Capitulo 11 - Mateus

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" ... foi o que aconteceu há muitos anos atrás "
Peguei em sua mão e tentei acalma-la lá, seja lá qual foi o motivo para ter bebido tanto, parece ser muito sério
- Ária, tenta respirar, você bebeu e o assunto parece sério demais para falar bêbada - Tentei argumentar, mas ela estava determinada
- Não Matheus, se eu não falar agora, não vou nunca mais - Merda, eu não sei o que fazer, mas é melhor escutar agora porque prece que ela precisa de ajuda
- Tudo bem querida, eu tô ouvindo - Mas eu jamais queria ter ouvido aquilo que veio em sequência
- Quando eu tinha uns 15 anos, na festa de 2 amigos meus, um menino tentou me forçar a ficar com ele e eu não queria, ele tentava cada vez mais e mais forte, quando eu consegui fugir descobri que ele tentou me drogar, e aquilo me despertou lembranças de quando eu era criança - Não podia ser
- Ária, você quer dizer qu... - Por favor, deixa eu acabar - Pediu com os olhos cheios de lágrimas, e então eu concordei com a cabeça enquanto a trazia para perto
- Quando eu tinha 8 anos nós passamos o verão na casa de praia, e tinha um primo do meu pai lá, ele tinha uns 40 e poucos anos, e ele... me abusou. Eu tenho lembranças de seu toque no meu corpo, mas o pior de todos é quando ele passava sua mão na minha intimidade, eu lembro até hoje a sensação dos arrepios de medo que eu sentia, e aquele nojento me intimidou a não contar aos meus pais, me fez ficar com medo de como eles reagiriam AO MEU ERRO! Com os anos eu fui esquecendo tudo isso, mas quando iniciei minha vida sexual as lembranças voltaram e eu entendi que tinha sido abusada - Nesse momento minha visão já estava turva pelas lágrimas não tinham caído ainda, e eu queria matar alguém, ela era só uma menina porra como alguém teve coragem de tocá-la assim? Então, eu lembrei de nós dois no sofá da minha casa mais cedo, da minha mão e de como ela reagiu a tudo, merda eu era um filho da puta
- Eu juro que não fazia a menor ideia de tudo isso, se eu soubesse jamais teria encostado em você daquela maneira, me desculpa Ária me desculpa - Agora eu já chorava junto com ela, querendo voltar no tempo e matar aquele homem logo quando ele nasceu, ou poder passar um pouco da dor dela pra mim, estava odiando ver o quando sofria com tudo. E então o Lucca, meu Deus, é por isso que ele protege tanto ela? Ele deve se culpar tanto por não ter impedido mesmo que fosse impossível - Então é por isso que o Lucca te protege tanto? E eu quebrei a confiança dele! Me desculpa Ária!
- Não! O Lucca não sabe! - O que? - Somente meus pais e irmãos sabem o que aconteceu, não existem provas físicas que condenem ele, então seria só minhas memórias contra a palavra dele. Eu preferi que nós somente cortássemos relações com ele e sua família, mas fiz questão de que soubesse que eu tinha consciência do que ele fez e que se soubesse de mais vítimas eu faria justiça! - Mas ele... - Matheus, a justiça é dessa maneira por um motivo, ela impede muitas injustiças mas algumas vezes não tem como escapar
- Se eu pudesse, mataria esse cara
- Obrigada - fungou- Mas agora eu queria outra ajuda sua ...
- Claro Ária, eu te ajudo em qualquer coisa - Prometi de maneira firme, eu ajudaria ela, tudo para diminuir a dor que sente

- Depois que eu tive consciência do que aconteceu, não consigo me relacionar com um homem fisicamente, eu sinto tesão, mas eu quando alguém me encosta onde ele me tocava, eu paraliso, e todo o desejo se esvai, só ficam as lembranças do seu toque. Eu até tive um namorado, mas nunca consegui sentir prazer com ele, eu acho que nem sei o que é sentir prazer

- E como você quer ajuda nisso?

Aria

Eu definitivamente não sabia como continuar esse assunto, e nesse momento o álcool que me encorajou a chegar aqui evaporou do meu corpo e a coragem se foi junto com ele

Eu queria superar esse trauma, queria poder transar com alguém sem aquele sentimento de que algo foi tirado de mim. Mas infelizmente não sabia como abordar esse assunto com um cara 12 anos mais velho que eu

- Eu queria saber... - começo mas não sei se tenho coragem de completar a frase - Queria saber se você me ajuda a esquecer esse trauma? Quero poder me relacionar sexualmente com um homem sem me sentir violentada... Eu não aguento mais isso Matheus eu quero ser normal!

Deixei todas as lágrimas rolarem pelo meu rosto e me escondi com as mãos, sentia vergonha de falar isso com alguém que nem era próximo de mim, acho que ele deve me achar ridícula

- Aria eu não posso fazer isso, me desculpa mas você é praticamente irmã do meu melhor amigo, e é 12 anos mais nova que eu, você acabou de entrar na vida adulta e sinceramente eu não sei se sou a pessoa certa para ajudar você nisso - De certa maneira já sabia que escutaria isso, mas ouvir cada palavra foi muito pior.

Eu tinha consciência de que essa é uma batalha minha, mas eu já não consigo vencê-la sem a ajuda de alguém

- Me desculpa Matheus - Falo enquanto me levanto de sua cama - Eu não deveria ter envolvido você nisso, não é um problema seu e eu nem sei porque falei tudo isso. Me desculpa de verdade eu preciso lidar sozinha com esse problema - Não consigo olhar em seu rosto enquanto falo tudo isso, de tanta vergonha que sinto

- Aria espera, você não tem que sentir vergonha, e isso não é um problema - Sinto sua mão me alcançar de forma fraca e me desvencilho dele

- Não, isso é um problema enorme pra mim, eu enfrento ele todo dia, e sinceramente eu tô cansada dele. Eu sei que não tive culpa daquele infeliz ter colocado as mãos em mim enquanto ainda era uma criança, mas infelizmente ele fez e as marcas disso são um problemão pra mim, eu só quero me desvencilhar delas, só isso. Mas eu sei que a proposta que te fiz foi ridícula, peço desculpas e tô tão envergonhada por isso que você nem imagina. É só o grito de uma garota esgotada, que só quer experimentar a normalidade

Saio de seu quarto e me encaminho ao que foi destinado a mim, entro e tranco a porta, não quero que ele entre e tente conversar comigo

Deito na cama e começo a chorar, sinto uma dor tão grande no peito, não por ser "rejeitada" mas sim por ter que passar por essa situação, por ter sofrido nas mãos daquele cara, e agora ter que passar por essa situação

Meus pensamentos são invadidos por uma sensação de desespero, tudo passa tão rápido pela minha cabeça, parece que mil vozes estão falando ao mesmo tempo e eu não consigo me concentrar, por um momento esqueço como respira e meu pulmão parece não colaborar em seu trabalho, minhas mãos tremem meu corpo inteiro está tremendo e o único pensamento que fica é o questionamento de quando isso vai acabar, de como eu posso acabar com essa dor incessante no meu peito

Infelizmente nesse momento de solidão e angústia, meu corpo me trai e começo a pensar se não era melhor acabar com tudo isso, parece que eu nunca vou conseguir superar tudo isso e não aguento mais sofrer desse jeito, eu só queria que isso parasse, mas parece que nunca acaba

O melhor amigo do meu primo Onde histórias criam vida. Descubra agora