Capítulo 4 - Crescer

11 2 0
                                    


Izuku se jogou na cama, um peso que ele sequer sabia que carregava saiu de suas costas, claro, era cruel e as vezes de madrugada ele chorava como uma criança por não poder seguir seus sonhos, mas era reconfortante saber que ao menos ele estava indo para algum lugar.

Mas doía.

Balançou a cabeça freneticamente e então foi tomar banho. Assim que desceu estagnou na sala paralisado com o que a televisão transmitia.

Suas pernas tremeram ao mesmo tempo que suas pupilas dilataram. Katsuki Bakugou estava em primeiro lugar no hankeamento dos novos alunos para o curso de heróis da U.A.

-Isso não é justo. – Murmurou sentindo seus olhos ficaram húmidos, ao mesmo tempo que não entendia o motivo daquilo.

Ele já havia se conformado de que não poderia se tornar um herói, ele já havia entendido que o mundo não era justo, mas então porque essas coisas ainda o destruía? Por que isso fazia com que ele quisesse morrer?

Não notou o olhar de pena de sua mãe em si, nem mesmo notou em que momento caminhou para fora de casa frustrado consigo mesmo.

Ele não conseguia fingir algo naquele momento, simplesmente era impossível. Depois ele voltaria e fingiria ser uma pessoa feliz, mas naquele momento especifico não queria ter que fingir não sentir nada.

-Sai da frente! – Ouviu um grito seguindo de uma buzina, algo que o tirou de seus devaneios e o fez dar um pulo de susto.

-Merda. – Respondeu com a voz chorosa então correu dali sem um destino certo.

Ao finalmente despertar, não sabia onde estava, não sabia como voltar para casa, não sabia como seria seu futuro, não sabia como ser feliz, ele simplesmente não sabia qual era seu lugar no mundo.

-Talvez até o céu esteja com pena de mim. – Disse gargalhando em meio as lagrimas enquanto sentia algumas gostas de água cair sobre sua cabeça. – Merda! – Chutou uma lata de lixo e logo se arrependeu ao sentir uma dor em seu pé.

-Descontar sua raiva em objetos inanimados não vai resolver nada, garoto. – Ouviu uma voz dizer calmamente atrás de si e logo notou que a chuva havia parado, ao menos ao seu redor havia parado.

-Eu sei. – Murmurou colocando suas duas mãos no rosto. – Droga eu sei! Mas por que dói tanto? – Continuou a murmurar enquanto não conseguia conter suas lágrimas. – Por que isso tudo é tão injusto?

-Você está perdido, não está?

-Eu sempre estive perdido, não a lugar para mim nesse mundo.

-Talvez no seu mundo realmente não aja. – O homem colocou a mão em seu ombro. – O mundo é muito grande para se limitar apenas nas coisas que você conhece agora.

-Acho que conheço coisas o suficiente. – Soltou uma risada anasalada, seguida de uma fungada.

-Bem... você não conhece o lugar em que está, não é? – Ele brincou. – Está em um mundo completamente fora do que você conhece, você está perdido em uma nova terra.

-Eu também estava na antiga.

O homem ouvia pacientemente todas as suas reclamações, mesmo que tivesse mil coisas das quais deveria fazer, não ignoraria uma criança que não sabia sequer controlar os próprios sentimentos.

-Você tem quantos anos agora? – Perguntou ao ver que o menino finalmente parou com seus múrmuros.

-15.

-Você sabe por quantos anos em média vive um ser humano?

-Acho que 80... mas não tenho certeza.

-Isso é tempo pra caramba né. – O homem apagou seu cigarro. – Você não viveu nem um terço da sua vida ainda... eu tenho um segredo para te contar garoto.

-Segredo? – Murmurou finalmente se virando para encarar o homem que o protegia da chuva, tomou um pequeno susto ao observar sua aparência de "mafioso", mas logo deixou seus preconceitos de lado.

-Sim, um segredo de um homem que já viveu muitos "mundos". – Ele sorriu se aproximando para ficar da altura de Izuku. – Nem todos os dias são bons, nem todas as fases são boas, mas não é por isso que você deve resumir toda a sua vida em apenas tristeza, a vida não é apenas A e B, é uma infinidade de letras e números, uma infinidade de porcentagens.

Izuku continuou a observa-lo enquanto tentava absorver suas palavras.

-Você não precisa ficar mais triste por estar triste, está tudo bem ficar assim as vezes, todos ficamos assim. – Ele entregou o guarda-chuva a Izuku que o pegou meio desajeitado sem saber ao certo o que fazer, mas imediatamente se acalmou ao ver que o homem apenas queria pegar o cigarro e o isqueiro, assim que os acendeu recuperou o guarda-chuva. – Frustração, inveja, injustiça, egoísmo, por mais que sejam sentimentos ruins fazem parte do ser humano, esses sentimentos o torna humano.

-Humano... – Ele mordeu os lábios. – De repente essa palavra se tornou suja e amarga.

-Não podemos controlar nossos sentimentos assim tão facilmente. – O mais velho sorriu tragando mais uma vez seu cigarro. – Se isso fosse tão fácil de ser resolvido o mundo não estaria tão dividido, não acha.

-É tudo tão cruel, tão doloroso.

-Isso faz parte do crescimento, nossas mães não conseguiram nos proteger para sempre, entende?

Ele baixou a cabeça encarando seus pés, fazia quanto tempo que estava fora de casa? Sua mãe devia estar preocupada com si.

-... Pode me dizer onde estou? – Olhou ao homem que deu um meio sorriso.

-Essa é a rua dos Zombies, se você seguir 13 quadras em sentindo da torre chegará a principal. – Apontou para uma torre que quase não era visível devido aos altos prédios. – Você irá mesmo embora nessa chuva?

Izuku observou a água que incessantemente caia ao seu redor, ele se sentia protegido embaixo daquele grande guarda-chuva.

-Não tenho escolha. – Sorriu desajeitado e o homem suspirou o empurrando o guarda-chuva.

-Cuidado no caminho de volta. – Murmurou dando um curto aceno enquanto dava as costas para ele. – Alias, meu nome é Giran.

-E-Eu... – Ficou exasperado ao ver o homem ir embora tão rapidamente. – Sou o Izuku! – Disse com a voz um pouco mais alta enquanto apenas o observava ir.

Lugar no mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora