capítulo 4

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Mais uma consulta... Sentei no sofazinho de espera até que... A moça da recepção atendeu o interfone. Fiquei prestando atenção na conversa dela, eu podia apostar que estava falando com a Wednesday. Logo que a recepcionista colocou o telefone no gancho, virou-se na minha direção e disse que eu poderia entrar. Abri a porta do consultório que estava apenas encostada. Wednesday estava sentada na sua cadeira de frente para a mesa cheia de papéis. Analisava umas folhas azuis. Parou de ler assim que notou a minha presença. Ergueu a cabeça e me olhou de frente. Acenei pra ela.

- Bom dia, Nid. - disse como sempre.

- Bom dia, Wed - silêncio - Se você me chama de Nid, posso te chamar de Wed, não é?

A mulher balançou a cabeça afirmativamente.

- Vamos iniciar a nossa sessão?

- Por que eu fiquei esperando esse tempo todo lá fora se não tinha ninguém aqui dentro?

- Pelo que me lembro, seu horário é às dez. Caso queira adiantar alguma consulta, pode ver com a secretária se temos disponibilidade no horário pretendido.

- É que hoje... Eu pensei... - sacudi as mãos como quem desiste de se justificar - Esquece, vai! - caminhei até o divă e sentei. Wednesday levantou da cadeira e veio na minha direção segurando nas mãos o seu inseparável bloquinho. Sentou na poltrona a minha frente.

- Me parece impaciente. Algo está te aborrecendo?

- Não.

- Quer que eu pare de te fazer perguntas?

- Meus pais me aborrecem, só isso! - ergui a face, encarei os olhos negros-É muito grave não querer ser filha dos nossos pais.

- Desentendimentos em família são normais, mas isso não quer dizer que pais e filhos não se amem.

-Eu tô presa, Wed. - coloquei as mãos no rosto, depois tirei - Presa dentro da minha própria casa. Não posso mais ir à rua, nem atender o telefone. Vai fazer um mês que só vejo as minhas amigas da escola e na escola. Não paro de pensar em... - me calei, depois me levantei do divă - Eles querem me punir porque sou diferente do que sonharam, sabe?

- Sente-se Nid. Quer que eu peça uma água pra você?

- Quero que me diga o que fazer com o que eu sinto? - parei na frente dela. Wednesday ergueu o olhar.

- Com relação a quê?

- Aos meus sentimentos por... - me abaixei, apoiei as mãos nos braços da poltrona. Ficamos a centímetros de distância - Estou enlouquecendo, sabia?

Ela me afastou gentilmente, determinando uma distância entre nós com os seus braços estendidos na altura dos meus ombros. "Ela vai pensar que sou mesmo louca".

- Se acalme. Estou aqui para tentar te ajudar. - respirou fundo - Vejo que está confusa.

- Desculpe.

- Quer falar mais sobre o seu convívio em família?

- Minha vida é sem graça... Queria falar sobre outras coisas - caminhei até a janela do consultório. Tinha uma vista bonita.

- Por que acha a sua vida tão sem graça? - disse parada atrás de mim. Virei de repente ao ouvir o som gostoso da voz dela nas minhas costas. Esbarrei em Wednesday. Ficamos tão próximas. Mergulhei fundo nos olhos dela e percebi que aquela mulher não estava tão segura quanto na primeira vez em que nos vimos. "O que teria mudado?". Num impulso segurei sua mão esquerda.

- Falta emoção na minha vida sussurrei enquanto soltava a mão dela. Desconcertada, Wednesday retornou até a sua poltrona. Caminhei lentamente até o divã. Sentei ainda em silêncio. Ela apenas me olhava. - Estou me sentindo sufocada, entende?

Minha Doce Psicóloga |  Wenclair (adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora