17 - A Lenda

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// Flashback // 

Há muitos anos, bem no início dos tempos, homens e lobos não eram um só.
Os homens haviam se perdido, esquecido suas almas, guerreavam, queriam mostrar dominância, eram frios e caçavam e destruíam sem dó. 
Os lobos eram seres espirituais antigos, protetores das antigas florestas e se viam sumindo aos poucos pela ação do homem.
A grande Deusa, Mãe de todos, chorava ao ver seus filhos se destruindo.
Seu plano não era esse. 
Cada homem deveria encontrar sua alma e se unir a ela, mostrando bondade e compaixão.
Chorava pois a liberdade dada a seus filhos e todas as bênçãos que havia planejado não haviam sido alcançadas, seu plano de jornada da alma, de valor a vida, estava  fadado ao grande fracasso.
Sua lagrima escorreu pela terra encontrando um antigo rio quase seco, as águas do rio se uniram a suas lágrimas e um novo rio surgiu. 
Um rio de duas águas, doce e salgada. 
Certa vez um homem qualquer andava pela terra queimada e viu aquele rio como sua salvação.
Se aproximou de sua margem, abaixou-se e apanhou um punhado de água para matar sua cede. 
Na outra margem um grande lobo se aproximou e encarou o humano que ali estava. 
O humano era jovem e assustado, mas encarou o lobo que, pela distancia, não ofereceria perigo. 
O lobo era gigante, de pelagem cinza e branca e grandes olhos de cor lilás.
O homem ficou encantado com a beleza e o poder do animal, mas o encantamento logo deu lugar ao desespero quando viu um grupo de homens atacando o lobo. 
A grande fera não reagiu. Se deixou ser morta. O rapaz atravessou o rio para chegar mais perto do animal e, numa tentativa, desesperada, talvez, salva-lo. 
A fera ainda respirava quando o jovem se aproximou. 
O jovem, até então sem nome, tentou de alguma forma curar os ferimentos do ser a sua frente, mas ele não possuía nada.
A fera o encarou nos olhos aceitando seu destino mas grato por não estar sozinho. 
Não tinha ódio dos humanos, seu coração era puro, mas anos e anos de ataques fizeram que seus iguais não fossem como ele. 
Logo, um grande lobo preto se aproximou, seus olhos ardiam em chama vermelha e, ao ver seu semelhante caído ao chão, atacou o único que, em sua mente, poderia ter feito aquilo. 
O humano não teve reação e nem poderia. 
Seu corpo ferido estava próximo ao lobo caído. 
Seus sangues seguiram em direção ao rio. 
Sangue de lobo e sangue humano se uniram no rio mágico da Deusa. 
O Lobo ferido deu seu último suspiro tendo ao seu lado o grande lobo preto que uivava de uma dor que não era física e logo desapareceu em luzes. 
O humano estava fraco e sabia de seu destino. 
Era solitário e ninguém sentiria falta dele.
Chorou porque conhecia a solidão e morreria nela. 
Mas as luzes que da alma do lobo não se dissiparam, foram em direção ao jovem, fazendo o lobo preto olhar assustado.
- Obrigado por não me deixar sozinho. Me perdoe por isso, mas você nunca mais ficará só.  
O humano ouviu isso em sua mente, seus olhos assumiram o tom lilás e ele sorriu se sentindo completo pela primeira vez em sua vida, mesmo que ela estivesse prestes a ter um fim.

Vendo que alma de seu amado estava preso ao homem que logo morreria, o grande lobo preto se desesperou.  
Suas iris vermelhas encontraram a lilás que agora também pertencia ao humano
- Porque fez isso?
O humano respondeu com o pouco de força que ainda tinha: 
- Não fomos criados para nos destruir, sempre fomos um só. Um corpo não vive sem alma e uma alma não vive sem corpo. Nos veremos em uma próxima vida, Vexys. 

A grande mãe observava tudo e a própria foi amparar em seus braços o jovem e seu lobo.

Ali ela viu que nem tudo estava perdido.

Que o ser humano ainda seria capaz de ir em busca de sua alma.

Logo histórias de um homem que se uniu a um lobo foram ouvidas e muitas outras uniões foram feitas.

Algumas não pelo motivo certo, como do jovem, pelo encontro sincero e cheio de bondade.
Alguns se conectavam para obter força, como acordos de sobrevivência... As espécies eram mais fortes juntas. 
O homem tinha o poder do lobo e o Lobo o corpo do homem. 

Após algum tempo, pouco se via um lobo que não tivesse sido tomado por um ser humano.
E logo após mais algum tempo, lobos sem humanos era apenas uma lenda, assim como o jovem que foi o primeiro a se unir. 

Logo novos humanos nasciam já com seus lobos e estruturas corporais diferentes.

Os lobos ensinaram aos humanos suas designações e suas funções na alcateia.

Logo uma nova sociedade ia se instaurando. 

Alfas e ômegas juntos. 

Mas novamente, a ambição do ser humano dominou o lobo, fazendo com que os humanos que possuíam alfas se julgassem melhores e mais dignos, afinal, em suas cabeças, foram capazes de dominar um alfa.

Anos iam se passando e sobre a história dos lobos e dos homens a lenda mais antiga era de um lobo preto selvagem.

Muitos homens tentaram achá-lo e logo sua lenda era apenas um vaga lembrança na mente dos mais velhos. 

Séculos se passaram, a sociedade estava estruturada em monarquia, alfas estavam no topo do hierarquia, mas um para um menino baixinho de cabelos pretos e pele bem clara, algo não fazia sentido. Ele não sentia seu lobo. 

Em um dia ensolarado de verão, esse menino foi até uma área afastada da cidade de onde morava procurando um lugar que pudesse ficar só. 
Era difícil viver naquela sociedade onde seu lobo era importante para a forma como as pessoas iriam lhe tratar. 
Ele se sentia vazio e julgado. 
Caminhava sem destino e acabou se perdendo, mas encontrou um belíssimo rio.
Sentou as suas margens e olhava seu reflexo nas águas quando foi tomado por um susto que o fez cair dentro do rio.
Um grande lobo preto completava seu reflexo na água. 
Mas o jovem pouco teve tempo para contemplar já que o susto que o fez cair no rio o alertou que ele não sabia nadar.
O jovem se debatia e o lobo apenas o olhava, virando sua cabeça de um lado para o outro. 
- Humano idiota - ele pensava 
Enquanto o rapaz se afogava e pedia ajuda ao lobo mesmo sem saber se ele o entenderia. 
O lobo apenas o olhava. Ele o entendia, mas o que não entendia é que por muito menos humanos faziam acordos para se unirem aos lobos. E lá estava ele, e o humano apenas o pedia ajuda. 
O jovem havia perdido suas forças e o lobo percebeu quando ele emergiu desacordado. 
Já estava se virando para voltar para a solidão da floresta quando ouviu algo em sua mente: 
- Me ajude, por favor...
Ele se voltou ao corpo desacordado pensando que não seria possível tal conexão assim... 
O lobo puxou o garoto das águas e percebeu que era apenas um filhote, não deveria nem ter 10 anos completos. 
Respirou com pesar e passou seu focinho no rosto do menino.
Ele havia deixado um filhote morrer... no que anos de solidão o havia transformado. Não importa que era um humano ainda assim era um filhote. 
Se deitou ao lado e apoiou sua cabeça no tronco do menino. 
Sentia culpa e sabia que seu amado não pensaria duas vezes antes de pular naquele rio. 
Depois de séculos ele se permitiu chorar. 
Era apenas um filhote.
Inocente.
Assim como o filhote que esperavam.
Vexys se aproximava ainda mais do corpo do menino, emprestando a ele seu calor, como se isso pudesse salva-lo de alguma forma. 
Mas ele sabia que não poderia. 
Foi então que ele soube o que deveria fazer e se permitiu se juntar a ele, devia uma vida ao pequeno e faria isso por amor. 

Algumas horas se passaram e os pais do menino o encontraram na beira do rio. 
Abraçaram seu filho agradecendo a Deusa por encontra-lo com vida. 
Agora poderiam levar o pequeno Yoongi de volta pra casa. 

 



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Aquele flashback gostosinho para uma sexta feira.
Não esqueçam de comentar, é como eu sei que vocês estão gostando 
da história :)  



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