*ATENÇÃO* esse capítulo contém um relato de abuso sexual e pedofilia e pode trazer gatilhos em diversas pessoas. A autora aconselha que seja pulado por pessoas sensíveis
A maneira que aquele homem encostou em mim, era a mesma que aquele verme me encostava. Como se eu não estivesse sentindo, ou como se eu estivesse gostando e pedindo por aquilo
E a verdade? Eu nunca quis, EU ERA UMA CRIANÇA, eu sequer sabia o que estava acontecendo
Mas então o Matheus me defendendo, expulsando aquele maldito, e me ajudando a acalmar as lembranças dentro de mim, eu nunca senti aquilo. Ninguém me ajudou naquele tempo, porque ninguém espera por algo tão sujo. Mas ele viu, e me defendeu, será que ele me ajudaria novamente?
Quando me levou para seu escritório e falou sobre Lucca, eu pensei em mim, no que eu vim fazer aqui. É claro que foi pra fugir de tudo, das lembranças dos traumas, pra tentar esquecer já que eu não conseguia mais superar tudo aquilo, já que eu não conseguia mais encontrar a velha Ária, que gostava de beijinhos e namoricos de adolescência, até tomar coragem para perder a virgindade com um deles, e trazer de volta todos aqueles pesadelos. Eu queria ser aquela velha eu, que não conhecia tudo isso, que adorava festas e flertes, que não tinha medo de todas as pessoas em volta, que não precisava beber para fingir que os problemas não existiam, e para aceitar que eu não fui a culpada, e sim a vítima
E então eu achei que me mudando de cidade as lembranças não me encontrariam, eu procurei uma faculdade longe, um curso impopular, mas para que? Era claro que nada mudaria, eu só queria me enganar achando que eu ainda podia voltar a ser aquela menina
Mas eu nunca voltaria, eu seria só um fardo, para Lucca e também meus pais. Lembrar a maneira como se sentiram culpados quando descobriram, como carregaram um fardo tão grande sendo que não eram os culpados, como tiveram que me apoiar quando sequer tinham forças para sustentar a si mesmos, como ficaram arrasados ao me ver fugir de tudo, em busca de algo que nem eu sei o que é. E então Lucca, que sempre cuidava de mim quando criança, que não gostava que eu usasse saias curtas pois tinha ciúmes, ou como não queria que eu dançasse com meninos nas festas juninas pois, "ele sabia o que eles pensavam". E em como ele ficou feliz quando falei que moraria aqui, como ele me emprestou sua casa para morar, como me levava ao curso, como cuidava de mim, ele não merecia isso, uma menina quebrada que não sabe como lidar com isso, e que era só mais um fardo entre trabalho a e correria do dia a dia
Fato é que agora, só consigo me sentir um peso na vida dele e de todos por causa dos traumas que reviviQuando passamos por situações traumáticas nosso cérebro acaba apagando ou "esquecendo" estas memórias para que não tenhamos medo, principalmente durante a infância, onde nos assustamos muito facilmente. Mas minha psicóloga disse que quando estamos em uma situação parecida com aquela vivas, em alguns casos, estas memórias voltam.
Foi assim que aconteceu comigo. Depois da noite em que perdi minha virgindade, eu comecei a ficar ansiosa quando falavam dele, em uma vez que nós vimos em um casamento da família, eu quis vomitar ao ver seu rosto, mas em uma festa dos meus colegas, quando um menino estava tentando me forçar a ficar com ele, foi aí que eu lembrei e entendi tudo
A memória de um verão na casa de praia, com esse primo do meu pai sua esposa filha e neto. E então, lembranças dele passando suas mãos pelo meu corpo infantil, de seus dedos subindo por minha perna e virilha enquanto fingia brincar comigo, mas talvez a pior memória, seja a da vez em que me colocou no seu colo para eu "dirigir", ele passava suas mãos pela minha intimidade, e ainda falou que eu não podia contar a mamãe e papai que tinha dirigido com ele porque eles ficariam bravos comigo. Tudo isso, quando eu ainda não passava de uma criança de 8 anos de idade e ele já beirava os 50
Aquele verme asqueroso, que conseguiu acabar com a minha vida antes mesmo de eu vivê-la
Lembrar de tudo isso era difícil para mim, porque apesar de meus pais hoje já saberem, e terem tentando matá-lo com as próprias mãos, a verdade é que essa marca nunca vai sair. Mesmo entendendo que eu fui vítima daquele imbecil, eu nunca consegui ter prazer com um homem. Eu tive um namorado quando fiz 17 anos, e ele terminou comigo porque era ridículo eu ter medo dos seus toques. E eu tentei, eu juro. Aceitei ter relações com ele para satisfazê-lo, mas chegava uma hora que a repulsa era tanta que eu não conseguia mais fingir
E então, foi assim com alguns caras, eu me sentia atraída, mas toda vez que eles encostavam em minha vagina, eu só conseguia sentir as mãos daquele desgraçado.
Achei que hoje seria diferente, Matheus me salvou de um abusador e prometeu que me manteria segura, mas mesmo confiando nele, minha cabeça não conseguia entender isso.
Meu psiquiatra disse que quando eu encontrar um homem que confie, posso começar a relachar e aos poucos aprender a sentir prazer com o sexo. Mas, nas raras vezes que transei com meu ex-namorado, precisei do álcool para conseguir suportar e com isso ganhei uma bela reprimida do Dr. Thiago
Eu queria encontrar alguém que soubesse o que eu passei e que me ensinasse o que eu ainda não sei
Quem sabe o Matheus seja esse homem? Será que ele me ajudaria?
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O melhor amigo do meu primo
RomanceAria nasceu no interior do estado do Paraná e se muda para Curitiba para começar a faculdade de história Ela foge dos traumas de criança e escolheu a cidade grande para recomeçar Matheus é um homem rico, divertido e um grande amigo Ele herdou a c...