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Park Jihyo 🐑


O cheiro de asfalto molhado e grama úmida são o que me fazem sentir em casa.

Crescer em uma fazenda no interior da Coreia do Sul não tem nada de mágico ou encantado como alguns podem imaginar. Eu, desde pequena, aprendi a ordenhar vacas, tosquiar ovelhas e pegar ovos no galinheiro. Lidar com peões e a poeira levantada no barro seco faziam parte da minha rotina.

E viajar para a cidade mais próxima para estudar me fez criar uma personalidade apática e isolada. Sofrer assédios por conta de onde você vem acaba te deixando amarga com a vida.

Mas eu amo onde moro e amo o que faço.

Aos 18 anos decidi que faria um curso de medicina veterinária apenas para aprender a cuidar dos bichos da fazenda, mas não cheguei a terminar.

Meu pai descobriu que tinha tuberculose quando completei 20 anos. O tabaco sempre foi um bom amigo nos nossos momentos de stress.

Era rotineiro, meu pai bolava um cigarro de tabaco pra mim e eu preparava um cachimbo pra ele, e assim tínhamos as conversas mais profundas na varanda do meu quarto, observando o rebanho de ovelhas ao longe.

Quando meu pai faleceu eu tinha 23 anos. Foi uma luta intensa contra a doença que o tirou de mim, mas não consegui abandonar os momentos na varanda mesmo com a ausência dele.

Entre idas e vindas, meus irmãos foram embora. Jisoo, minha irmã gêmea, se casou e se mudou para Seul quando descobriu que estava grávida. E Chanyeol, o mais velho, inventou de fazer um mochilão pela Europa.

Sobrou pra mim a responsabilidade de cuidar de Jiwoo. Entretanto eu precisava de alguém para ajudar a cuidar dela e manter a casa em ordem já que nosso caseiro, Minseok, não estava dando conta.

Cheguei a contratar cinco funcionárias. Todas estavam fazendo um bom serviço, mas nenhuma delas aguentava ficar vivendo isolada na fazenda com a companhia de peões e uma pré adolescente birrenta.

Eu e os demais só íamos até cidade quando necessário. Por conta das ovelhas, precisávamos ficar na região montanhosa da província.

E quando eu ia até a cidade, sempre ia no mesmo local. A dona de lá era uma das poucas amigas que eu tinha. Im Nayeon, a filha do nosso vizinho fazendeiro dono de um rebanho imenso de bois.

Nayeon não quis seguir o caminho do pai e abriu uma cafeteria na cidade quando tinha uns vinte anos. Eles eram a família mais rica da região.

- Já trago seu café extra forte, Jihyo - a atendente falou assim que me aproximei do balcão e eu assenti, colocando o boné em cima do mesmo.

Estávamos chegando na época do calor e eu precisava cortar meu cabelo. Apenas prender os fios pretos não estava adiantando.

- Se veio pra cidade no meio da semana deve ter notícias ruins - Nayeon sentou na banqueta ao meu lado e me entregou a xícara com café.

Nayeon sempre andava muito arrumada, sempre com umas roupas chiques bem estilosas, e o cabelo loiro estava muito bonito nela também.

E eu me contentava com calça jeans e regata.

- Haesoo pediu demissão. Vir pra cá todos os finais de semana não foi o suficiente pra ela matar a saudade da civilização...

- Ela é a milésima funcionária que pede demissão. Por acaso a casa é assombrada?

Ri fraco.

- Acho que não é todo mundo que está disposto a se isolar em troco de moradia, comida e um salário decente - respondi dando um gole no café.

Unshaken - SahyoOnde histórias criam vida. Descubra agora