Izuku não sabia quando toda aquela merda havia começado, ele poderia sentar e refletir durante um dia inteiro e ainda assim não chegaria a uma conclusão sobre quando foi que sua vida desandou daquela forma.
Na verdade, talvez ele pudesse chegar à conclusão de que tudo se transformou nisso assim que ele deu seu primeiro choro de vida, então ele poderia culpar sua mãe por toda sua merda, mas não é justo culpar os mortos, então ele pode simplesmente culpar o bastardo de seu pai que apenas participou da festa e sumiu de suas responsabilidades.
Certo, então a culpa é toda e completamente de seu genitor. Se ele não fosse um assanhado que pensa mais com a cabeça de baixo do que com a de cima Izuku agora nunca estaria nessa situação.
Ele respirou fundo olhando para trás já sabendo o que esperar.
Seu perseguidor gosta de ser bastante pontual.
-Deku. – O pro-hero o chamou com a voz baixa e arrastada a medida que se aproximava do adolescente.
O garoto sorriu divertido se levantando da beira prédio para se aproximar do mais velho.
Talvez toda sua vida tenha sido um erro, mas ele se lembrava claramente de como havia tomado esse caminho.
2 anos antes...
All Might havia aterrissado em um prédio ao notar Izuku grudado a si.
Suas emoções estavam fora de controle, tudo naquele dia havia sido horrível para si, não sabia dizer se era por seu professor tem dito a toda sua turma sobre seus planos para o futuro, por seu "melhor amigo" ter explodido seu caderno e literalmente o mandar se jogar de um prédio, ou por ter sido atacado por um vilão.
Ele não queria deixar aquela oportunidade passar, All Might o salvou, precisava ao menos acalmar seu coração de alguma forma, precisava de um meio de "consolo" e acreditava que talvez seu herói de infância pudesse trazer a paz que seu coração tanto pedia.
Seus olhos lacrimejaram a medida que lembranças o atingiam:
"Melhor desistir de uma vez", disse o médico que o examinou;
"Perdão, Izuku. Perdão. Perdão", sua mãe o implorava enquanto chorava;
"Do que diabos você seria capaz? Não tem nem individualidade", seu amigo gritava com si.
Certo, talvez todos dissessem a verdade, todos estavam certos, mas ele não queria acreditar nisso, ele queria mostrar a todos que conseguiria.
-Mesmo sem individualidade posso ser um super-herói? – Gritou de uma vez enquanto o número 1 o dava as costas para ir embora. – Alguém sem individualidade pode ser que nem você? – Suas pernas perdiam as forças à medida que despejava tudo que havia em si para fora.
O herói se virou sem reação e então o segredo nunca revelado foi mostrado a si.
Todo o seu corpo murchou enquanto um vapor saia, seu espanto foi evidente enquanto fazia diversas perguntas ao mesmo tempo de que duvidava se aquele à sua frente era verdadeiramente o herói número 1.
O herói explicou sobre a batalha de 5 anos atrás que nunca fora divulgada, seu ferimento que destruiu parte de seu sistema respiratório e estomago, além das mais diversas cirurgias que foi submetido até que seu corpo definhasse. Agora podia ser um herói por pouco mais de 3 horas ao dia.
-Profissionais sempre arriscam sua vida. – Ele explicava pacientemente enquanto analisava as reações do garoto a sua frente. – Não tenho como te dizer que pode se tornar um herói sem algum tipo de poder. Se quer ajudar as pessoas, pode se tornar um policial, tiram ondas com eles diretos por só guardarem os vilões, mas é outro trabalho de respeito. – Ele se direcionou a porta que tinha ali para ir embora. – Não há nada de errado em sonhar, mas também é preciso encarar a realidade, jovem.
Izuku observou o herói deixar o lugar para finalmente desabar ao chão.
Ele estava certo, ele sabia disso, mas mesmo assim... doía tanto.
Quero dizer, durante toda a sua vida foi intimidado, rebaixado e motivo de piada, o que faria a seguir.
Merda, o que ele faria a seguir?
Ele olhou para o céu com os olhos marejados, aquela era uma bela tarde, o dia realmente estava bonito.
A medida que o dia corria começava a esfriar, aquilo era irritante, ele não tinha um grande ego para se chamar de "centro do universo", mas apenas naquele dia ele gostaria que o tempo parasse e o desse mais algumas horas, talvez dias... ok, ele precisará de muito tempo para assimilar tudo e se reorganizar.
Aquilo era tão injusto com si. Por que ele tinha que ser a pessoa a desistir de seus sonhos? Por que ele e não todos aqueles babacas que transformaram a sua vida em um inferno?
Jogou o braço em seu rosto na tentativa de o proteger dos raios solares que estavam indo embora, naquela altura já não restava nada em si para que pudesse chorar.
Ele estava quebrado, acabado, destruído, ele só, não tinha mais nada em si.
Foi estupido em pensar que isso poderiaser possível e ter dedicado toda à sua vida em busca de algo irrealista, o pior de tudo era que a única pessoa que podia culpar era a si mesmo, ele foi a único a alimentar o sentimento de "se eu for perseverante, se eu desejar o suficiente então eu consigo".
Ele foi muito estupido.
Sentiu seu celular vibrar mais uma vez antes de desistir e finalmente atender.
A voz da mulher eufórica do outro lado da linha começou sem parar.
Ela reclamava sobre ele ainda não ter voltado para casa, perguntava se algo havia acontecido com ele e o motivo de ter ignorado mais de 20 ligações.
Respondeu um simples: "Sinto muito mãe, já estou chegando", e encerrou a ligação.
Ele simplesmente não conseguiria lidar com aquilo agora.
As semanas seguintes foram ainda pior.
Izuku era alguém que passou a viver no automático, ele já não se importava com nada do que acontecia ao seu redor, era apenas irritante ter que lidar com tudo aquilo agora.
Sua rotina tornou-se acordar tarde e chegar atrasado na escola, pular algumas refeições por simplesmente esquecer que precisava comer, ignorar todos a sua volta, mexer em seu celular durante o resto do dia e ir dormir de madrugada, e vez ou outra dizia a sua mãe que estava doente e não conseguiria ir para a escola.
Não é segredo que suas notas logo começaram a cair e que seu rendimento ia de mal a pior, algo que era tão importante a si tornou-se apenas um pedaço de papel sem valor, igual a sua vida.
Izuku sabia disso agora, agora que passava noites em claro pesquisando coisas idiotas e fazendo sabe se lá o que. Ele sabia que não havia lugar para pessoas como ele no mundo, pessoas sem uma "quirk".
Elas mal chegavam a idade a adulta e mesmo que chegassem estariam em um emprego medíocre que mal daria para sobreviver durante o mês.
Simplesmente não havia lugar para si no mundo.
-Izuku, querido. – Ouviu três batidas leves em sua porta.
Um brilho iluminou seu olhar. Ainda havia um motivo que o prendia ao mundo, ainda havia um lugar para si no mundo.
-Eu sei que algo aconteceu e eu não quero ser evasiva. – Ela suspirou com a voz mais baixa. – Mas eu estou preocupada com você. – Se você ouvisse com atenção poderia notar os soluços baixos e fungadas da mulher, ela tentava esconder, mas com a voz tremula a entregava. – Eu fiz seu prato favorito.
Izuku respirou fundo tampando forte seus ouvidos.
Que merda ele estava fazendo? Sua mãe todos os dias vinha ali e tentava se comunicar e ele só lhe dava as costas, qual era a porra do seu problema?
Inko Midoriya era o seu pontinho de felicidade, a única pessoa no mundo que estava ali para ele, sempre esteve e sempre fez de tudo para ele. Como ele conseguia fazer aquilo com a melhor mulher do mundo?
Ele ouviu os passos da mulher se afastar da porta.
Izuku Midoriya era o pior filho do mundo.
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Lugar no mundo
Fiksi PenggemarEu não sei quem sou ou quem eu deveria ser, sinto que não faço parte de nada e nem de ninguém. Minha própria mente está me entorpecendo e me levando a loucura, talvez eu seja muito novo para tudo isso? (Capa vagabunda e história amadora) (Atualizaçõ...