ainda sim não se abstém. Nós estamos constantemente olhando para o interior de uma pessoa que breve estará acordada como uma peça quebrada. No momento em que eu ouvir a voz do paciente, toda aquela experiência de carne e sangue serão eliminadas da minha linha do tempo mental como se fossem um “bug”. Respiro fundo, pensando no quanto é difícil reorganizar os pensamentos para que pareçam o mais normais possível.

  Retiro as luvas, lavo minhas mãos. Meu uniforme por baixo impecável e eu atônita, procurando qualquer mancha sequer de sangue por alguns belos minutos. Quando enfim consigo me convencer, deixo o vestiário. A ala médica ainda está agitada. Meus colegas andam cochichando uns com os outros mais do que normalmente o fazem. Sinto minhas pernas trêmulas a medida que ando até a recepção. Pray lá diante da Task-141. Penso seriamente em contornar o caminho e não me envolver naquilo, mas as palavras de mais cedo do meu chefe martelam minha mente. Eu era a única que sabia das preocupações do velho, e era a única alertada para ficar de olho, para não confiar.

  Sigo até parar quase ao lado dele, uns bons centímetros atrás. O suficiente para que ele virasse a cabeça e me mandasse um aceno que foi prontamente respondido por mim.



– Vamos precisar da balística. A camuflagem dos desgraçados era pesada... – Price reclamava se mexendo enquanto isso.



  Olho para Judy do balcão, ela estava com os olhos vermelhos e sinto vontade de lhe dar um abraço. Me aproximo do balcão e puxo uma ficha em branco da pilha. Tento dar um olhar suave para a mulher, que assente minimamente apertando os lábios. Pobre coitada.


– Não precisa se preocupar com isso. Você vai ter as informações até o fim da tarde, levamos nosso trabalho a sério. – Pray respondia.



  Engulo seco antes de me aproximar dos outros dois. O de moicano e o máscara de caveira assustadora estavam mais afastados, observando a cena se desenrolar. O mais baixo frequentemente comentava algo com o parceiro, mas eu não podia identificar se ele respondia ou não por conta daquela máscara maluca.



– Com licença.. – digo chamando a atenção dos dois. Sei que minhas bochechas querem ficar vermelhas. Droga, odeio meu trabalho.



– Ele tá bem?



Foi necessário muito esforço cerebral meu para manter minha face impassível e impedir uma careta. A voz daquele homem era tão rouca como ele tivesse pedaços de vidro alojados na garganta, e o sotaque era um mistério. Eu chuto Escócia ou Noruega.



– Está sim, esta fora de perigo e só precisa se recuperar um pouco. – o cara suspira de alívio se voltando para o parceiro – Eu vou precisar de umas informações dele, se possível.



  Eles se entre olham e então me olham e estremeço. As orbes acastanhadas através da máscara tornam tudo extremamente estranho.



– Que tipo de informações?



– Médicas.. – seguro um “óbvio” no final da frase. Impassível, Hunter, impassível.


O cara emite um “ah” como entendimento.



– Sabem se ele é alérgico a algum tipo de medicação?


– Não que eu saiba. – não é uma resposta confiável, mas preciso seguir com a cortesia.

ESTANDARTE Onde histórias criam vida. Descubra agora