capítulo 5

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    Na quarta sessão eu estava num momento de êxtase tão grande por ver Wednesday depois de um fim de semana marcado por dúvidas e saudades que não consegui dizer uma palavra a ela. Fiquei muda, estranho, não é? Passei o tempo inteiro com os meus olhos fixos na direção daquela mulher que me tirava o sono. Confesso que a minha imaginação me permitia despi-la inteira. O meu corpo reagia ao perfume sedutor e ao mesmo tempo suave que exalava da pele dela. Putz! Eu estava dando sinais visíveis de desejo aguçado. Meus olhos vermelhos também denunciavam as minhas intenções, tanto que Wednesday se levantou duas vezes para mexer em algumas folhas que estavam soltas na sua mesa sem que nada tivesse para ela verificar. Era uma fuga, Wednesday fugia dos sentimentos que ela sabia que estava despertando inconscientemente em mim.

"O que precisa ser feito para amarmos alguém? Acho que nada, nós nem ninguém poderá responder essa pergunta, porque o amor é rebelde, não tem regras e só obedece aos seus próprios estímulos." Era o que eu sentia, como uma febre dentro de mim.

Na última vez em que Wednesday voltou a sentar de frente pra mim, meu olhar buscou o dela com tamanha intensidade que eu não pude resistir.

- Senti saudades de você - disse num impulso. Wednesday desviou o olhar, e eu pude ver na sua expressão pela primeira vez o quanto as minhas palavras a deixavam perturbada.

- É normal que sinta saudades de desabafar sobre as suas... Angústias. – ela hesitou ao dizer.

Sorri pelo cantinho da boca...

- Senti saudade do seu olhar.

Ficou calada durante quase quarenta minutos - desconversou. Ajeitou o jaleco no corpo, fechou um botão

- Quer me falar sobre o seu fim de semana?

- Fugi de casa no domingo. - disparei.

- Por quê? - firmou o olhar interessada.

- Fui ver Yoko. - encarei-a.

- Sua namorada? - perguntou sem demonstrar qualquer sinal de ciúmes.

- Não. Yoko é uma amiga.

- E antes, era sua namorada? - insistiu.

- Quase.

- Era uma "ficante", como vocês costumam dizer.

- Moderninha, hein? - levantei... Caminhei pelo consultório. Parei atrás da poltrona dela. Inclinei um pouco o corpo e sussurrei no seu ouvido: - Nos beijamos. Wednesday respirou fundo e se afastou para frente. Encostei as duas mãos, uma em cada lado do seu ombro e os apertei de leve. A mulher ficou estática, com os músculos retraídos. Busquei com os olhos uma avaliação rápida da sua reação. Seus pêlos dos braços estavam alterados, levemente arrepiados, e deixavam transparecer que ela havia, de alguma forma, reagido ao meu gesto impulsivo.

- Pode sentar no divã sutilmente. por favor? - disse.

- Sensível. - dei a volta na poltrona. Parei de frente a ela.

- O quê?

- O meu hálito quente no seu pescoço fez os pêlos do seu braço direito se arrepiarem - agachei-me na frente dela - Quer que eu seja sincera? - firmei o olhar, no mesmo instante em que ela disse:

- Por hoje basta, Enid! - levantou-se e caminhou novamente até a sua mesa. "Que mulher escorregadia!"

- Descobri que os beijos da Yoko não fazem o meu coração disparar - disse parada ao lado dela. Wednesday olhava fixamente para a fotografia da sua filha
sobre a mesa. Buscando atenção, apanhei um dos porta retratos nas mãos. Ela acompanhou o meu gesto com o olhar. - Os olhinhos dela são iguais aos teus. Pretos! - sorri enquanto escorregava os dedos na fotografia - Os cabelos também - ao dizer a última frase, deslizei a mão pelos cabelos negros que estavam ao alcance dos meus dedos. Wednesday continuou na mesma posição, com as duas mãos apoiadas na mesa. Pensei em acariciar seu rosto, algo me dizia que ela deixaria, parecia frágil, no entanto, recoloquei a fotografia sobre a mesa... Tchau - disse satisfeita com o progresso que havíamos tido nessa sessão.

Minha Doce Psicóloga |  Wenclair (adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora