O que Sentimos no Verão

Capítulo 6 - As Conversas

Magali

Magali só conseguiu segurar as lágrimas até estar no caminho de areia, indo na direção da casa de Xaveco. Quando adentrou a cozinha, a única coisa que conseguiu fazer foi deixar fluir a vergonha, a humilhação e o pânico que tinha sentido a poucos instantes.

Ela teve a sensação que todos tinham visão raio-X e podiam ler seus pensamentos e ver por trás da máscara que ela usava para esconder um desejo íntimo ou outro.

Ela sabia que podia ter pedido a Mônica para passar protetor solar em suas costas. Talvez tivesse poupado toda essa confusão... Mas não era a mão da amiga que Magali queria sentir em seu corpo. Ela quase não conseguiu esconder a satisfação quando quem ela queria de verdade que a tocasse permaneceu fazendo carinho em suas costas mesmo depois do produto já ter sido espalhado.

Ela tinha que tentar fazer seu desejo acontecer... como ia saber que Quim chegaria na hora e faria aquela cena? E culpando Cascão ainda por cima. Como se a culpa não fosse dela, como se o desejo ardente debaixo da pele não fosse o dela.

Por isso ela não reagiu quando Quim a humilhou na frente da turma. Ela sentia que merecia. E Cássio ainda tinha intervido por ela... Magali já não sabia mais o que pensar ou o que fazer.

Então, a garota lembrou de sua válvula de escape. Comer certamente a faria se sentir melhor. Quando estava decidindo se prepararia um sanduíche ou comeria um salgadinho, viu Cebola passar pela porta da cozinha.

O amigo entrara distraído e cabisbaixo, mas quando reparou sua presença deu uma ajeitada na coluna e, enquanto se servia de um suco de laranja de garrafa na geladeira, perguntou.

- Ah, Magali... você por aqui? Por que não está na praia com os outros?

- Eu... hum... não estou nos meus melhores humores... - Respondeu envergonhada.

- Bem-vinda ao clube, então! - deu um riso abafado e sem graça - só quem está aqui na casa está tendo um dia de merda.

Ela tentou não sorrir, mas não conseguiu.

- Vendo pela sua animação, posso concluir que só nós dois somos os felizardos. - diz a garota.

- Hehe... é... só nós dois.

Um silêncio seguiu por alguns instantes. Cebola tomou uns goles do suco e disse em seguida.

- Quer ver um filme comigo? Prometo não perguntar, se você fizer o mesmo. - ele ganhou um sorriso em resposta.

- Sim, sim. Acho que alguma companhia pode fazer bem a nós dois.

A morena abriu o armário e pegou um pacote de salgadinhos. Depois, enrolou uma canga no corpo e seguiu Cebola até a sala, onde assistiram no sofá por umas boas horas um filme de ação qualquer que o rapaz tinha escolhido.

Ela tentou prestar atenção no filme, mas seu foco vacilava tristemente entre o enredo e o que tinha acontecido mais cedo. No começo foi mais difícil. Mas com o passar do tempo, ela começou a querer saber o que ia acontecer e até a gostar do filme, por mais que longas de ação não fossem seu estilo preferido.

Ela estava melhor, concentrada na trama, trocando um comentário ou outro com Cebola sobre a metragem, quando, em um dos minutos dos desfecho, a personagem principal diz a seu parceiro de aventuras:

"Nathaniel, eu quero ficar com você... Se o mundo inteiro acabar hoje e tudo der errado, eu quero que saiba que não valeria nada todo esse esforço para salvá-lo, que seria a mesma coisa que ele se partir agora, se eu não puder dividir a alegria dos meus dias ao seu lado. Eu não amo o Theo. Foi tudo uma mentira para chegar até aqui... Até esse momento. Eu vou dar a minha vida para terminar do seu lado".