Capítulo 3

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Lá estava eu novamente. Dentro do consultório, sendo observada pela mulher que havia se perpetuado em meus pensamentos nesses últimos dias. Respirei fundo... Nervosa pela primeira vez diante de uma mulher. Sim! Sempre fui ousada, mas diante de Wednesday, eu não conseguia ser nada mais, nada menos do que uma adolescente apaixonada? Sim, e também cheia de sonhos bobos. Ela exercia sobre mim, um fascínio que eu, sinceramente, não esperava que um dia pudesse sentir tão ardente na minha pele. Chegava a doer no meu corpo.

- Sente-se Enid... - apontou o divă - Posso te chamar de Nid?

"Pode me chamar de meu amor também"

- Lembra de mim? - disse desconfiada, logo me sentei no local indicado.

- Sim, você foi a primeira paciente a me deixar falando com as paredes - sorriu suavemente, deixando transparecer duas discretas covinhas no cantinho dos lábios. Eu notava cada gesto dela, analisava a mulher da cabeça aos pés. Jurei pra mim mesma que aproveitaria cada segundinho ao lado daquele monumento.

- Paciente? Não estou doente. - disse - afrontada.

- É só o modo de dizer, querida. - cruzou as pernas à minha frente e eu acompanhei com o olhar. Engoli em seco quando vi os seus joelhos por baixo da saia do terninho rosa bebê que ela usava. Sobre ele o jaleco branco. - Tenho muitos pacientes que fazem terapia para reduzir o estresse.

-Pode me chamar de Nid - respondi
tardiamente a sua pergunta.

- Que bom. - silêncio. - Sei que está sendo obrigada a vir aqui, por isso gostaria de fazer uma proposta.

- Que proposta? - fitei-a desconfiada, a última vez que me fizeram uma proposta minha mãe me pegou aos beijos com Yoko no quarto. A Proposta foi ensiná-la Biologia em troca de uns beijinhos inocentes na boca.

- Sete sessões. Depois disso, se você não se sentir a vontade, não precisa mais vir - falou a psicóloga séria, olhando-me como se eu fosse alguém que ela se importasse. Nem meus pais se importavam comigo, por que ela importaria? Ah, sim! Eu estou pagando pelas consultas. Será que é isso?

Olhei-a por alguns segundos antes de concordar com aquele que parecia ser um desafio.

- Feito! - disse e recebi de volta um sorriso que me fez ter certeza de que valeria a pena frequentar aquele consultório mais vezes.

- Acho que começamos a nos entender. Não sou sua inimiga, Nid.

"Vamos ver".

Essa seria a nossa primeira sessão. Wednesday perguntou se eu gostaria de falar sobre mim. Falar sobre mim? Então é assim que começa, e quando será que vêm as sessões de choques?

-Eu sou Gay! - disse de imediato enquanto ela apanhava um caderno de anotações nas mãos. Wednesday ergueu lentamente o olhar, não sei quanto tempo o negro dos olhos dela ficaram mergulhados nos meus. Acho que a assustei. Será que fui sincera demais? Eu deveria ter esperado ela perguntar qual era o meu problema? Não sei porque, mas eu queria ver a reação dela quando soubesse o que uma garota acima de qualquer suspeita quanto a sua sexualidade estava fazendo ali.

- Quer falar a respeito? - perguntou com naturalidade.

- Minha mãe acha que é uma doença eu gostar de mulheres - fitei seus olhos como se a provocasse - Você também acha? - perguntei irônica.

- Não quero te julgar, quero te entender.

Fiquei quieta por alguns minutos enquanto ela escrevia no seu bloco. Depois Wednesday fez perguntas sobre os meus primeiros sinais de interesse pelo sexo feminino. Achei engraçado, porque antes dela nunca comentei com ninguém a respeito das sensações que se manifestavam em mim desde que eu era criança. Confesso que ao contrário do que imaginei, me senti à vontade e contei passo a passo até chegar no beijo de Yoko, aquele que foi o responsável por eu estar ali.

Minha Doce Psicóloga |  Wenclair (adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora